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Gazetinha

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico Gazetinha surgiu no dia 29 de novembro de 1880, no Rio de Janeiro. Foi impresso pela Typographia da Gazetinha, que estava localizada na rua de São José, número 44, local onde também funcionava o escritório da publicação. Algum tempo depois o escritório se transfere para a rua do Rosário, nº 132.

Publicação diária, exceto aos domingos, era vendida pelas ruas da cidade e distribuída aos assinantes. O número avulso foi vendido por 20 réis. As assinaturas tinham valores diferenciados para a corte e para as províncias. Na primeira, a mensal valia $600, a semestral, 3$000 e a anual tinha o valor de 6$000.  Nas províncias as assinaturas eram somente semestral, por 4$000 ou anual, por 8$000.

Costumeiramente, ao lançar um periódico novo, os responsáveis descrevem nos editoriais o programa e os caminhos que pretendem traçar com a nova publicação. Desta forma se apresentam e se fazem conhecer, prática bastante utilizada nos séculos XIX e XX. Muito comum encontrar nesses artigos, longos textos que discorrem sobre as dificuldades e apreensões vivenciadas durante o processo de criação do novo título. A Gazetinha, entretanto, fugiu à regra. Seu primeiro exemplar, que foi distribuído gratuitamente, teve como editorial de lançamento, com o título “Programma” somente um pedido.  Eis o texto: “O leitor, depois de haver percorrido as dezesete columnas d’este modesto periodico, fará o programma, poupando-nos assim o dificillimo trabalho de um artigo de apresentação.”

Pesquisas na web apontam que Gazetinha foi fundada por Arthur Azevedo (1855-1908) e Aníbal Falcão (1859-1900), apesar de seus nomes não aparecerem como editores. Arthur Azevedo utilizava as páginas de Gazetinha para promover a abolição da escravatura, partilhando que era favorável a uma sociedade sem escravos.

O nome da publicação é atrelado ao periódico A Gazeta de Noticias, de Ferreira de Araújo (1848-1900), que começou a circular em 1875.

Na redação de Gazetinha, estava também Fontoura Xavier (1856-1922), Urbano Duarte (1855-1902), Aloísio Azevedo (1857-1913), Machado de Assis (1839-1908, que também utilizou o pseudônimo de Giovani), Gonzaga Duque (1863-1911), Lopes Trovão (1848-1925), José do Patrocínio (1853-1905), Dermeval da Fonseca (1852-1914, que utilizava também o pseudônimo de Confucio), Carvalho Junior, Arthur de Oliveira (1851-1882), Lucio de Mendonça (1854-1909), Teófilo Dias (1854-1889), Salustiano Sebrão, e Adelino Fontoura (1859-1884).

Medindo 33cm x 23 cm, a publicação literária Gazetinha foi composta com quatro páginas, cada uma diagramada em quatro colunas, separadas por um fio simples. Publicou notícias ligadas ao teatro, anedotas, notícias da vida mundana, folhetins e notícias da cidade. Um dos títulos publicados como folhetim foi o romance de crime, de Aluisio de Azevedo, Memorias de um condenado, que esteve no rodapé da publicação entre janeiro e julho de 1882. Gazetinha circulou até 15 de abril de 1883.

Uma das colunas que se manteve no periódico literário, durante praticamente toda sua existência foi a coluna “Um soneto por dia”. E é o soneto de Alvares de Azevedo (1831-1852), publicado no dia 6 de fevereiro de 1881, que destacamos a seguir.

Pallida á luz da lampada sombria,

Sobre o leito de flôres reclinada,

Como a lua por noite embalsamada,

Entre as nuvens do amor ella dormia!

 

Era a virgem do mar na escuma fria

Pela maré das aguas embalada,

Era um anjo entre nuvens d'alvorada

Que em sonhos se emballava e se esquecia!

 

Era a mais bella! Ao seios palpitando,

Negros olhos as palpebras abrindo,

Fórmas núas no leito resvalando!...

 

- Não te rias de mim, meu anjo lindo!

Por ti as noites eu velei chorando,

Por ti nos sonhos morrerei sorrindo!

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