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O Amor-perfeito: jornal critico, jocoso e instructivo

por Maria Ione Caser da Costa
O Amor-Perfeito, periódico que se apresenta com o subtítulo de jornal critico jocoso e instructivo, teve seu primeiro número lançado no dia 7 de outubro de 1849, no Rio de Janeiro. Foi impresso pelas máquinas da Typographia Classica de F. A. de Almeida, que estava situada na rua da Valla, nº 141, atualmente rua Uruguaiana.

Semanário publicado sempre aos domingos, informou, no longo editorial de lançamento, que em suas páginas os leitores poderiam encontrar uma variedade de assuntos, desde o “alegre e prazenteiro”, o “murcho e sentimental”, o “critico e picante, e até mesmo o “espinhoso e eriçado”. Informou também que em relação ao seu público-alvo, “será sempre modesto e attencioso para com o – Bello-Sexo.” Eis um excerto do editorial:

 
Eis-nos trilhando a senda do jornalismo!.... Eis-nos fazendo gemer os prélos, e já suppondo que temos uma reputação collossal, um nome illustre nos annaes das Lettras!....  Eis que encetamos a viagem n’essa vereda tão semeada de espinhos, tão cheia de rodeios e precipicios, e tão diffícil de caminhar! ...

A imprensa periódica é um mar perigoso, em o qual a cada momento, se encontram mil syrtes, e innumeraveis cachopos naufragosos, onde o palinuro, por mais experiente, que seja, vê-se muitas vezes em risco de naufragar!...  E quantas outras, mau grado preze a vida sempre chara, não encontra elle a morte nesse pelago insondavel?!...  Mas, que valem reflexões, quando um ente racional intenta uma empreza, e jura leval-a ao cabo, por mais arriscada, e difficultosa que seja? [...]

Demos ao nosso pequeno esquife... (não se assustem que não é de conduzir mortos) o engraçado nome de – AMOR-PERFEITO -. Nem s’espantem; porque, segundo a grammatica, a qual, se nos não enganamos, deve ser conhecida dos nossos leitores, - o nome é uma voz com que se dão a conhecer as cousas -; isto é: - boas e más, - não podendo influir, por consequencia, nas qualidades ou attributos das pessoas ou cousas. [...]

Em conclusão: - se para alguns fôrmos – silva espinhosa, - para a maior parte contamos que havemos de ser sempre – AMOR-PERFEITO,

Na Hemeroteca Digital podem ser consultados nove, dos dez primeiros fascículos editados. O número 9 não consta na coleção. Foram três meses de publicação continuada, tendo o décimo número vindo a público no dia 9 de dezembro daquele ano.

Todos os exemplares possuem 8 páginas, cada uma diagramada em duas colunas, separadas por um fio simples e emolduradas por cercaduras com motivos florais, delimitando o espaço.

Os colaboradores que assinam os textos são Antonio Cezar Berredo, Floriano Alves da Costa, Frederico José Corrêa (1817-1881), J. A. Ferreira da Cunha, J. B. da Cunha, Luiz da Cunha e Cruz, Maciel Monteiro, e alguém que se utilizou do anonimato e utilizou o pseudônimo de O Montanhez.

Seguindo a linha proposta pelo subtítulo, destacamos um exemplo de pilhéria dirigida aos concorrentes, na seção “Revista da semana” do dia 21 de outubro, em artigo assinado por “O Montanhez”.

Até hoje nada tem apparecido nos jornaes d’esta côrte que mereça extractar-se com utilidade para os leitores do AMOR-PERFEITO. O Jornal do Commercio, apezar do seu tamanho e largura, contenta-se e continúa a encher se com os seus – roga-se, aluga-se, precisa-se, etc., e faz bem .... O Mercantil, por este lado é mais pobre, porêm sempre rico em polemica, linguagem e estylo, menos nos folhetins, que affogam os leitores entre vagalhões de sensaboria. O Liberal e o Correio da Tarde continúam empregando todas as forças para sustentarem o numero de seus assignantes.

Continua ainda o artigo, mencionando críticas aos periódicos A Marmota e O Artista, chegando ao Teatro de S. Pedro d’Alcantara, comparando-o a um “museu de numismática”.

Amor-perfeito publicou artigos diversos, crônicas, poemas e charadas. A seguir o poema “A Minha amada” de Floriano Alves da Costa, que foi publicado no número 10.

 

A Minha amada

O anjo divino que alenta meus dias

É doce e fagueiro no seu puro amôr,

Pois faz á minh’alma gozar venturosa

Da vida os effeitos em meigo fulgôr.

 

É cândida virgem de magnos encantos,

Seu rosto formoso a amar me induziu;

Seu rosto formoso ao meu terno peito

Mil dietas outorga quaes nunca fruíu!

 

Dotada de uma alma singela, amorosa,

A minha existencia feliz faz tornar;

Em seus niveos braços me dá os prazeres

Com que meus desgostos me vem adoçar!

 

E em paga de tanta ternura e amor

Contente eu lhe entrego o meu coração:

E ambos gozamos de amor as delicias

Gostando os extremos de tal união!...

 

É cândida virgem de magnos encantos

Aquella a quem amo com todo o ardor:

O anjo divino que alenta os meus dias

A posse só tem do meu terno amor!

 

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