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O Garimpeiro: publicação hebdomadaria

por Maria Ione Caser da Costa

Em 1881, surge no Rio de Janeiro o periódico O Garimpeiro, editado pela Typographia Central, localizada na Travessa do Ouvidor, nº 7. A publicação se definia como hebdomadária e circulou pela primeira vez em 06 de novembro. Seus redatores eram Octaviano de Oliveira e A. Novaes.


A assinatura bimensal tinha o preço de 1$000,  na Côrte, e custava 1$500 nas . Províncias.


Seus editores lançam mão do espírito de força e fecundidade para encetar esta empreitada, e assim iniciam o primeiro editorial:


Aprender a estudar para bem estudar; aprender a trabalhar para bem trabalhar.


Começa, pois, hoje a nossa aprendizagem – estudar, trabalhar, lutar, lutar sempre. O Garimpeiro será a pagina primeira desse livro de ensinamento para nós.


Na arena santa onde o pensamento se debate e as intelligencias se chocam, elle não pretende um lugar – é bastante humilde para tanto ousar.


Se nos carecem forças para esse commettimento sobejam-nos coragem e uma vontade firme.


O título do semanário é inspirado num dos romances de Bernardo de Guimarães, publicado em 1872, pela Livraria Garnier. Ainda no primeiro editorial encontra-se a explicação sobre o assunto:


O Garimpeiro, com o nome que traz, presta um tributo de admiração e respeito ao talento de um romancista notável, delicado, que, com a arte que só a elle é propria, photographa os costumes do nosso povo, as scenas da roça, a vida do sertão; faz dos seus romances – álbuns – onde se desenrolam á vista do leitor, aqui uma paisagem, alli uma cascata, uma ribeira sombreada, mais além uns serros altivos topetando com as nuvens;


De um poeta mavioso e inspirado que suspira os Cantos da solidão, chilra com os passarinhos e canta as Heroides Brasileiras.


Abri, pois, ao Garimpeiro as portas dos vossos lares; elle vos recorda ao menos Bernardo Guimarães.


Nos dois únicos exemplares existentes na Biblioteca Nacional - primeiro e terceiro -, este último publicado em 20 de novembro, são encontrados excertos de poemas do romancista e poeta, bem como artigo de “um distncto colaborador” que ajuda a prestar homenagem a Bernardo de Guimarães. É este personagem misterioso o narrador de uma passagem de sua juventude, em que teria travado, com o poeta.


No primeiro exemplar aparece a seção Vozes e cantos, e nela, o poema A Flor sem nome, que presta homenagem a um filho que o poeta perdeu prematuramente.


Bernardo Guimarães é autor controverso, alguns o acham mediano, não mais que um romancista de aventuras, entre elas, as de uma escrava branca, A escrava Isaura, sucesso até os dias de hoje. Outros o acham um poeta de alto gabarito e há, também, quem lembre dele como autor de versos pornográficos. Opiniões contraditórias que tornam mais interessante e instigante ter havido no passado um periódico que homenageie sua obra.


Graficamente a publicação se apresenta montada em três colunas, separadas por um fio simples. Não há ilustrações. Contos, Garimpos, Escavações e Com ares de chronica são os nomes de algumas seções que compõem a publicação.


Algumas páginas estão danificadas, em especial, as páginas 3 e 4 do exemplar número 1. Falta um pedaço na parte superior impossibilitando a leitura. A intervenção feita na ocasião do restauro utilizou técnicas antigas de colagem de papel para suprir o pedaço faltoso.


Copiamos a seguir, os versos do poema Ilusões da vida, de Octaviano Rosa,  publicado na última página do primeiro exemplar. Naquele local não está colocado o título do poema.


Quem passou pela vida em branca nuvem


E em plácida calma adormeceu;


Quem não sentio o frio da desgraça,


Quem passou pela vida e não sofreu;


Foi espectro de homem, não foi homem,


Só passou pela vida e não viveu![1]


 [1] http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=361186&PagFis=1&Pesq=

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