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O Pensador: órgão dos interesses da sociedade moderna

por Maria Ione Caser da Costa
O Pensador: órgão dos interesses da sociedade moderna foi publicado na capital maranhense, São Luís, lançado no dia 10 de setembro de 1880. Foi editado pela Typographia de Frias & Filho, e impresso por Antonio J. de Barros Lima.

A publicação era “propriedade de uma associação”. O escritório da redação estava localizado na rua da Palma, nº 30, local onde também eram recebidos os pedido de assinatura.

Os artigos encontrados nas páginas de O Pensador foram, em sua maioria, assinados por pseudônimos como, Diderot, Marius, Marquês de Pombal, Pietro Garibaldino, Sóror Pompadour e Vanini. Contava com a colaboração de Aluísio Azevedo.

Em todos os fascículos lê-se a seguinte epígrafe: Ut jam non simus parvuli fluctuantes, et circumferamur omni venti doctrinae, in nequitia hominum, in astutia ad circunmventionem erroris. (S. Paulo, Epistola Cap 4, v.14, ad Ephesso). Vulgata, que é a versão da Bíblia em Latim, partindo do Grego, Hebraico e Aramaico, escrita por São Jerônimo entre os séculos IV e V. Buscando a tradução encontramos: Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus artifícios enganadores. (Epistola de São Paulo aos Efésios, 4:14).

Publicação considerada por alguns historiadores como um elemento decisivo na remontagem da trama histórica desse período, foi criada e escrita por jovens abolicionistas, positivistas e anticlericalistas. Favoráveis ao término da escravidão, seus colaboradores eram de uma geração ávida por mudanças. O editorial de lançamento inicia com um extenso artigo anticlerical, que conclui com o seguinte trecho:
O presente jornal tem um fim: combater esse espirito sacerdotal que tanto sangue tem custado á humanidade. Não batemos os homens que o deffendem, vimos apenas declarar guerra á ideia de que se fazem sustentaculos.

Combatemos a reacção. Sem combate não lhe abandonaremos as consciencias de nossos concidadãos. Seremos talvez vencidos. Não importa: o porvir nos suscitará vingadores.

Nosso programma é extenso como o pode ser a esphera do pensamento humano. Pensamos, e pensar é fazer o bem, porque pensar é ser livre, e ser livre é ser bom. Pensar é o contrário do crer. A Egreja crê, e nós pensamos. A Egreja crê porque sonha a escravidão universal. Nós pensamos porque sonhamos a liberdade da espécie humana. Vós, padres de Roma, credes, porque explorais a mina da credulidade. Nós pensamos porque queremos devassar os mundos em que existem os germens d'essas grandes ideias que se chamam direito, justiça e liberdade. Vós quereis ser uteis á vós mesmos: nós procuramos sel-o aos nossos concidadãos.

Tal é o programma do PENSADOR: pensar é só pensar. Pensar é rasgar os horizontes do porvir.

Em defesa do clero, é criado uma publicação para combater O Pensador. Esse novo órgão da imprensa tinha o título de Civilisação: periódico hebdomadário, órgão dos interesses catholicos[*], e nas páginas dos dois periódicos eram trocadas afrontas com respostas ofensivas[**]. Na Hemeroteca Digital podem ser consultados os fascículos.

De acordo com as notícias e manchetes de O Pensador, essa disputa se tornou mais ferrenha após a notícia, no dia 10 de abril de 1881, do lançamento do livro ‘O Mulato’, de Aluísio Azevedo. Vale a leitura de como isso ocorreu lendo nas fontes primárias da informação. O ponto de venda do livro era a própria redação d’O Pensador.

Para conhecer o que ocorria naquele momento em relação a contenda clerical e anticlerical, indica-se a leitura do texto de Aluísio Azevedo na seção ‘Cronica’, do dia 30 de julho de 1881, fascículo número 32.

Na Biblioteca Nacional constam quarenta e três exemplares de O Pensador. O primeiro, publicado no dia 10 de setembro de 1880, e no dia 30 de dezembro era publicado o número 12, último daquele ano. No ano de 1881 seus editores publicam a sequência dos números 13 ao 43, tendo o último publicado no dia 30 de novembro.

Publicação trimensal, isto é, eram editados três números por mês, nos dias 10, 20 e 30. Os dois últimos exemplares da coleção foram publicados com o subtítulo: orgam da sociedade moderna. A seguir o soneto de A. de P., intitulado ‘Um pecado mortal’.

 

Um pecado mortal

Fica ao lado da cerca a sachristia;

Pelas janelas que p’ra ella dão,

Entrava um vento fresco, que fazia

As delicias do padre capellão.

 

O calor era tão forte ao meio dia,

que elle não resistira á tentação

e dormitava o patife! Emquanto ouvia,

d’uma velha roufenha a confissão.

 

Pergunta a velha – beata refinada:

- Meu padre, acaso pequei eu,

Comendo sexta-feira – carne assada?

 

Espantado, o capellão estremeceu,

E sorvendo de rapé uma pitada:

- Distingo... bocejou e adormeceu.

 

[*] Conferir em: http://memoria.bn.br/DocReader/704334/1

 

[**] Conferir, final da terceira coluna em: http://memoria.bn.br/DocReader/761176/50

 

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