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Forum litterario

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico Forum litterario foi editado pela Typographia Imparcial de J. R. de A. Marques, localizada na rua do Rosario, 49, em São Paulo. Seu primeiro número saiu em 20 de julho de 1861. Sua característica principal era publicar ensaios da literatura romântica, ressaltando o ideal da mocidade em prol da poesia contra os "homens practicos" que preferem os cálculos às poesias.

O cabeçalho de capa apresenta apenas o título e os nomes dos redatores. Ao pé de cada capa aparecem o número e a data de cada exemplar e a informação de que doze exemplares da publicação podiam ser adquiridos por 5$000, que seria, portanto, o valor da assinatura. Não há indicação de valor para venda avulsa.

Forum litterario é mais um periódico editado pelos estudantes da Escola de Direito de São Paulo. Teve como redatores Antonio Joaquim de Macedo Soares (1838-1905), Zoroastro Augusto Pamplona (1838-1872) e Americo Lobo Leite Pereira (1841-1903). Jovens acadêmicos que com suas penas elaboraram a execução de um novo periódico, o que possibilitava a divulgação dos trabalhos dos jovens editores. É menos famoso e menos conhecido que o Atheneo Paulistano, também integrante da coleção da Biblioteca Nacional.

São de Macedo Soares as palavras do primeiro editorial, na época, um jovem de 23 anos que já mostrava habilidades com as letras e narrativas.

Em nome da arte, salve!
Mais um contendor das lettras que desce do mundo das idealidades, e vem por ahi afóra acotovelando rudemente a raça dos agiotas, a aristocracia da burra, a maior inimiga do pensamento quando o pensamento não é traduzivel em fórma metallica. [...]
Pois sim. O Forum Litterario será mais um grito do ideal da mocidade sonhadora contra as violações e profanações d’esses vândalos que surgem de baixo da terra como cogumelos e ousam gritar-nos ao ouvido: “Pobres rapazes” o que prova isso?”
Isso é a poesia...
Que atrevimento!
Como o forum romano, este pequenino é franqueado á todas as intelligencias. Quem se sentir com o fogo da idéa na fronte, venha: esse será benvindo. Para ele estão abertas as portas. É irmão, entre.
Sentados em roda do lar, ao crepitar do braseiro, contaremos os títulos de gloria da geração prezente, prantearemos a elegia dos finados ilustres, e os narradores terão a paga no osculo da fraternidade.
Todos nós cremos, e desgraçado do que não crê! Este pode ter alma, não tem a vitalidade que faz os varões. E todo o homem que se diz filho do progresso e apostolo da democracia, esse precisa ser varão.
Porque a ordem que é a consagração da liberdade, e a liberdade que é o oleo da lampada do espírito, precisam vir á lume, precisam ser realisadas nas manifestações do ideal da mocidade.
Venha, pois, todo aquelle que sentir queimar-lhe a fronte o fogo da idéa. Para esse bem-vindo temos inscripto no frontal do nosso templo:
EM NOME DA ARTE, SALVE!


Na Hemeroteca Digital podem ser encontrados os seis primeiros exemplares da publicação, sendo o último sido publicado em setembro de 1861. Bem cuidado e de solução gráfica simples, não tinha ilustrações. Cada exemplar possuía oito páginas diagramadas em duas colunas. As páginas recebem numeração continuada entre as várias edições.

Divididos entre o primeiro e o segundo exemplares, encontramos um ensaio escrito em abril de 1861, antes, portanto do aparecimento do periódico, onde Z. A. Pamplona prestou homenagem a Casemiro de Abreu (1839-1860), transcorridos alguns meses de seu falecimento.

Além dos poemas e ensaios dos três redatores e responsáveis pela publicação, são encontradas também colaborações de José Bonifacio, J. Cardoso de Menezes e Souza, J. J. Aubertin e Bruno Seabra.

Dentre os poemas encontrados nas páginas de Forum litterario, vai apresentado um de Americo Lobo, publicado no primeiro exemplar.

A Virgem pallida

Eu morria de amor, e a virgem pallida
Murmurava na praia mil canções:
- Do triste cerubim á voz melodia
Renascerão-me n’alma as illusões.

Como outrora formei, não melancholicas
Imagens sempre vans, - sonhos de dor:
Masum mundo gentil d’aonde tremulo
Eu sahira choroso – Adão de amor.

O horisonte era azul, o mar tão placido
Se embalando ao luar lambia a areia...
Sob as negras roupagens forma etherea
Trânsluzia de um anjo que pranteia...

Á chorar e á cantar! os olhos languidos
Perdidos pelo céo... mortal pallor
- Na fronte virginal coroa fúnebre,
Que as rozas da esperança murcha em flor.

Pude balbuciar: Irmã dos zephyros
Filha da melodia, anjo do mar –
Jamais deves morrer! Meos labios sofregos
A vida que se escoa vão te dar...

Compassiva me olhou, fez-se mais pallida,
Com a alvacenta mão mostrou-me o céo...
Um momento depois, ligeira sylphide,
Pelas oelas da praia se perdeo...

Eu morria de amor, e bellas, fulgidas,
Fugião-me de novo as illusões!
Eu morria de dor! De minhas pálpebras
As lagrimas cahião em borbotões...

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