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O Colibri: jornal hebdomadario dedicado ao bello sexo

por Maria Ione Caser da Costa
Lançado na Corte do Rio de Janeiro no dia 17 de agosto de 1870, o periódico O Colibri, se descreveu como um jornal hebdomadario dedicado ao bello sexo. A responsável pela impressão foi a Typographia Fluminense de Domingos Luiz dos Santos, situada na rua Nova do Ouvidor, nº 20, localidade que, em meados do século XIX, se modernizava consideravelmente seguindo os modelos europeus.

A publicação não apresenta valor para venda do fascículo avulso. Os valores para assinatura eram de 1$000, 3$000 ou 5$000 para assinaturas bimestrais, semestrais ou anuais, respectivamente. As assinaturas deveriam ser efetivadas na praça da Constituição, nº 85, na Livraria Garnier ou na tipografia responsável pela impressão da publicação. Uma nota na última página do primeiro exemplar avisava que “as Exms Senhoras que não devolverem este numero, serão consideradas assignantes”

A coleção preservada na Biblioteca Nacional é composta pelos primeiros oito exemplares. O número 8 do semanário em questão, foi publicado no dia 7 de outubro daquele ano, portanto, quase dois meses após seu lançamento. Todos os exemplares podem ser consultados na Hemeroteca Digital.

Medindo 25cm x 16,5cm, cada fascículo de O Colibri foi composto por quatro páginas. As páginas divididas em duas colunas separadas por um fio simples. Ilustrando todas as capas, sempre antecedendo ao primeiro artigo, o desenho de um colibri equilibrado em um fino e pequeno galho de árvore.

O editorial de lançamento dialoga com as leitoras, como um colibri falaria com quem está a seu lado na natureza; fala de seus medos, seus anseios por carinho, por aconchego e a vontade de ser aceito. Eis um excerto do editorial:
Bom dia, leitora.

Pedi ao Iris o esmalte de minhas pennas, a Phebo o brilho de meus olhos, e á mariposa o saltitar leve e rápido, com que me apresento.

Bom dia, leitora.

Trago-vos o ultimo desmaio da estrella d’alva, e o primeiro sorriso da aurora.

O vento do sul enfraqueceu-me o vôo, como o pó da estrada manchou-me as pennas, e a fadiga da viagem prostrou-me as forças.

Como o viandante perdido nas areias ardentes do deserto, cortou-me as carnes o açoite dos ventos e cahi exhausto.

E eu pensára salvar-me.

Mas o oasis fôra uma miragem, como a esperança uma illusão. [...]

Bom dia, leitora.

Dái-me um abrigo em vosso collo, um ninho em vossas tranças, um logar a vossos pés, é quanto peço. [...]

Em reconhecimento variarei aos raios do sol o brilho cambiante de minhas penas, e contentar-me-hei com o riso de vossos lábios – flôr da primavera, em que colherei vida e coragem.

Bom dia, leitora.

O Colibri publicou o folhetim “A Viuva”, do escritor francês do gênero novelista Ponson du Terrail (Pierre Alexis, 1829-1871). O folhetim foi considerado um gênero literário/jornalístico bastante publicado na segunda metade do século XIX e início do século XX. Os romances eram publicados de maneira seriada, isto é, em capítulos, e diagramados no rodapé da página. Publicou também contos, artigos, charadas e poemas, que, em sua maioria, não estão assinados, ou assinados somente com uma inicial maiúscula. A seguir o soneto “Desengano”, publicado no número seis, de alguém que assina com as iniciais C. L.

 

Desengano!

Atirei-me sedento de verdade

Á sciencia do exacto e do infinito;

Escravo fui do imperioso grito

Que minha alma soltou na escuridade.

 

Desengano cruel! fatalidade!

N’aridez do areal – solo maldito –

Passei vida de errante e de proscripto

E o perfume perdi da mocidade!

 

Pedi a luz – e dão-me um labyrintho,

Onde embrenha-se e morre o entendimento

E a sombra reina que envolver-me sinto.

 

Deus! Responde-me e poupa o desalento!

Si a verdade alli’stá, si acaso eu minto!

Antes de a ver me tira o sentimento!

 

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