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O Neophyto: periodico semanal: critico, humorístico e litterario

por Maria Ione Caser da Costa
O semanário O Neophyto: periodico semanal: critico, humorístico e litterario foi publicado pela primeira vez no dia 1º de fevereiro de 1880 na Corte do Rio de Janeiro. Era propriedade de Costa, Veiga & Comp. Foi impresso pela Typographia Cosmopolita, localizada no número 31 da rua do Regente, que em 1921 passa a se chamar rua Regente Feijó, mantendo a homenagem ao regente do Império, padre Diogo Antônio Feijó.

A partir do número 7, de 14 de março, a propriedade muda para Pedro da Costa & Comp., e em 07 de novembro, com a publicação do número 41, O Neophyto passa a pertencer somente a Pedro da Costa Federico, com sua firma individual, passando a redação para a rua do Riachuelo, n. 184.

Após o número 16, O Neophyto passa a ser impresso pelo maquinário da Typographia do Neophyto, não sendo encontrado o endereço.

Na capa de O Neophyto, logo abaixo do título, estão algumas informações de interesse dos leitões. A primeira afirma que “todo o assignante póde mandar os seus artigos redigidos em termos e com responsabilidade do autor, não se restituindo os não publicados”. A seguir está o valor das assinaturas, e, o endereço para onde os leitores deveriam remeter a correspondência ou fazer a assinatura.

O valor cobrado pelas assinaturas na Corte foi de $500 para a mensal e 1$500 para a trimestral, enquanto que nas Províncias, a trimestral valia 2$500 e a semestral, 4$000. O número avulso foi vendido por 200rs.

Um longo editorial no lançamento de O Neophyto descreve a trajetória percorrida pelos editores até o lançamento da publicação de um “pequeno jornal”, que se esforçará para ter ‘animo para progredir e forças para lutar e caminhar, é o que ousa esperar da imprensa em geral e de todos os seus leitores”. E finalizam: “Espera elle aprender tanto quanto possa e nos diversos torneios litterários conta com a satyra de luva de pellica, as lyras queixosas e risonhas e com a bisbilhotice noticiosa, ingenuidade que o presente seculo aprecia; para, seguindo esse exemplo, encetar a romaria. Será esse o seu programma.”

O Neophyto publicou vários folhetins e notícias relacionadas à arte literária. Estavam distribuídas nas seções: Literattura, Secção Histórica, Variedade, Poesias ou Seção Mixta.

Alguns nomes de seus colaboradores: Alarico Proença, A. Pinto de Abreu, A. Witruvio de Medeiro, Augusto Fábregas,  Baptista Nunes, F. A. M. Pereira, Guilherme Vasques, J. B. Viana, J. T. da Rocha Leão, e Bonifacio Muniz.

O Neophito completou exatos dois anos de existência, com a publicação de 66 fascículos, este último tendo saído no dia 1º de fevereiro de 1882. Dos fascículos publicados, não constam do acervo da Biblioteca Nacional os números 59 a 62, 64 e 65. O número 63, publicado no dia 10 de junho de 1981 tem seis páginas, duas a mais que todos os outros fascículos, e é todo em homenagem a Luiz de Camões.

O último número publicado, assinando “A Redação”, o editor assim se despede:

 
D’entre os nevoeiros do ostracismo em que cahimos por fatalidade, surgimos mais esta vez das paragens sombrias de um tumulo, para darmos mais este numero á luz meridiana da publicidade e com elle finalizar a publicação do Neophyto.

No fim de uma existencia trabalhosa, á luz brilhante de honra, depomos com ufania a penna, deixando rolar no pó do sarcophago o Neophyto, tendo de idade duas primaveras que presentemente tornaram-se em myrradas flôres pela descrença que nos insuflou a alma, deixando unicamente gravado em nossos espíritos o prazer de não devermos a ninguem, quantia por mais diminuta que seja.

A vida jornalística no Brazil não tem a mínima solidariedade em razão de se considerar – o jornal este primeiro livro do pantheom da civilização – como a cousa mais insignificante. [...]

Ultimando, enviamos um saudoso adeus a todos os nossos collegas da imprensa que trabalham pertinazmente para que um dia o Brazil saiba comprehender o que é um – jornal.

A seguir a poesia publicada no número 20, do dia 13 de junho de 1880 intitulada “Só tu...” de autoria de P. Junior.

 

Só tu...

Anjo divo do céo, branca deidade,

Adorada visão dos meus sonhares,

Só tu poderás trazer conforto

Ao supplicio atroz dos meus pezares!

 

Só tu poderás fazer brotar

No morto coração doce esperança,

- Florzinha sutil batida sempre

Dos furores da vida sem bonança.

 

Só tu poderás trazer allivio

Aos tormentos do peito soffredor

Só tu, meu amor, virás mortrar-me

céo de puro amor!

 

Só tu... Só por ti crente serei...

Só teus beijos farão reverdecer

A flor perfumosa emmurchecida

Pelo morno bafejo do descrer.

 

Só tu, meu amor... Só no teu collo

Poderei repousar a fronte um dia,

Só alli sonharei uns sonhos ledos,

Ternos sonhos de branda poesia.

 

Só tu, meu amor... Só tu virás

Doce nectar trazer ao meu soffrer;

Vem... Traz-me a vida, - eu quero a vida

Para dal-a por ti, - por ti morrer!

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