BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

O Olho: jornal humoristico

por Maria Ione Caser da Costa
O semanário O Olho: jornal humoristico foi lançado em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina no dia 1º de janeiro de 1916.

Uma característica marcante no exemplar de lançamento se refere ao título. Em lugar de letras, na formação das palavras que compõe o título, utilizou-se símbolos: o desenho de uma espiral, para indicar a letra O, e o desenho de um olho. Envolvendo ambos, linhas num contorno com arabescos.

Na Hemeroteca Digital podem ser consultados dois exemplares digitalizados, o primeiro, mencionado acima e do de número 9, lançado no dia 21 de fevereiro daquele ano. Os originais pertencem ao acervo da Biblioteca Pública de Santa Catarina.

Publicação pautada pelo humor, seu primeiro número informa que “O programma do Olho é bem simples. Não trata nem de politica nem de religião. Não tem intellectuaes entre seus colaboradores. Não fará critica pesada e ofensiva”. E, na sequência, as palavras do editorial, que não está assinado:
“O Olho” fará espirito com decencia; brejeiro, malicioso e prescrutador lobregará o que por ahi se passa... greludo, espantado, estupefacto, descreverá umas tantas cousas meia escondidas que todos precisam saber... lacrimoso, desanimado e triste, lamentará os azares da sorte dos que forem dignos... somnolento, doentio e abichornado será o martyrio dos paus d’agua ... alegre, satisfeito e perspicaz deliciará os namorados... accezo, ganancioso e voraz criticará sem piedade os avarentos... e... assim irá sahindo do “Olho” ou pelo “Olho” o remédio que poderá curar todos os nossos males.

Os números avulsos de O Olho foram vendidos por 100rs. Para os números atrasados o valor cobrado foi de 200rs. As assinaturas na capital valiam 3$000 e 5$000 para a semestral e anual, respectivamente. Se o interessado em assinar estivesse no interior, a semestral valia 4$000 e a anual, 7$000.

Colaboraram no periódico O Olho, Trajano Margarida (1889-1946) e o crítico Altino Flores (1892-1983). Alguns colaboradores assinaram com pseudônimos.

O jornal humorístico O Olho, na edição de 24 de fevereiro de 1916, lança um número especial homenageando a imprensa e também Johannes Gutenberg. A data marcava os 448 anos do falecimento do inventor da máquina de impressão tipográfica que revolucionou a escrita e a leitura. Tem lugar também uma homenagem aos 25 anos da promulgação da Constituição de 1891, a primeira do Brasil República. A última página homenageia a “imprensa da Capital”, mostrando os vários títulos que circulavam naquele período, e que contavam com a oficina de fotogravura de O Olho.

As dificuldades financeiras, no que tange à publicação de novos títulos de periódicos, eram constantes para a grande maioria dos editores do século XIX e início do século XX.  Muitas publicações tiveram vida efêmera. As que conseguiam se manter, atrasavam a edição de novos números. Vários podem ser os motivos para a efemeridade percebida no período. Com O Olho não foi diferente.  Muito provavelmente os que recebiam a publicação deixavam de fazer o pagamento, pois uma nota publicada em suas páginas informava que: “Todos aqueles que não devolverem a Revista no prazo de 3 dias, serão considerados assignantes, pelo que ficamos gratos”.

Como dito anteriormente, os originais de O Olho não pertencem ao acervo da Biblioteca Nacional. O número 9, do dia 24 de fevereiro, tem como diretores e responsáveis Edmilson Silveira e Dario Gouvêa.  Estes senhores publicaram, a partir de abril de 1916, um novo periódico com o mesmo título: O Olho, e o subtítulo semanário ilustrado.

O poema abaixo está no primeiro exemplar e recebeu o mesmo título da publicação. É de autoria de alguém que utiliza o pseudônimo de Aulocin. Lido de trás pra frente, pode-se supor que o autor seja Nicolau.

 

O Olho

Leiam, releiam e vão sempre relendo,

Ao “OLHO”, que apresento á mocidade.

Chorando e rindo, pois n’elle irão vendo,

Chistosos ditos, mas... de ingenuidade.

 

Elle será o paladino ousado,

Tendo por lema a critica sensata.

É inimigo atroz do namorado,

Combate o “pedantismo” e a gente ingrata.

 

Abram o olho co’este “OLHO”, aberto,

Que de algum olho vai chegando perto,

P’ra enchergar melhor e melhor vêr.

 

Mas... não confiem muito. Olha que o “OLHO”,

Vem só no “smart, qual mordaz Pampollio”

Sentindo n’elle a pimenteira arder...

 

Parceiros