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Aura: periódico litterario e recreativo

por Maria Ione Caser da Costa

Publicado no Rio de Janeiro, com escritório, redação e tipografia localizados à rua São José 47, tudo indica que este periódico foi editado por pessoas integrantes do Liceu de Artes e Oficios - alunos e professores. Apresenta como editores os nomes de A. Lima, B. Fraga e Fragozo.


Na coleção existente na Biblioteca Nacional não existe o primeiro exemplar, apenas os de números 2 a 5, que foram editados no período compreendido entre 25 de setembro de 1881 e 18 de outubro do mesmo ano. Encontramos em suas páginas a informação de que se publica quatro vezes por mês, e  que “a collaboração é franca aos srs. assignantes”.


O exemplar de número 2 apresenta em seu editorial “um voto de louvor ao benemerito fundador do Lyceu de Artes e Officios”, o Senhor Comendador Francisco Joaquim Bittencourt da Silva, “distinctissimo brazileiro, cujo nome hade passar a mais remota posteridade, cercado de benções de todas as gerações”. Um arquiteto que difundiu o ensino das belas-artes, consagrando aos artesãos e operários, os princípios das ciências aplicadas às artes livres, proporcionando o desenvolvimento de uma sociedade industrial.


O expediente informa que as assinaturas são pagas adiantadas, ao preço de $300 a mensal e de $800 a trimestral. E também a notificação de que “os illustrissimos senhores que receberam o primeiro numero de nosso periódico e que tiveram a extrema delicadeza de não o devolver-nos, ficaram considerados seus assignantes”.


O exemplar de número 5 apresenta uma nota datada de 08 de outubro de 1881, onde se lê que:


a inauguração das aulas para as mulheres, no Lyceu de Artes e Officios, é um acontecimento digno das preocupações de todos os espíritos cultos.


Não é sómente sob o ponto de vista actual que merece ser considerado o grande facto polpusor da instrucção e educação da mulher brazileira.


Mais do que o presente está ali envolvido, o futuro da nossa sociedade.


A questão longo tempo debatida do grau de aptidão intellectual da mulher vai receber solução pratica. [...]


Por uma circustancia commum a todos os progressos humanos, essa transformação auxiliada desenvolvida pelos que se lhe siguirem no espaço e no tempo, sera também devida as cogitações e esforços de um só homem o Comendador Bittencourt da Silva!


Aura: periódico litterario e recreativo tem entre seus colaboradores: A. Epiphanio de Lima; B. A. Fraga; E. M. Ribeiro; Julio Jamim; L. J. Vasconcellos; L. P. Carvalho; Marcos E. da Silva Amaral; Rosendo Muniz; Rodolpho C. Doria.


Em seu conteúdo encontra-se um folhetim denominado O homem ou as virtudes do sexo feminino, e as seções de Poesias, Acróstico, Charadas, Variedades, Publicações a pedido e Noticiário, onde são relacionados títulos de periódicos recebidos com respectivos comentários e agradecimentos, tais como: Expectador, Ventarola, Mascotte, O Gigante, Pigmêo e Aspirante. São periódicos que circularam na mesma época e que também estão arrolados no banco de dados, deste dossiê.


Para ilustrar apresentamos uma composição de L. P. Carvalho intitulada “Emília”, publicada no número 3.



Emília


Dae-me o teu bello sorriso
E do teu cabello a madeixa
Quero cantar o teu nome
Não posso… o peito não deixa…

Empresta-me a tua lyra
Quero soltar minha queixa
Mas ah! me é impossível
Não posso… o peito não deixa.

E triste ouvir alta noite
Da flauta a chorosa endeixa
Quero imitar o seu canto
Não… posso o peito não deixa.

 

E no exemplar de número 5, em página inteira, poema recitado por um aluno, como oferecimento ao “muito digno director” do Liceu.


 

POESIA


- Quem, de entre os benemeritos da Patria
A Causa da instrucção tanto elevou?
- Que, pobre de recursos, - glorioso,
Lyceu de Artes e Officios cimentou?

- Obreiro da sciencia, avantajou-se
Nas fórmas majestosa do talento,
E franco, patriota esclarecido,
Da idéa do porvir venceu o intento?!

Só Elle ! o egrégio artista, esperançoso,
Da causa da instrucção, louros colheu,
Da infancia feminil olhando o merito,
Aulas lhe instituio – a esforço seu!...

Saudando o vulto heroe de Bittencourt
Inteira a mocidade o eleva á gloria,
E ante os nobres feitos de seu gênio
Seu nome ha de falgir na vasta historia.

11 de outubro de 1881

A. Epiphanio de Lima

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