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Palladivm: revista litteraria

por Maria Ione Caser da Costa
Palladivm: revista litteraria foi lançada no Rio de Janeiro prova­velmente em 1899, tendo como redatores o literato fluminense Pereira da Silva, o jornalista cearense Alvaro Bomilcar (1874-1957) e Pausillipo da Fonseca.

A revista foi editada pela Typografia L. Miotto, localizada no "Becco do Fisco, nº 13”, atual Beco das Flores, próximo à rua Buenos Aires, no Centro do Rio. O Beco do Fisco está lembrado em poema impresso no número 62 da revista Tagarela, do dia 30 de abril de 1903. A seguir um excerto do poema e o endereço digital para quem desejar conhecer a publicação ou continuar a leitura:

 
Lições de historia

Foi Scipião A fricano

Que impoz taxa sobre o cisco,

Quando estudava piano

Perto do becco do Fisco

Por isso é que o ministério

Deliberou por tres votos

Não haver neste hemispherio

Mais de quatro terremotos.

 

O governador de Thebas

Que andava muito doente

Veiu curar as perébas

Com o Dr. Abel Parente

M as não tendo entrada franca,

Moveu-nos bem crua guerra,

Espalhando pela terra

Mosquitos de pança branca.

Na Biblioteca Nacional só existe um exemplar da revista literária Palladivm, que recebeu a designação numérica de ano 1, número 1. Não consta no cabeçalho data do lançamento da publicação. A data mencionada acima como data provável, baseia-se em notas colocadas nas páginas da revista.

Palladivm, como muitas publicações lançadas no século XIX, nasceu idealizada por jovens, que uniam suas forças e estudos para transmitir seus conhecimentos aos leitores ávidos por saber. Pretendiam falar das letras, do literário e clarificar as mentes. Planejavam que a publicação conseguisse ter uma continuidade, mas teve uma vida efêmera. É do editorial do primeiro exemplar, intitulado ‘Nosso ideal’ que retiramos as palavras a seguir:
Para muitos espiritos, pouco sensatos talvez, é um tempo perdido esse nosso, em que cuidamos de lettras.

E, quando pretendemos justificar nossos fins, nosso amor pelos estudos litterarios, elles antepoêm aos nossos olhos, como justificação de suas idéas, uma infinidade de objeções, cada qual, porém, menos digna. Que lucro auferimos de versos? De que nos servem litteraturas? E mil outras semelhantes perguntas, indignas de um povo, cuja indole embora transviada pelo mercantilismo da época, é incontestavelmente poética. Esses pretensos espíritos positivos, si é que são espíritos, têm influido dest'arte para que hoje pouco se cuide, principalmente entre os moços, de tão bellos estudos. Raros são os que se dedicam, sinceramente, á cultura de nossas letras.

Entretanto, apezar de toda essa negação descabida, de todo esse criminoso desdem, alguma cousa se ha feito.

É uma prova esmagadora de nossa intellectualidade.

E essa prova é tanto mais esmagadora, quanto não ignoramos as difficuldades com que lucta, entre nós, todo aquelle que procura augmentar nosso erario artistico. Todos os dias vemos apparecer revistas, periodicos litterarios, cuja existencia, porém, raramente ultrapassa o espaço de um anno, tempo aliás muito pouco para seo desenvolvimento....

Mesmo com a incerteza de continuidade, seus editores tinham a consciência de que, apesar das dificuldades que encontrariam, conseguir publicar uma revista literária, teria grande valor para a "cultura das letras". Ainda sobre a revista, segue o editorial, que não está assinado:
Publicando este periodico litterario, estamos longe das pretenções de querermos realisar esse ideal de todos os povos. Isto seria objecto de riso: comtudo, não silenciaremos o desejo, que nos alimenta, de esperar o concurso de toda a nossa mocidade, que se presa e que estuda, afim de que possamos, na medida de nossa capacidade, iniciar nossa carreira.

Eis o principal objectivo do "Palladivm".

Medindo 34,5cm x 23,3cm, a revista não apresentou ilustrações em nenhuma das quatro páginas que compõem o exemplar. Diagramado em três colunas, publicou crônicas, poemas e pequenos textos literários. Alipio Bandeira, Alvaro Bomilcar, Arthur Benicio, Carlos Raposo, Dulcilia Luz e Pausillipo da Fonseca são os nomes dos colaboradores da publicação.

Selecionamos um excerto do poema “Volapuk a valer...”, de Alvaro Bomilcar, que apresenta uma dedicatória “Ao distincto e joven pintor cearense João Macedo – o sympathico Cary-Siara da Escola de Bellas Artes – ofereço esta ESCUSA PESSOAL”.

 

Volapuk a valer...

            Notavel é que eu, sendo indígena, cearense,

            Cabôclo do sertão, brazilico sem jaça

            Perceba essa poesia, remota, dannubense,

            Como si fôra nado ao sol d’aquella raça!

 

Esclavonia vulgar, ruiva, emigrada

Das terras frias onde corre o Volga,

Muito infeliz e muito... procurada

- Tendo um cãosito e se chamando Olga, -

N’uma sala de luxo residia,

Em o mesmo palacio em que eu morava:

Tão linda tinha a voz que dir-se-hia

Mensageira de Deus quando cantava!

 

Um dia, de proposito, eu falhara

Meus cotovellos á repartição.

Todo o tempo da tarde consagrara

Ora á leitura, ora á meditação.

Subito a voz... a mesma voz correcta!

O mesmo tom gracioso e delicado,

A repetir a queixa predilecta,

De lyrismo povoou todo o sobrado![*]

 



[*] Continue lendo o poema em: http://memoria.bn.br/DocReader/739146/2

 

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