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Pliuana: bólide litterario

por Maria Ione Caser da Costa
Encontrar na coleção de periódicos da Biblioteca Nacional um título com um nome tão distinto aguça a curiosidade. Dele existe somente um fascículo. Não se tem notícia da continuação desse título.

Inicialmente, um primeiro olhar para conhecer a obra. Depois, desvendar o significado do título... Pliuana: bólide litterario. O que é ‘Pliuana’? Do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa não consta essa palavra. ‘Bólide’, de acordo com o dicionário, é “meteorito de dimensões apreciáveis que, na forma de um globo inflamado e brilhante, atravessa velozmente a atmosfera terrestre, podendo fazer ruído, deixar rastro luminoso e mesmo explodir”, e por analogia é “qualquer corpo cujo deslocamento se dá em grande velocidade”.

No periódico, logo abaixo ao título aparece a seguinte frase: “Sem filiação a eschola conhecida; escripto em prosa chilra e verso côxo por J. T. Machado. Sem titulos ou recomendações á admiração hodierna e postera”.

Uma publicação que se pretendia diferente, na saara dos títulos que começavam a circular. João Teixeira Machado era o nome completo do editor, que assina J. T. Machado. É ele quem escreve as oito páginas que formam o periódico, onde afirma que não será lido por ninguém.

O periódico Pliuana foi vendido ao preço de 200rs, diagramado em uma única coluna e teve oito páginas. Não apresentou ilustração.

Nenhuma informação foi encontrada para a escolha do nome que dá título ao periódico. Em suas páginas também não há identificação de qual estado foi publicado, nem a data de publicação. A informação que consta do catálogo da BN informa ser um periódico publicado no Rio de Janeiro.

No número 295 do ano de 1882 da Revista illustrada encontramos a seguinte nota a respeito da publicação: “Pliuana é o titulo dum folheto escripto em prosa e verso por J. T. Machado, que ameaça continuar”.

  1. T. Machado escreve no editorial:


Assim como á gravitação ignorada do Bolide desloca uma força desconhecida, despenhando-o atravez da atmosphera para um ponto de attracção, assim o Pliuana se despenhou da minha obscuridade para o nickel do publico. Os pontos de semelhança que me fizeram denominal-o Bolide Litterario estão na minha obscuridade, na força deslocadora, e no ponto de attracção, sem que por um momento tivesse a presumpção de que uma facha luminosa apparecesse na atmosphera publica, na rápida carreira do seu apparecimento e queda [...].

O editor temia que os literatos da época não se sentissem atraídos por sua publicação, deixando-a no esquecimento:
O meu Pliuana não attrahirá por certo a attenção dos astronomos litterários, abalançando-os ao exame da matéria de sua composição; pelo desvio que leva da terra da promissão scientifica irá ter ao oceano da indifferença, onde se atufará para sempre no esquecimento: Seja como fôr, cumpri um dever, e lancei um anzol ao nickel, metal que estimo ainda mais do que o ouro, por ser o de que são feitas as colheres com que eu levo a sopa á bocca.

Logo a seguir lemos na ‘Dedicatoria’, onde Machado se identifica como sendo um alfaiate de profissão, que não estava a altura de tão belo feito:
Ao meu amigo Manoel de Castro Seixas Rodrigues. O clássico O. D. C. [Oferece, Dedica, Consagra] com que os litteratos costumam dedicar as suas obras não póde por mim, obscuro e rude official de alfaiate, ser empregado, sob pena de affectação ridícula. Caberia, se a offerta que te faço do meu mesquinho trabalho, partisse de um sábio laureado pelo prestigio popular a um monarcha; [...]

No texto seguinte intitulado ‘Prefacio’ o editor segue num diálogo com os leitores colocando-se como um aprendiz de poeta ou de escritor. Ainda no prefácio Machado julga a ideia de se fazer conhecer como poeta e redige o seguinte poema:

 

Soneto

Onellia, meu amor, eu não quizera

Dar azas em meu peito, ao sentimento,

Porque temo este affecto violento

Que o triste coração me dilacera;

 

Queria não te amar, se tal podéra

Eximiria a minh’alma a crú tormento,

Pois vejo para nós o casamento

Tão possível ser qual é chiméra;

 

Mas não póde o coração a amor votado,

Prescindir de affecto em si tão nobre,

Jazer na própria vida, sepultado;

 

Rasgue-se o véu que a ti me cobre

Desafogando o coração amargurado,

- Amo-te, meu amor – mas sou tão pobre!

 

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