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< Voltar para DossiêsO Nú: periódico semanal humorístico, trocista e illustrado
por Maria Ione Caser da Costa
O Nú: periódico semanal humorístico, trocista e illustrado foi lançado no início do século XX no Rio de Janeiro. O primeiro exemplar, e único existente no acervo da Biblioteca Nacional foi publicado no dia 06 de maio de 1901. Não se tem notícia da existência de outros fascículos.
Publicação de cunho cômico e satírico, percorria os caminhos dos acontecimentos diários de então, com textos e ilustrações que, na maioria das vezes, apresentam uma linguagem dúbia, onde, com trocadilhos ou jogos de palavras, os editores acreditavam chamar a atenção dos leitores.
O número avulso foi vendido por 100rs, e a assinatura tinha o valor de 5$000 réis, como apresentado na capa, entretanto não está indicado a que período de tempo correspondia esse valor.
O endereço da redação de O Nu era na rua da Assemblea, nº 73. Não consta da publicação o nome da tipografia responsável nem tampouco os nomes dos editores. Vejamos como os responsáveis pela publicação se apresentaram no editorial, que inicia com letra capitular:
Finalizam o texto afirmando que se conseguirem agradar ao público leitor, melhorarão a confecção do periódico na “razão directa da aceitação que for tendo”. E afirmam que se acaso “o humilde semanário não alcançar o seu modesto desideratum”, sairão da seara jornalística.
Com oito páginas, O Nu foi diagramado em quatro colunas, onde as colunas são separadas por um fio simples e estão emolduradas, isto é, a mancha gráfica de cada página está envolta por um traçado simples. A capa é totalmente ilustrada, e ao final do desenho está colocado o diálogo proferido entre as personagens que compõe a ilustração, com um traço de dubiedade ou troça.
A penúltima pagina é destinada às propagandas. Ocupando todo o espaço, são colocados os seguintes anúncios: da Cervejaria Brahma, da Loteria da Capital Federal, do Alcatrão e Jatahy de Honório Prado (xarope), da fábrica de móveis Martins Filhos & C. e do medicamento para a gonorreia Blenocida.
A última capa continua com o humor em formato de charges, sempre acompanhadas de texto que pode sugerir duplicidade de conceitos. O Nu publicou, além das charges, contos rápidos, charadas, poesias e piadas. O poema selecionado foi o “Ainda e sempre” de Xisto Bahia (1841-1894).
Ainda e sempre
Quiz de balde varrer-te da memoria
E teu nome arrancar do coração,
Amo-te sempre, que martyrio infindo!
Tem a força da morte esta paixão!
Eu sentia-me atado ao teu prestigio,
Por grilhões poderosos e fataes;
Nem me vias sequer, te amava ainda,
Motejavas de mim, te amavas mais!
Tu me vias sorrir, os prantos d’alma
Só confiam se a Deus e á solidão;
Tu me vias passar calmo e tranquillo,
Tinha a morte a gelar-me o coração!
Soffri muito por ti, ás minhas trevas
Nem um raio de amor déste sequer;
Tu sorrias, feliz, quando eu chorava;
E eu chorava por te amar, mulher!
Quantas luctas travei c’o sentimento,
Quantas vezes corei da minha dor!
Quiz até te odiar, te amava sempre,
Sempre e sempre a esmagar-me o teu amor!
Não consigo varrer-te da memoria,
Nem teu nome arrancar do coração!
Amo-te muito, que martyrio infindo,
Tem a força da morte esta paixão!
Publicação de cunho cômico e satírico, percorria os caminhos dos acontecimentos diários de então, com textos e ilustrações que, na maioria das vezes, apresentam uma linguagem dúbia, onde, com trocadilhos ou jogos de palavras, os editores acreditavam chamar a atenção dos leitores.
O número avulso foi vendido por 100rs, e a assinatura tinha o valor de 5$000 réis, como apresentado na capa, entretanto não está indicado a que período de tempo correspondia esse valor.
O endereço da redação de O Nu era na rua da Assemblea, nº 73. Não consta da publicação o nome da tipografia responsável nem tampouco os nomes dos editores. Vejamos como os responsáveis pela publicação se apresentaram no editorial, que inicia com letra capitular:
Eis-nos aqui.
Donzeis e donzellas, escusais tapar os vossos olhos á nossa passagem; a nossa nudez não offende a pureza e a castidade dos vossos olhares innocentes.
O Nú não vem com disposições sinistras; pelo contrario, o seu intuito é rir, brincar, causticar, sem offender nem a Sra. D. Moral nem pessoa alguma da sua illustre e muito nobre familia.
O logar que pretendemos entre os collegas que actualmente fazem as delicias dos apreciadores do humorismo, da pilheria fina e da malicia delicada, é modestissima; basta-nos a rectaguarda.
Um pequeno grupo de rapazes que dispõem de algumas horas vagas na semana resolveram empregal-as na confecção de um jornalzinho semanal, pequeno, modesto, no genero alegre, eis como surgiu O Nú.
Finalizam o texto afirmando que se conseguirem agradar ao público leitor, melhorarão a confecção do periódico na “razão directa da aceitação que for tendo”. E afirmam que se acaso “o humilde semanário não alcançar o seu modesto desideratum”, sairão da seara jornalística.
Com oito páginas, O Nu foi diagramado em quatro colunas, onde as colunas são separadas por um fio simples e estão emolduradas, isto é, a mancha gráfica de cada página está envolta por um traçado simples. A capa é totalmente ilustrada, e ao final do desenho está colocado o diálogo proferido entre as personagens que compõe a ilustração, com um traço de dubiedade ou troça.
A penúltima pagina é destinada às propagandas. Ocupando todo o espaço, são colocados os seguintes anúncios: da Cervejaria Brahma, da Loteria da Capital Federal, do Alcatrão e Jatahy de Honório Prado (xarope), da fábrica de móveis Martins Filhos & C. e do medicamento para a gonorreia Blenocida.
A última capa continua com o humor em formato de charges, sempre acompanhadas de texto que pode sugerir duplicidade de conceitos. O Nu publicou, além das charges, contos rápidos, charadas, poesias e piadas. O poema selecionado foi o “Ainda e sempre” de Xisto Bahia (1841-1894).
Ainda e sempre
Quiz de balde varrer-te da memoria
E teu nome arrancar do coração,
Amo-te sempre, que martyrio infindo!
Tem a força da morte esta paixão!
Eu sentia-me atado ao teu prestigio,
Por grilhões poderosos e fataes;
Nem me vias sequer, te amava ainda,
Motejavas de mim, te amavas mais!
Tu me vias sorrir, os prantos d’alma
Só confiam se a Deus e á solidão;
Tu me vias passar calmo e tranquillo,
Tinha a morte a gelar-me o coração!
Soffri muito por ti, ás minhas trevas
Nem um raio de amor déste sequer;
Tu sorrias, feliz, quando eu chorava;
E eu chorava por te amar, mulher!
Quantas luctas travei c’o sentimento,
Quantas vezes corei da minha dor!
Quiz até te odiar, te amava sempre,
Sempre e sempre a esmagar-me o teu amor!
Não consigo varrer-te da memoria,
Nem teu nome arrancar do coração!
Amo-te muito, que martyrio infindo,
Tem a força da morte esta paixão!