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Nova cruzada

por Maria Ione Caser da Costa
Nova cruzada publicou seu primeiro exemplar em maio de 1901, quando o século XX despontava com inovações e transformações. Lançada na capital baiana, então chamada de São Salvador, foi editada pela Imprensa Moderna de Prudencio de Carvalho, que estava situada à rua S. Francisco, 29.

A revista Nova Cruzada foi idealizada para divulgar os trabalhos da recém-criada Associação Nova Cruzada, uma agremiação literária de inspiração simbolista, e circulou até dezembro de 1910.

Inicialmente medindo 23cm x 31cm, os exemplares de Nova cruzada tiveram variações no tamanho e no número de páginas. A publicação foi diagramada em uma coluna, apresentando ilustrações, arabescos, fotos e cercaduras floridas.

A Biblioteca Nacional não possui a coleção completa desse título. Apenas cinco exemplares. De acordo com nossas pesquisas Nova cruzada publicou um total de 29 números.

Os fascículos existentes no acervo da BN ainda não foram digitalizados, portanto só podem ser consultados de maneira presencial, na Coordenadoria de Publicações Seriadas, local do armazenamento e guarda.

Além do primeiro número, descriminado acima, também podem ser consultados o número 6 (que está sem capa), publicado em outubro de 1901, os números 5 e 6 do ano de 1909 e o número 7, publicado em dezembro de 1910, último exemplar da coleção.

Conforme informação colocada na última página do último exemplar, os fascículos formaram volumes. Os que pertencem ao primeiro volume circularam de maio a novembro de 1901. Foram nove exemplares, totalizando 176 páginas. Os oito primeiros com 20 páginas cada, e o número 9 com dezesseis. Nesses exemplares a paginação foi sequencial.

O segundo volume foi composto por 13 exemplares correspondendo ao período de julho de 1903 a dezembro de 1906, perfazendo um total de 184 páginas. Nenhum desses existe na BN. O terceiro e último volume correspondeu ao período de setembro de 1907 a dezembro de 1910, com sete números e uma edição especial dedicada a Castro Alves. Os três últimos exemplares da coleção podem ser consultados na BN.

Nova cruzada teve como presidente Ambrósio Gomes. O exemplar publicado em junho de 1909 foi quase todo dedicado a ele, pois sua morte ocorrera em 9 de setembro de 1908. O vice-presidente era Silva Coelho. Armando Lopes e Filemon de Menezes eram os secretários. Como tesoureiro estava Silva Campos.

Além destes, faziam parte do corpo editorial da revista Arthur de Salles (1852-1952), que, em 1917 foi membro fundador da Academia de Letras da Bahia, Augusto Chaves, Firmino Pereira, Francisco Mangabeira (1879-1904), F. Ribeiro, Jonas da Silva, José Barretto, Moysés d’Oliveira, Eulychio Campos, Raphael Leal, Roberto Correia, Souza Dantas, Pereira Reis e Souza Pinto. Todos eram conhecidos como neocruzados por fazerem parte da agremiação literária Nova Cruzada.

Com o título “Para a guerra”, Galdino de Castro (1882-1939) escreve o editorial de lançamento. Com a primazia dos poetas, traça um percurso que os responsáveis e colaboradores da Nova Cruzada pretendiam percorrer ao ingressarem no mundo das letras.
Em pleno Maio!

Desabrocham nos pallios auriverdes das campinas lírios, camélias e violetas...

Nas franças das arvores de aloirados pomos, agitam azas, estalam beijos...

Borboletas aos pares, flaflando, flaflando, demandam vergeis. Corregos de prata deslisam mansamente e gargantas argentinas de gaturamos clarinam, emquanto das abóbodas azues do firmamento, o Sol desfralda o pavilhão resplendente, lantejoulando, tudo, campos, montanhas e águas.

Por toda a parte aroma e luz, canções e cores, poesia e amor!

Ao longe clangoram fangarras – signal de guerra.

Flammulas erguidas nos pontaes das lanças tremulam embaladas pelas auras matutinas.

Capacetes encimados de azulinas plumas reluzem á gloria do Sol!

São os Paladinos da Ideia, que vão terçar armas pela sai Dama! É a Nova Cruzada que parte para a guerra, com grande pasmo da burguesia estúpida e selvagem – adoradora do beserro de oiro – que applaude insensatamente ao truão politiqueiro emquanto passa esquecido, como cerebro a arder em idéias geniaes, o mancebo pallido, desfeito pelas longas vigílias consagradas ao estudo, na placidez de sua alcova! [...]

Seguem descortinando os augúrios e mortificações dos que se denominavam “legionários d’Arte, cavalleiros do Sonho”. Buscavam a união fraternal.
E que nem um só da phalange, no meio da jornada, tombe desanimado, vencido, pois quando, numa apotheose de luz e som, transpusermos triumphalmente os pórticos doirados da Palestina Ideal, teremos como premio as amarguras as angustias aos dissabores, às innumeras provações soffridas na expedição, as magestosas grinaldas dos loureiros, que lá pompeiam somente para as frotes dos luctadores e dos martyres!

Tudo pela Arte!

MDCDI – Pela primeira alvorada de Maio.

Dentre os vários poemas publicados nas páginas de Nova cruzada, destacamos um de Pereira Reis, publicado na página 116 do número 6.

 

Nunca

Qual o dia em que meus olhos

Fitando os teus docemente,

Não sentirão os fulgores

Do teu olhar resplandente?

 

Qual por misera sorte

Cerral-os a fria morte.

 

Qual o dia em que juntinhos

Não teremos apertadas

A’s minhas as tuas mãos

Setineas e delicadas?

 

Quando frias, regeladas,

Sobre o peito amortalhadas

 

Qual o dia em que de amores

No meu peito deixarão

De por ti vibrar as fortes

Pancadas o coração?

 

Quando por misera sorte

Fizel-o parar a morte.

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