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O Semanario: periodico critico, litterario e recreativo

por Maria Ione Caser da Costa

“Publica-se todos o domingos na typographia Popular de Azeredo Leite, rua Nova do Ouvidor n. 9, onde se assigna por 2$000 por trimestre e aceita-se todas as reclamações e artigos.” Esta observação é uma constante em todos os exemplares da coleção. A Biblioteca Nacional possui os números 1 a 19, salvo os números 7 e 13.


Em editorial no primeiro fascículo, encontra-se o texto que definia os caminhos que a publicação pretendia trilhar:


Leitor benigno, eis o nosso timido filhinho. Fragil ainda, e sem protecção das letras, procura abrigar-se sob o vosso manto protector. Timorato como é, receia penetrar no vasto jardim da litteratura, onde deseja adquirir o fructo de suas lucubrações, e colher algumas flôres, dignas de compôr um ramalhete que possa ser-vos offertado. O nascente SEMANARIO é qual orphão abandonado no seio de um povo inculto, que necessita de um guia e de um protector. […] elle, de sua parte envidará todos os esforços para apresentar-vos chistosos artigos, suaves e melodiosas poesias, deleitaveis contos, engraçadas anedoctas, curiosas adivinhações e charadas, picantes epigrammas, apreciaveis logogryphos, anagrammas e enygmas pittorescos, bons romances e artigos sobre religião, artes e sciencias, e critica joco-seria, quer proprios, quer transcriptos. […] Entregamos, pois, benigno leitor, sob vosso auspicio o nosso recem-nascido, e contamos desde já com o bom acolhimento de vossos amigos.


Numa publicação voltada para a literatura, não poderiam poemas e contos. Quase todos assinados com pseudônimos, como Mariposa, Eu, M., A. J. de Souza, Ex., Pereira de Abreu, Javert, A. C. de Oliveira, G. P., Eva Junior, entre outros. Encontramos também textos publicados de jovens principiantes que buscavam n’O Semanário o local para suas “tentativas literárias”.


Em 30 de agosto de 1863, no fascículo de número 10, encontra-se uma belíssima homenagem de despedida a João Caetano dos Santos, o mais importante encenador e ator brasileiro do século XIX, que havia falecido seis dias antes no Rio de Janeiro. A homenagem vem em forma de poema, assinado por M.:





A João Caetano dos Santos

Não devia morrer! inda era cedo
Pra seu corpo baixar à sepultura!
(Paula Brito)Ei-lo! deste mundo arrebatado
Pela morte fatal, monstro cruento,
Cuja vida ceifou, cruel, insana,
Desse que do palco era um portento!

Essa fronte de artista soberano,
Que ostentou-se no mundo, sem igual,
Pendeu, como a flôr, que é açoutada
Pelo sopro do rijo vendaval!

Foi um astro brilhante, que espargiu
Na scena brasileira raios mil!
Foi um genio! Do qual deve ufanar-se
O solo abençoado do Brasil!

Sua vida tão cara neste mundo
Que era arrinio de tantos desgraçados,
Pelo anjo da morte foi tolhida,
E arrojada no pó entre os finados!

Seu corpo venerando jaz alfim,
Sem vida e sem alento sob a lousa!
E su’alma recebe a recompensa
De Deus em cujo seio hoje repousa!

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