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O Pacajá: jornal litterario, recreativo e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
O Pacajá: jornal litterario, recreativo e noticioso foi editado em 1862 na cidade de Desterro, que a partir de 1894, passou a ser denominada Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina.

O periódico entrou em circulação possivelmente no dia 11 de maio de 1862. A coleção consultada na Hemeroteca Digital inicia com o número 4, publicado no dia 1º

de junho de 1862. O Pacajá era publicado aos domingos, por este motivo, é possível calcular a data de lançamento.

O Pacajá teve como redator e proprietário, Jovita Duarte Silva (1845-1875) e foi impresso pela Typographia Catharinense de Germano Antonio Maria Avelim, localizada na Rua Augusta, n. 23, atual rua Tiradentes. Em 9 de novembro, mudou para a rua da Cadeia, nº 16.

Cada exemplar de O Pacajá foi formado com quatro páginas diagramadas em duas colunas separadas por um fio simples. Apresentava formato nas dimensões de 32cm x 21cm.

O primeiro exemplar da coleção da Biblioteca Nacional inicia com um artigo anônimo, sobre literatura. A letra inicial do artigo é a capitular, isto é, com dimensão maior que o restante das letras. Decorada com flores e arabescos, ilustra o texto. Eis os primeiros parágrafos do artigo:
A Litteratura é o povo, diz Victor Hugo. Ella é a expressão mais legitima da sociedade, o reflexo fiel de um adiantamento moral.

Como fonte da civilisação ella occupa na historia dos povos cultos o mais brilhante logar.

Pelo explendor em que ella se ostenta, ou pelo seu atrazo a civilisação de qualquer povo se nos patentèa com a mais segura exactidão.

A literatura é, pois, pode-se dizer, a alma, a essencia de qualquer nação. Sem ella não há progresso, não medra a civilisação.

O artigo segue comparando o Brasil com Portugal. Lembrando que a quantidade de conquistas conseguidas por seus navegadores, exerceram alguma influência na formação da cultura brasileira. A herança deixada por Portugal, se caracteriza também pelo desenvolvimento da literatura, e o artigo finaliza instigando os leitores a seguirem avante, buscando na literatura subsídios para abrilhantar o futuro.

Em alguns números, a partir do nº 15, lançado em 18 de agosto de 1862, passou a publicar anúncios nas últimas páginas.

Os exemplares apresentam numeração seguida das páginas. Todos com quatro páginas, as edições preservadas para consulta, perfazem um total de 136 páginas. Do último fascículo da coleção, o número 33, só constam as duas últimas páginas.

O Pacajá publicou crônicas sobre temas como a pobreza e a calúnia, poesias, traduções de textos, folhetins em capítulos, charadas, pensamentos e “enygmas pitorescos”.  Nitidamente preocupado com a ampliação de temas literários, seu redator recebeu a colaboração dos seguintes escritores: Arcipeste Paiva (Joaquim Gomes de Oliveira e Paiva, ou Padre Paiva, 1821-1869), Augusto Varela, Franc da Pauliceia (Francisco de Paulicéia Marques de Carvalho, 1826-1891), Francisco Octaviano (1826-1889), Laurindo Rabelo (1826-1864) e Manoel Bernardino, A seguir o poema “Eu vi-te” de Catharino Galeno, composta em junho de 1862.

 

Eu vi-te

Eu vi-te a janella, risonha e fagueira

Tão bella, tão linda qual um seraphim

Teus olhos divinos, tão negros, tão puros

Olhavão p’ra um livro, mas não para mim.

 

Eu vi-te de longe, mui longe, sosinho

E travesso meu peito de amor palpitou

- Imagem divina de graça e bellesa

Que em sonhos jamais um mortal retratou.

 

Se tu, Zizina, advinhar podesses

O doce gozo que meu peito a nhela

E se um dia em doce abraço unidos

Um osculo eu desse nessa fronte bella...

 

Ah! quão ditoso nesse instante eu fora

A vida dera se gosasse em dal-a

Mas tal não quer o nosso triste fado

E a illusão somente nosso amor embala.

 

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