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O Estudo: orgam do Club Litterario “Diégues Junior”

por Maria Ione Caser da Costa
O Estudo: orgam do Club Litterario “Diégues Junior” foi uma publicação lançada em Recife, capital pernambucana possivelmente no dia 1º de junho de 1886. A dúvida se dá por não constar no acervo da Biblioteca Nacional o primeiro exemplar. Na coleção preservada, estão os números 2 até o 5 e o número 8, tendo o número 2 sido publicado no dia 15 de junho de 1886 e o número 8 no dia 15 de setembro daquele ano.

Folha quinzenal, foi fundada pelos alunos do Instituto '19 de Abril' e a Typographia Appolo foi a responsável por sua editoração. A comissão de redação de O Estudo foi formada por Thiago da Fonseca, Carlos Porto Carreiro e Bernardo Lins que eram respectivamente vice-diretor do Instituto, professor e ex-aluno.

O Club Litterario Diégues Junior, que deu nome ao periódico, foi fundado no dia 19 de abril de 1885, por iniciativa de um aluno do colégio. O nome do clube foi escolhido para homenagear um professor que muito contribuiu com a formação dos estudantes locais.

O Instituto '19 de Abril' estava localizado na rua do Progresso, n. 1, para onde deveriam ser endereçadas todas as correspondências referentes à publicação.

O valor da assinatura de O Estudo era de 500 réis quando mensal ou 1$500 quando trimestral. Medindo 31cm x 21cm, o periódico foi diagramado em três colunas divididas por um fio simples. Não apresentou ilustração.

O editorial do segundo fascículo contempla a aceitação que a publicação obteve a partir de seu lançamento, tanto por seus pares quanto pelo público de um modo geral. Assinado por A Redação, eis um excerto do artigo:
Quando pela primeira vez nos apresentamos na arena jornalística para combater ao lado de valentes companheiros de imprensa o indifferentismo que lavra intensamente na sociedade brazileira amortecendo todos os germens de vida nova e esterilisando os corações que ainda procuram trabalhar em prol da patria, tinhamos receio de que o nosso herculeo esforço não fossse secundado pelo publico e levado em conta pelos nossos collegas de jornalismo. [...]

Imaginamos que teriamos de v~er em breve as nossas desinteressadas pretençoes cahirem por terra victimas do vendaval da apathia e desfolharem-se todos as beneficas flôres das nossas mais charas illusões.

Tal porém não aconteceu. A maioria dos nossos collegas de imprensa noticiandoo apparecimento do Estudo dispensaram-nos palavras mui animadoreas e em extremo benevolentes, tornando-se portanto credores

do nosso perene reconhecimento.

Segue o artigo citando os nomes dos periódicos que publicaram em suas páginas algum elogio pelo lançamento do periódico, não deixando de agradecer também ao público que "recebeu-nos benevolamente, acolheu-nos de tal forma que não possuimos mais um exemplar do nosso 1º número". Avisam também que o periódico sustentará as ideias defendidas no número de lançamento.

Do “Club Diégues Junior” podiam fazer parte alunos do “Instituto 19 de Abril”, professores e censores, bem como todos aqueles que, em algum momento, pertenceram aos seus quadros.

Dentre a várias seções publicadas nas páginas de O Estudo, chamou a atenção uma com o título 'Origem e desenvolvimento histórico da poesia'. Foi publicada em capítulos, divididos pelos números da publicação. Não consta a conclusão do artigo pela falta dos exemplares. Seu autor, o aluno Luiz de França, faz um estudo minucioso, e se empenha em estudar para informar, a origem da poesia.

O folhetim intitulado 'Marianinha: romance brasileiro' também é um interessante material de estudo que infelizmente não possuímos o término.

Bernardo Lins, Berth, Carlos Porto Carreiro, Crels, J. Luiz de França, Jorasi, Jujú, Julio Pires, Licinio e Paulo Carneiro Leão foram alguns dos colaboradores que circularam pelas páginas de O Estudo. E para ilustrar escolhemos o soneto de Licinio com o título Inverno.

 

Inverno

 Faltam no céo as lucidas estrellas,

Faltam na terra as purpurinas flores,

Sobram no espaço os funebres vapores

Sovejam do corisco as luzes bellas.

 

Só não falta o olhar em que revelas

As graças mais gentis dos teus primores,

Só não faltam-me as rosas dos amores

Que expandes oh! rainha das donzellas.

 

Mas ai! que no horizonte deste mundo

Vejo a nuvem da magua ennegrecida

Ennegrecer o meu pesar profundo.

 

E no céo sempre escuro desta vida

Desenha-se bem claro o traço fundo

Do raio d'uma dor indefinida.

 

 

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