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O Chrysantho: orgão dos alumnos do Colegio Allemao

por Maria Ione Caser da Costa
O Chrysantho: orgão dos alumnos do Colegio Allemao foi editado pela primeira vez no dia 17 de agosto de 1911, em Recife, capital pernambucana. Este é o único exemplar preservado na Biblioteca Nacional. Consultas efetuadas na web não encontraram continuidade do título.

O periódico foi impresso pela Typographia a Vapor de J. Agostinho Bezerra, localizada na rua 15 de Novembro, nº 31. Medindo 32cm x 23cm, com quatro páginas, foi diagramado em três colunas, separadas por um fio simples. Apresenta ilustrações.

O Collegio Allemão estava situado na estrada da Ponte d’Uchoa, nºs 49 e 51, “um dos arrabaldes mais saudaveis da cidade do Recife, em predios especialmente adaptados, dispondo de vasta área para jogos athleticos, banheiros e apparelhos sanitarios de primeira ordem, aposentos espaçosos e arejados, de acordo com os preceitos da hygiene escolar”. Foi um estabelecimento de instrução primária e secundária sob a direção do professor Paul Wolf, tendo iniciado seus trabalhos escolares no dia 10 de janeiro de 1911. Uma curiosidade: o jurista Pontes de Miranda (1892-1979) aprendeu alemão com o professor Paulo Wolf quando optou por estudar Direito em Recife.

Com o título “A nossa divisa”, segue um excerto do editorial assinado por Ruy Blas:
Ao desfraldarmos hoje no zimborio de nossas illusões, a bandeira tricolôr de nossas ideaes símbolo sacrossanto da trájectoria que havemos de palmilhar e nos ha de conduzir ao zodíaco radiante das lettras, não nos impellem os sentimentos aviltantes do mercantilismo sordido da epocha, que tudo conquista pelo som estardalhante das esterlinas fulvas, nem tambem a ambição estulta e irrisoria de vermos o nosso nome nos caracteres lúcidos das lettras de forma, traçando a escolta lavourada de palavras bonitas, quasi sempre desconexas, prenhe de sandicese sem o realismo sincero e positivo das cousas simples e verdadeiras, cuja eurythmia homogenia e axiomatica é a tunica roscicler da elegância plumejando a imagem elysea e tentadora da belleza. [...]

Segue o editorial tecendo comentários, em linguagem rebuscada, harmonizando as notícias que serão ali publicadas com as manifestações creditadas aos professores do Colégio e em especial ao seu diretor. E assim finaliza:
O alvo luminoso que procuramos attingir o ideal rubro de nossas aspirações este sim o traçamos em filigrammas de ouro na esphera tricolôr de nossa bandeira, harmonisando, adaptando a cor com a genese de cada um dos bellos vocabulos que tomamos por divisa e são: Patria, Progresso e Paz assentes em verde, rubro e branco. [...]

E agora coroado de rosas myrthos nesta madrugada scismadora do formoso mez de Tethys, “Chrysantho” envolto na gaze cysnea de sua luz dulcíssima, alcance o pórtico róseo de explendente futuro.

Os artigos impressos a seguir, nas páginas d’O Chrysantho, são homenagens ao professor Paul Wolf, diretor do colégio, em virtude da passagem de seu aniversário.

Uma observação precisa ser colocada para melhor consulta ao periódico na Hemeroteca Digital: suas páginas estão desordenadas. A capa aparece em segundo lugar na digitalização. Portanto, para a leitura correta, observe a sequência das páginas 2, 1, 4 e 3.

A capa (a segunda página na sequência da digitalização), apresenta o título, em letras manuscritas, com contornos alinhados e dispostas na diagonal. Motivos de arte em vinhetas arrematam o adorno.  Na parte inferior, a locução latina "Sol lucet omnibus", que significa “o sol nasce para todos”.

O Chrysantho publicou crônicas, pensamentos, poemas e piadas. Alguns dos colaboradores foram: Mario Cantinho, Valdemar, John, Richomer Barros, Tomaz Ribeiro Agripino da Silva, Paulo Wolf, Jair Cunha e Sirio do Vale. A seguir um poema assinado por Anthero Quental (1842-1891) com o título “A Casa do coração”.

 

A Casa do coração

O coração tem dois quartos:

N’elles moram sem se ver,

N’um a Dôr, n’outro o Prazer.

 

Quando o Prazer no seu quarto,

Acorda cheio de ardor

No seo adormece a Dôr.

 

Cuidado, Prazer! cautela...

Fala e ri mais devagar,

Não vás a Dôr acordar!



 

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