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Florilegio da mocidade: órgão litterario, poético e recreativo

por Maria Ione Caser da Costa
Florilegio da mocidade: órgão litterario, poético e recreativo foi lançado em 18 de junho de 1879, na cidade de Campos dos Goytacazes, que pertencia à província do Rio de Janeiro. Seus redatores se descreviam como “uma sociedade anonyma de estudantes”, e os colaboradores se intitulavam como “a mesma e todas as intelligencias que a isto se prestarem”.

Nos oitocentos, era prática comum entre alunos das instituições de ensino, aproveitando-se do desenvolvimento e da expansão da produção impressa, a união de estudantes de uma ou de várias instituições para também publicarem seus periódicos. Com isso pretendiam instruir a mocidade e a juventude, através das crônicas, poesias e matérias que publicavam em seus periódicos. Desta forma iam se inserindo no círculo dos letrados da época.

Num longo editorial, os editores, que não se identificavam nominalmente, explicavam suas intenções:

 
Jovens estudantes, não acostumados ás lides jornalisticas, e confiados em nossas debeis forças, emprehendemos a publicação d’esse periódico. Sim, debeis forças, porque somos apenas estudantes de preparatorios, e não dispomos de conhecimentos além dos que diariamente nos são ensinados pelos nossos professores; e os poucos que adquirimos por falta de cultivos são comparados a um diamante não lapidado. Conhecemos que o prospecto do Florilegio da Mocidade é superior ás nossas forças; mas como acabamos de expor, somos jovens, - e a mocidade é arrojada, - demais: audaces fortuna juvat timidos-que-repellit. Com a nossa força de vontade, empenho, dedicação e esforços, esperamos, se não conseguirmos corresponder, ao prospecto do Florilegio, ao menos agradar aos nossos assignantes. [...]

Todo homem, verdadeiramente amante do progresso da instrucção deve acoroçoar-nos, auxiliando-nos com as suas assignaturas, cujas contribuições sendo tão modicas, mostra que sómente desejamos manter este periódico para mais desenvolver a esphera de nossos conhecimentos. Sendo o Florilegio sómente dedicado ao progresso da instrucção adoptamos como programma: conservarmos alheio ás questões politicas quer do paiz, que da localidade; porquanto compreendemos como verdadeiro patriota, o letrado, o artista, o lavrador e o comerciante quando desempenhão criteriosamente as suas obrigações.

Na Biblioteca Nacional podem ser consulados os seis primeiros exemplares, tendo o número seis, sido publicado em 22 de agosto de 1879.

Várias foram as tipografias responsáveis pela impressão de Florilegio da mocidade. Os números 1, 2 e 3 foram impressos pela Typographia do Monitor Campista, que estava situada na rua do Rosario, 161. O quarto exemplar saiu pelo maquinário da Typographia do Regenerador. A Typographia Campista imprimiu o número 5 e a Typographia da Gazeta da Tarde, situada na rua Direita, nº 9, foi a responsável pela impressão do sexto exemplar.

Uma nota ao pé da página do quinto exemplar, assinada por Francisco da Costa Sobrinho, solicitava a colaboração das pessoas que pudessem fazer doação de livros ou jornais. Aqueles que o fizessem estariam colaborando com a manutenção da Biblioteca do Clube Literário Campista.

Publicação semanal, foi diagramada em três colunas divididas por um fio simples, não apresentando qualquer ilustração. Cada fascículo foi composto por quatro páginas.

Algumas seções foram: Episódios históricos, Folhetim, Noticiário, Variedade e Seção livre. Os colaboradores que assinaram seus textos foram Alfredo Rocha, Francisco Lacerda, François Sobieski, Isidro Paulo, Lucrécia Collatina, M. Minucci, O. Monteiro, S. Brito e V. S. V.

Várias poesias são encontradas na páginas de Florilegio da mocidade. Dentre elas transcrevemos um excerto do poema Reminiscencias saudosas assinado por O. Monteiro, que escreveu em Tombos, MG, no dia 16 de abril de 1878.

 

Reminiscencias saudosas

Já vinte e tres primaveras,

Contadas em minha vida.

Oh! É triste a realidade!

Ao lembrar daquellas eras,

Quando inda era pequeno;

E dos anos no arrebol;

A vida era um mar sereno

Os brinquedos o meu pharol.

 

Sómente eu tinha prazer,

Trepar altos arvoredos,

Roubar o ninho que á pender

A rôla tinha um segredo.

Armava laço tão ardil,

Incauta jurity cahia

Com que presteza infantil

Commentava minha alegria

 

Aquelles tempos ditosos

Forão depressa passados.

Os prazeres da infancia

Ficão-nos sempre, saudosos,

Formando-me adolescente,

Sonhei co’a felicidade;

Era creança, f’liz, e crente,

Não cria na realidade[*].

 

[*] Continue lendo em: http://memoria.bn.br/DocReader/232106/3

 

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