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O Faustino: periódico litterario e satyrico: órgão da cidade nova

por Maria Ione Caser da Costa
O semanário O Faustino teve sua primeira edição publicada em 2 de maio de 1886, no Rio de Janeiro.  Não se tem ideia do tempo que circulou no mercado editorial pois na Biblioteca Nacional consta apenas este exemplar que pode ser consultado através da Hemeroteca Digital.

Seus proprietários, que também eram redatores, foram “Armando da Silva, Gabriel, Viriato & Alvaro”, como aparece grafado logo abaixo do título.

Após o expediente, com o mesmo título da publicação, um longo editorial, em que os editores apresentam suas intenções para veicular a revista. Eis um excerto:
Na grande constellação da imprensa fluminense, o Faustino, sabemos, não poderá figurar senão como uma gazea nebulosa, porem, se os nebulosos são futuros astros, estrellas em germinação, a esperança nos alenta e nos segreda um “Avay” para as cruzadas da luz.

A phase decadente da nossa sociedade actualmente, de pauperamento de forças, o desanimo que lavra em todos os espiritos, estragando e precipitando homens, fazem-nos, a nós moços e creanças, levantar este baluarte do progresso como garantia do nosso futuro.

Os editores de O Faustino propunham apresentar notícias e informações de maneira sarcástica e crítica, tratando com pilheria os hábitos e costumes de tudo que tinham conhecimento à época.
O Faustino despindo-se das loucas pretenções que todos tem, (menos elle) apresenta-se pela primeira vez ao publico, pedindo que auxiliem-no na sua árdua tarefa.

Approveita a ocasião para saudar os seus illustres collegas de imprensa, e agradece as phrases com que o possam receber. Mas, áquelles que sobre o pseudo de criticos nos receberem com improperios, hade ouvir a nossa linguagem um tanto rustica e severa. [...]

Portanto só nos resa agradecer aos collegas a quem o FAUSTINO for visitar.

Para adquirir O Faustino solicitava-se a confirmação da assinatura, a partir do recebimento do primeiro exemplar. Caso não houvesse interesse, era necessário fazer a devolução do mesmo aos editores. A não devolução imprimia na aceitação do recebimento. Nas assinaturas mensais, o interessado pagaria 500 réis, nas trimestrais, 1$500 e nas semestrais o valor a ser pago era de 3$000.

Uma nota no expediente informava que toda correspondência deveria ser dirigida à rua do Senador Euzebio, nº 84. A rua recebeu esse nome em homenagem a Eusébio de Queirós Coutinho Matoso Câmara (1812-1868), político que exerceu diversos cargos no período imperial. Foi também chamada de Caminho do Aterrado.  Hoje a rua não existe mais. Desapareceu no período de construção da avenida Presidente Vargas. O subtítulo de O Faustino informa ser um orgão da cidade nova, como era conhecida a região, que já foi um alagadiço e serviu como rota que levava ao Paço Real de São Cristóvão.

O exemplar em questão de O Faustino possui quatro páginas e não apresenta qualquer ilustração. Foi diagramado em três colunas divididas por um fio simples.

A título de ilustração selecionamos o poema de A. de O. Macedo Braga que homenageia o ilustre Alvares de Azevedo.

 

Alvares de Azevedo

Coitado elle descança da jornada

Uma lida constante a meditar

Com seus versos d’amor pois só de amar

Vive satisfeito, a sua amada.

 

Era as chimeras a ideal sonhada,

Tantas por ella nos seus versos

As vezes sentia a alma alli dispersos,

No modo de pensar enamorada.

 

Ah! quem não admira o genio, impossivel!

Gente que tem o coração de lodo

Que não ama do genio da melodia!

 

Esse segredo que nos é indizível

E ao poeta falla Deus n’um doce modo,

Os arcanos secretos da poesia!

 

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