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O Ziza

por Maria Ione Caser da Costa
O Ziza foi um periódico que fugiu aos padrões dos títulos seriados. Lançado em Recife, capital do estado de Pernambuco, região nordeste do Brasil, teve como particularidade homenagear uma determinada pessoa.

De acordo com a NBR 6023 (Norma Técnica Brasileira) de agosto de 2002, da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), publicação periódica ou seriada é toda publicação em qualquer tipo de suporte, editada em unidades físicas sucessivas, com designações numéricas e/ou cronológicas, iniciada com o número 1 e destinada a ser continuada indefinidamente. A publicação seriada necessita ter uma periodicidade continuada e comunicar notícias específicas ou de temas variados. De um modo geral, seguindo as regras biblioteconômicas, a publicação produzida para homenagear determinada pessoa é tratada como livro. Mas O Ziza foge a estes paradigmas.

O Ziza foi publicado em homenagem a Zeferino Gonçalves Agra (1867-1929), o dr. Ziza. De acordo com Luiz do Nascimento em História da imprensa de Pernambuco, O Ziza é uma poliantéia publicada inicialmente “no dia do seu aniversário natalicio, a 26 de agosto de 1905, formato de 23x16, com quatro páginas, a cores, figurando na primeira o retrato dele”.  A Biblioteca Nacional não possui esse exemplar.

Ainda de acordo com Nascimento, “em 1906 circulou o segundo ‘número único’, sendo a primeira página, trabalhada em vinhetas, ocupada por um soneto de Simão d’Almeida”.

Na Biblioteca Nacional podem ser consultados através da Hemeroteca Digital os exemplares publicados na data seu natalício, dia 26 de agosto, nos anos de 1909 e 1911, que receberam como designação cronológica a informação de ano 42 e ano 44. Sendo que esta informação corresponde a idade que o homenageado completava no ano da publicação.

Os exemplares de O Ziza que fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional foram impressos pela Typographia a Vapor de J. Agostinho Bezerra, que estava localizada na rua do Imperador, nºs 31/33.

A capa do exemplar de 1911 traz uma foto do busto do dr. Zeferino Gonçalves Agra, acompanhado de texto de Antonio Nogueira com o título “Justa homenagem”:

 
Em uma epocha em que se pretende fazer figura pelo egoismo, orgulho e vaidade, ser-se generoso, sincero e principalmente modesto, parece ser isso um defeito; pois bem, é esse o grande defeito que tanto ennobrece o Zeferino Agra.

Espirito eleito para espalhar o bem sobre a terra, coração dotado da pureza do arminho, o bom amigo acolhe sempre com a mesma affabilidade tanto os grandes como os pequenos, e para com todos o mesmo riso franco a brincar-lhe nos labios. [...]

A esta prova de amisade e regosijo eu também, de coração, hoje me associo.

Todas as matéria, em prosa ou em verso homenageiam e agradecem ao dr Ziza. Sabe-se que ele foi advogado, vereador e integrante da maçonaria, sendo Grão-Mestre do Grande Oriente e Supremo Conselho para o Norte do Brasil. Em Pernambuco colaborou para a construção do edifício onde hoje funciona a Loja Grande Oriente de Pernambuco (GOPE), e da Loja Maçônica Conciliação. É também nome de rua na capital pernambucana.

Na Hemeroteca Digital foram encontrados algumas notas sobre O Ziza. A seguir, como exemplo, o pequeno texto publicado na quinta coluna da primeira página de A Provincia do dia 27 de agosto de 1911: “Passou hontem o anniversario natalicio do dr. Zeferino Gonçalves Agra, a quem foi feita expressiva manifestação de apreço por parte de numerosos amigos. C' mo nos annos anteriores, circulou O Ziza, pequena polyanthéa em homenagem áquelle estimavel cavalheiro.”

Colaboraram em O Ziza com saudações e homenagens: A. Vilaça, Albuquerque Lins, Antonio Nogueira, Arnobio Marques, Francisco Ratis, Narcizo de Almeida Maia, Olimpio de Sá, Sergio da Silveira, dentre outros. A seguir um pequeno poema publicado em suas páginas, assinado por Vieirinha.

 

Ao ilustre Dr. Zeferino Agra

No peito de cada amigo

Vós tendes de ouro um altar!

E todos um vasto abrigo

Junto a vós vão encontrar.

 

E assim, das córdas da lyra,

Em phrase alegre e consisa,

Eu tiro doces accórdes

P’ra vos saudar, Dr. Ziza.

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