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Exercicios literários do Club Scientifico

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico Exercicios literários do Club Scientifico foi lançado em agosto de 1859 na então Província de São Paulo sendo impresso pela Typographia Dous de Dezembro de A. L. Antunes, que estava situada na rua das Flores 35. Antonio Louzada Antunes arrendou a tipografia em 1851, mantendo-a em atividade até 1860.

Da coleção dos Exercicios literários do Club Scientifico foram editados somente três números e os mesmos estão preservados na Biblioteca Nacional. Além do primeiro, citado acima, os segundo e terceiro exemplares, foram publicados nos meses de setembro e outubro de 1859.

Seu formato mede 20cm x 13cm. A numeração das páginas foi sequencial, sendo que cada um dos fascículos apresentou um número diferente de páginas. O primeiro com 20 páginas, o segundo com 24, e o terceiro com 38 páginas. A publicação foi diagramada em uma única coluna, como os livros, e não apresentou qualquer ilustração.

O valor da assinatura trimestral era de 2$000 rs., e deveria ser adquirida na casa do 1º Secretario, sr. José Ignacio de Macedo, na rua do Imperador nº14.

O editorial, assinado por “Da redacção”, define os motivos da criação dos Exercicios literários pela Associação Club Scientifico:

 
Quando os gregos quizerão possuir em sua terra um exercito que soubesse defender a patria, a primeira cousa de que se lembrarão seus sabios legisladores foi a de educar a mocidade desde o berço. Os jogos infantis, o exercicio da lucta, a gymnastica, preparavão seus corpos a suportar todos os rigores da guerra, de sorte que a victoria ordinariamente caminhava com os seus exercitos.

Nada ha de perfeito na vida do homem se por ventura não começa na mocidade.

É esta rasão pela qual emprehendemos hoje a publicação deste jornal.

Sabemos que os trabalhos que ahi offerecemos ao publico são ensaios imperfeitos, mas sabemos também que são a condição necessaria do aperfeiçoamento. Todos os grandes escritores começarão assim: antes que Schiller ou Goeth apresentassem ao mundo litterario os primores d’arte com que o assombrarão tactearão muito tempo, e errarão por muitos annos. Se isto aconteceo com genios deve tambem acontecer e por maior força de rasão com os que o não são. [...]

Hão de apparecer criticas; - não importa. Si justas e severas – acceital-as-hemos: si injustas e detractoras, - voltarão mais tarde á seus donos os ridículos, que sobre nós attirarem. [...]

Longe de nós o desanimo! Que o spirito rotineiro e invejoso, - que essa multidão de seres anonymos, que nos cercão, lance-nos as suas aggressões: - deixal-a-hemos, mordendo-se de inveja, - morrer na ignorancia e no esquecimento, - e iremos buscar um juiz na unica opinião competente, - a opinião publica.

Na década de 1850 aconteceu uma propagação de agremiações literárias no estado de São Paulo, todas ligadas aos meios acadêmicos, e, como produção cultural, a publicação de periódicos.

A associação Club Scientifico, que produziu os Exercicios literários, foi criada no dia 25 de julho de 1858 por “alguns moços enthusiastas, cheios de fé e esperança” para advogar a “causa das lettras”. Teve como presidente honorário José Vieira Couto de Magalhães (1837-1898) e João Carlos de Araujo Moreira como presidente efetivo que foi, em julho do ano seguinte, substituído por Braulio Augusto de Oliveira. O 1º secretário foi José Ignacio de Macedo Pombo.

As pesquisas apontam que em 1865 fazia parte da diretoria do "Club Scientifico" o estudante José Maria da Silva Paranhos Junior (1845-1912), que posteriormente seria conhecido como Barão do Rio Branco.

Além dos nomes citados anteriormente, colaboraram também nos Exercicios literários, Americo Lobo (1841-1903), Antonio Gonçalves Chaves Junior (1840-1911), Baptista Pinto, João Soares, José Ignacio de Macedo Pombo, Luiz Pereira Barretto, Martim Pereira e Theodomiro Alves Pereira (1840-1911).

Vários são os poemas publicados nos Exercícios literários. De um modo geral, são citados no contexto dos temas propostos pela publicação. Destacamos, a seguir um excerto da poesia “Canção do exílio” de Gonçalves Dias, publicado no primeiro exemplar, em ensaio assinado por João Carlos de Araujo Moreira, com o título “Ligeiras considerações sobre a litteratura pátria”. Vale a leitura do artigo em questão.

 
Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá,

As aves que aqui gorgeião,

Não gorgeião como lá.

 

Nosso ceo tem mais estrellas,

Nossas varzeas tem mais flores,

Nossos bosques tem mais vida,

Nossa vida mais amores.

 

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