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O Esboço: periodico semanal, litterario e recreativo

por Maria Ione Caser da Costa
 No primeiro domingo do ano de 1889, ano que seria proclamada a República do Brasil, na Corte do Rio de Janeiro era editada mais uma publicação seriada, O Esboço: periodico semanal, litterario e recreativo. Era o dia seis de janeiro.

Como proprietários, A. Santos, Carlos Monteiro e Augusto Barreto. A partir do oitavo exemplar, que foi publicado no dia 24 de fevereiro, Carlos Monteiro deixa de fazer parte do corpo editorial. Na última página deste número a seguinte nota : “Por motivo de força maior deixo de fazer parte da propriedade de O Esboço”.

No número 14, publicado em 7 de abril, mais dois novos redatores se juntam ao corpo editorial, são eles: Francisco Silva, José Corrêa.

O Esboço foi editado na Typographia H. Lombaerts & C. que estava localizada na rua dos Ourives, e sua administração ficava num sobrado da rua General Camara, n. 155, para onde deveria ser dirigida toda a correspondência. A partir do número 13, publicado em 31 de março, a administração se transfere para a rua S. Pedro, 207.

A assinatura trimestral valia 1$000. Não ofereceu valores para venda do exemplar avulso. O editorial de O Esboço em seu número de lançamento apresenta aos leitores a nova publicação, e relata o esforço que seus editores intentam para serem inseridos no mundo jornalístico:

Com o presente numero, encetamos a publicação deste humilde e despretensioso jornalzinho.

Hoje, que o jornalismo Fluminense tem subido de ponto a se collocar na altura de um principio brilhantemente definido; que as pennas sublimes e firmes e as mais pujantes intelligencias estão ao seu serviço; nós não pretendemos, nem podiamos pretender mais que um modestissimo logar, ou mesmo o ultimo, entre essaphalange de batalhadores illustres [...]

O nosso titulo explica por demais a rotina que nos traçamos e o fim que queremos atingir: esboçar para aperfeiçoar, não aos que nos lerem, porque desses esperamos sincera corrigenda aos nossos artigos; mas a nós mesmos que, quando muito, não sabemos nada.

E é esta a verdade.

O Esboço não tem côr politica, e quando lhe seja necessario tratar de semelhante assumpto, fal-o-ha com todas as reservas para que nao vá ferir, mesmo inconscientemente, as susceptibilidades de quem quer que seja.

Agora que já expoz o seu humilde programma, espera o Esboço merecer toda a proteção dos seus illustrados mestres e sinceros collegas.


A coleção da Biblioteca Nacional é composta por dezessete exemplares, que vão do número um ao número dezoito. A única falha é o número 17. Todos os exemplares possuem quatro páginas diagramadas em duas colunas, separadas por um fio simples. Não apresentou ilustrações.

Publicação semanal, assim se manteve, sem mudar sua periodicidade. Fato incomum para a época, pois em virtude de dificuldades encontradas para a manutenção das publicações, muitos editores iniciam seus periódicos com a intenção seguir uma periodicidade pré-estabelecida, e, no decorrer do processo, se faz necessário alguma mudança.

Colaboraram nas páginas de O Esboço Alfredo Leite, Augusto Barreto, Carlos Monteiro, Eduardo Magalhães, Francisco Diogo, Francisco Silva, João Alberto, José Correia, dentre outros, que além de poesias e prosas, publicavam também charadas e decifrações.

A título de ilustração destacamos abaixo um soneto de Alfredo Leite intitulado “Aquarellas”, publicado nas páginas de O Esboço.

 

Aquarellas

Levanto o olhar, mal apenas

Desponta serena a aurora ponto e virgula

Os gallos cantam lá fóra,

Saudando as manhãs serenas...

 

Abro as janellas pequenas dois pontos

De luz o céo se callora;

Quando a cigarra sonora

Sólta as brandas cantillenas...

 

Depois, o perfume brando

Dos macios roseiraes,

Vão o espaço saturando;

 

E em garbosas aspiraes

Lembram as nuvens, se evolando,

As manhãs meridionais!...

 

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