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Club Litterario: revista bi-mensal

por Maria Ione Caser da Costa
Club litterario foi uma revista lançada num domingo, dia 02 de abril de 1882, em Cuyabá, capital da antiga Província do Matto Grosso. O que hoje são as cidades brasileiras, foram inicialmente chamadas de Capitanias, e, após a Primeira Constituição do Império, em 25 de março de 1824, receberam a denominação de Província.

A atividade cultural na Província de Mato Grosso se intensificou após o término do conflito com o Paraguai, que durou do final do ano de 1864 até início de 1870. Foram criadas algumas associações culturais, que, para se tornarem conhecidas e divulgar a cultura, editavam suas próprias publicações periódicas.

Assim surgiu o Club litterario. A instalação da sociedade ‘Club Litterario’ se deu no dia 14 de março de 1882. Editam uma publicação com o mesmo nome da sociedade, se colocando na linha dos jornais literários.

A iniciativa para a criação do 'Club Litterario' contou com o apoio do presidente da Província, o Coronel José Maria de Alencastro. A primeira diretoria foi constituída por Antonio Neri, Thomé Ribeiro de Siqueira (1854?-1937)[*], Luiz Teodoro Monteiro, Jerônimo Gomes Monteiro de Macerata e Felipe de Campos Camacho.

Editado pela Typographia da Provincia de Matto-Grosso, sua periodicidade foi denominada como bimensal (ou quinzenal). Essa informação colocada logo abaixo do título, na primeira página do periódico, designa o subtítulo.  Logo abaixo do título as informações referentes ao valor das assinaturas e nomes dos responsáveis pela redação.

Os valores da assinatura mensal do Club litteraio diferenciavam entre a capital e a Província. Para a capital valia 1$000, enquanto que fora dela o valor era de 1$500.

Os responsáveis pela comissão de redação foram Thomé Ribeiro de Siqueira, Antonio Vieira Nery e Padre José Felix Bandeira.

O primeiro número teve uma tiragem de 250 exemplares. Na Biblioteca Nacional só existe esse exemplar, que pode ser consultado através da Hemeroteca Digital. As pesquisas não confirmaram a existência de outros números.

Comparando a publicação em questão com uma preciosa "pepita", o editor que assina T. Ribeiro, escreve um longo editorial onde explica o árduo caminho que pretendem, os responsáveis pela obra, trilhar.
Confiamos hoje á apreciação publica as primícias do Club Litterario, emblêma de múltiplas forças servindo de motores à um só fim – o engrandecimento da pátria.

Matto Grosso, que tem por divan um rico e ubérrimo sólo; que se atavia com as louçanias de luxuriantes mattas; que se refrigèra com a irrigação de soberbos e piscosos rios; que se ufana com o renome de muitos filhos distinctos, jàz, entretanto, na mais condemnavel obscuridade e tristissimavergonha quanto á certos feitos gloriosos e importantes, que pertencem exclusivamente ao domínio de sua historia!

Para derrocar essa barreira que se levanta entre o passado e o presente; por outra, entre o que foi e o que é, a mocidade cuyabana concêntra suas debeis forças para extrahir do minério dos tempos essas preciosas pepitas que constituirão a opulencia moral d’esse torrão, -  uma das glorias futuras do império sul-americano.

Eis o principal objetivo do Club Litterario, de cujos trabalhos é porta-voz a presente Revista.

Como complemento d’este desideratum, propõe ella consagrar-se também á literatura, fóco das luzes de que o nosso seculo, já recebeu o baptismo.

Nós, fracos athlétas e pygmêus nas letras, não poderemos dirigir cabalmente esta cruzada augusta, que tem por fim reivindicar os direitos pátrios, escalando as muralhas da ignorância.

Só assim desapparecerá para sempre esse negro phantasma que paira desapiedado sobre o pollyssilabo matto-grosso!....

E como não ha de ser assim, si o estrangeiro ou o proprio brazileiro, natural de outra província, apenas conhecem – n’o imperfeitamente, só pelo ligeiro apontamento chamado estatística?!

Nas páginas da revista não serão publicados assuntos de ordem política nem pessoal, como afirma T. Ribeiro, avisando também que todos que desejarem colaborar "n'uma empresa de que só temos a iniciativa, sendo commum á todos", receberão os sinceros agradecimentos.

Na sequência ao editorial são publicados os discursos proferidos no dia da instalação da sociedade 'Club Litterario', do padre José Felix Bandeira, de Antonio Vieira Nery e de Thomé Ribeiro de Siqueira, todos responsáveis pela publicação.

Este primeiro número publica ainda uma crônica assinada por A.N. e encerra com nota dos editores que se congratulam pelo êxito dos trabalhos realizados. Com oito páginas foi impresso em duas colunas separadas por um fio simples, não é ilustrado.



[*] Para mais informações sobre o editor que assina o editorial como T. Ribeiro consultar https://app.uff.br/riuff/bitstream/handle/1/15886/2017%20Tese%20Paulo%20S%E9rgio%20Dutra.pdf;jsessionid=09FB8DE963AF66CC37CC54800CE7EC9C?sequence=1

 

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