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O Granadeiro

por Maria Ione Caser da Costa

Publicado no Rio de Janeiro, pela Tipographia do Diário, de N. L. Vianna, O Granadeiro se identificava como uma folha ministerial, defensor da Constituição Política do Brasil, apoiador dos direitos do Imperador e da integridade do Império. Nota-se, entretanto em suas pautas alguma ironia, assinalando o lado joco-sério da publicação. Sua primeira edição veio a lume no dia 22 de março de 1845, um sábado. As intenções de O Granadeiro são apresentadas neste primeiro editorial:


O Granadeiro por tanto se apresenta na liça a oferecer o combate, e protesta não recuar, qualquer que aliás seja o genero do ataque. Vós, Srs. da reorganisação e do futuro da patria, o achareis prompto para denunciar vossos planos pérfidos: sim, o paiz saberá muito claramente, que quisestes vencer, e quereis ainda converter este bello paiz em um imenso campo de vencedores e vencidos!... Saberá então o Brasil, pela voz forte do Granadeiro, que vós quereis o mando exclusivo do paiz, e o desfructe completo dos bens nacionais. Lembrará ao Brasil finalmente, que com falso monarchismo vos apresentais, e que entretanto minais a autoridade do primeiro cidadão, e que em vossos planos tenebrosos traçais... mas cumpre parar aqui. O Granadeiro fallará ao povo empregando a linguagem conveniente, e apresentará em toda nudez os homens, que, cuidando só de si, affectaõ cuidar do bem da pátria.


Logo abaixo do título, e fazendo uso de um estilo tipográfico no qual as letras são decoradas e apresentam preenchimento das laterais com sombreado, aparecem informações do expediente: do lado esquerdo, “publica-se todos os sábbados, não sendo dias santos de guarda”, e que os números avulsos são vendidos na rua da Alfandega, 5. Do lado direito, a informação de que “aceitão-se artigos e correspondências dirigidas em carta feichada nesta typographia, com as formalidades da lei”. E, na parte central, a epígrafe: “Camarada! Alerta! Alerta! // De nós precisa a Nação:// Viva D. Pedro Segundo,// E viva a Constituição”.


Os sexto e sétimo fascículos, publicados na quarta-feira, 30 de abril, e na quinta-feira 16 de maio respectivamente, tem no lado esquerdo a seguinte informação: “publica-se em dias incertos; um ou dous, ou nenhum por semana, como Deus for servido”.


Na Biblioteca Nacional são encontrados sete fascículos. Os de número 1, 2, 6 e 7 possuem 4 páginas cada; o exemplar 3 possui 8 páginas e os de números 4 e 5, possuem 6 páginas cada. Todos são impressos em duas colunas separadas por um fio simples.


A publicação é desprovida de nomes de editores ou colaboradores, apenas alguns pseudônimos assinam os artigos. Em todos os exemplares são mencionados diversos periódicos que circulavam na época, reproduzindo ou criticando as manchetes, na maioria das vezes, de maneira jocosa.


Acredita-se que os editores sejam pessoas ligadas ao Batalhão do Imperador, tropa de elite que fazia a guarda da família real e tinham seus soldados conhecidos pelo nome de granadeiros, como pode ser lido ainda no primeiro editorial:


Apesar de sermos soldado, um só papel politico não no ha escapado, e tendo todos em boa guarda muito nos servirá na occasiaõ presente, para mimosear a nossos adversários com trechos de seus escriptos de outro tempo. Naõ tínhamos tençaõ de procurar a imprensa para pedir contas aos sacrificadores do paiz, de seus crimes, naõ; granadeiro velho, só conhecemos a bala e a espada para com os inimigos no campo de batalha; porém no campo da imprensa, só lançaremos sem piedade balas de papel, que saõ as mesmas armas com que eles nos batem!


Hoje o Batalhão do Imperador transformou-se em Batalhão da Guarda Presidencial, e ainda são denominados granadeiros os soldados que dele fazem parte.


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