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Novidade: semanario illustrado

por Maria Ione Caser da Costa
Lançado em Maceió, capital do estado de Alagoas, em 11 de abril de 1931 o semanário ilustrado Novidade, foi um periódico ávido por renovação política e cultural. Estava sob a direção de Alberto Passos Guimarães (1908-1993) e Valdemar Cavalcanti (1912-1982), que foram também os fundadores.

De acordo com informação impressa, seus responsáveis aceitavam colaborações que fossem “absolutamente inéditas”, e as mesmas deveriam ser endereçadas para a rua Barão de Atalaia, 33. Novidade, foi “composta e impressa nas oficinas typographicas da Livraria Villas Boas”.

Cavalcanti e Guimarães, se alternavam na produção dos editoriais. O primeiro ficou a cargo de Valdemar Cavalcanti. Com o título “Cartão de visita”, explica o motivo do surgimento de Novidade.
Sobre essa geração de hoje – uma geração de vinte annos desencantados – sobre a nova geração intellectual de Alagoas recae agora a responsabilidade de commetter loucuras. De affirmar-se, de ter convicções. É preciso abafar o platonismo com que poderíamos ficar tecendo sonhos côr-de-rosa, em detrimento das realidades da vida. Si é grande a ancia de novos ideaes, maior deve ser o esforço pela sua conquista. A mocidade carece não somente de olhar a vida, mas viver a vida. Principalmente viver a vida. Porém com esse tradicional commodismo de attitudes e esse romantismo mollengo da herança ethnica, é que não podemos entrar em luta pelos ideaes. Só si, encarando as coisas por outro lado, levarmos em conta os ideaes de burocracia e de casamento.

A outra geração já vae longe da nossa. Ella acreditava em milagres estilísticos de Alencar e Chateaubriand. [...] Olhava a vida com o mesmo doloroso monoculo anatoliano de ironia, de amavel descrença. Uma geração para quem Darwin existiu.

A nossa tem um destino a cumprir: vencer primeiramente os erros da outra e passar adiante; como no programma de Psichari, apurar os defeitos e as virtudes de nossos paes, buscando no exemplo do passado aquellas como que marcas de passos que Nabuco dizia ser dever dos bons paes deixarem pela vida para orientar os filhos. [...]

De uma reflexão assim sobre a situação dessa gente moça, [...] foi que Novidade nasceu. [...]

Novidade quer controlar os esforços dispersivos desses moços que entre nós começam a evadir-se das cendemnações do meio. O que não quer dizer que se affastará dos mais velhos. Antes procurará ouvir-lhe a voz. Mesmo que ella não combine com o rythmo desordenado da mocidade – um rythmo desordenado resultante dessa nossa nervosa procura de ordem. O que vale é que essa voz não seja somente uma cantiga sem o puro interesse das idéas.

Assim, Novidade vem preencher uma lacuna em a ... etc. etc. Por aqui é que ia começar o artigo de fundo.

Tentar combater o comodismo dos jovens intelectuais alagoanos, para que assumissem uma atitude crítica da realidade que estavam vivendo, não permitindo que fossem abafados os seus “gritos de idealismo”, eis o tema central do editorial.

Semanário cultural e político, a Novidade publicou 24 números, cada um deles com dezesseis páginas. As páginas foram diagramadas em três colunas, separadas por um fio simples. O último fascículo da coleção saiu em 26 de setembro de 1931. Todos podem ser consultados na Hemeroteca Digital.

Publicação ilustrada, contendo xilogravuras de Lourenço Peixoto, José Cavalcante, e Luiz Silva. O número avulso de Novidade foi vendido por 400 réis. As assinaturas semestrais e anuais valiam 10$000 ou 18$000 respectivamente.

Nas páginas de Novidade, Graciliano Ramos (1892-1953) publicou um capítulo de seu primeiro romance, que seria lançado como livro dois anos depois, “Caetés”, além de algumas crônicas.  Jorge de Lima (1853-1953) escreveu para a revista os artigos “Nota religiosa” e “Padre Feijó. De Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989), pode ser citado como contribuição os poemas “Noite” e “Silêncio”. O pintor Santa Rosa Júnior (1909-1956) escreveu os poemas “Momento”, “Memória” e “Bucólico”.

Também se destacam entre os colaboradores da revista, o poeta e ensaísta Aloísio Branco (Aloísio Machado Bezerra, 1909-1937), o contista e poeta Carlos Paurílio (1904-1941), o cientista social Manuel Diégues Júnior (1912-1991), o folclorista Théo Brandão (1907-1981), o poeta e cronista Willy Lewin (1908-1971) e o cronista Raul Lima (1911-1985).

Além dos citados acima, mas não menos importantes, também colaboraram para a Novidade dentre outros:  Alberto Passos Guimarães (1909-1993), o acadêmico Álvaro Lins (1912-1970), Diégues Júnior (1912-1991), José Lins do Rego (1901-1957) e Murilo Mendes (1901-1975). Valdemar Cavalcanti também publicou vários artigos sob pseudônimos. Selecionamos o poema “Domingo” de Manoel Maia Junior, que, de acordo com as pesquisas, o poeta faleceu jovem, em 1927, quando ainda cursava Direito, no Rio de Janeiro.

 

Domingo

A calma da subúrbio [sic]

 

Janellas abertas. O vento

invade o aposento somnolento

onde os papeis soltos se vão

pelo ar... pelo chão...

 

A velha biblia, adormecida em minhas mãos se move

para o outro lado, e adormecida continúa

dentro da capa negra que a envolve.

 

Encho os olhos de azul. E tenho nalma

a calma do suburbio.

 

Um silencio...

Ouço uma voz distante...

Como uma nuvem branca, ao longe, passa

evocativo, o enterro de uma criança...

[1] http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=721158&pagfis=1

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