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Revista do mez: periodico ilustrado

por Maria Ione Caser da Costa
A Revista do mez foi publicada no Rio de Janeiro e circulou entre os anos de 1919 e 1920. Com periodicidade mensal, seu primeiro exemplar foi lançado em novembro de 1919, data apontada na capa. Entretanto, na página de rosto aparece como designação cronológica o dia 1º de dezembro de 1919.

Foram seus diretores Fabricio Velho e Lopes Sampaio. A redação da revista funcionava em um sobrado no número 60 da rua da Quitanda. Seu número avulso foi vendido por $500 e o número atrasado pelo dobro, 1$000. A assinatura anual valia 5$000 para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, e 7$000 para os outros estados.

A Biblioteca Nacional possui os três primeiros exemplares dessa coleção. Além do primeiro, informado acima, os números 2 e 3 de janeiro e fevereiro de 1920, respectivamente. Ainda não estão digitalizados. Seus originais encontram-se na Coordenadoria de Publicações Seriadas. Em bom estado de conservação, até que sejam digitalizados, a consulta aos fascículos só poderá ser presencial.

Medindo 27 cm x 18 cm, foi impressa em papel couché. Apresenta capa ilustrada e gravuras de excelente qualidade em seu interior, inclusive algumas coloridas. Sua materialidade parece competir muito bem com algumas revistas que já tinham boa aceitação do público ledor naquele início dos novecentos.

As seis primeiras e últimas páginas de cada fascículo estão repletas de anúncios variados de produtos ou de atividades comerciais. Como exemplo citamos “Restaurant Assyrio no Teatro Municipal”, “Ao Moinho de Ouro”, “Bar Olympia” e “Tintura Jardy”.

Revista do mez trazia em suas páginas, matérias de interesse geral, crônicas, poesia e artigos sobre literatura, incluindo também notícias sobre os esportes. Na seção intitulada “Revistinha” eram registrados os acontecimentos do mundo do jornalismo e das letras.

Do editorial, assinado por “a direção”, são as palavras descritas abaixo:
Apresentando hoje a “Revista do Mez” ao publico, fazemol-o cheios de confiança nos seus destinos.

Vemol-a apparecer sob os melhores auspicios, rejubilando-nos com a expectativa favoravel em que a seu respeito se têm mantido a imprensa e o publico. Animanos, além disso, o aplauso que do adiantado commercio da capital tem recebido a nossa iniciativa.

Com os novos horizontes que a paz ora desvenda ao mundo, com a posição de destaque em que a nossa co-participação na guerra nos colocou, fazendo afluir ao paiz milhares e milhares de estrangeiros, que aqui vêm expandir as suas atividades, novo campo vastíssimo abre-se á imprensa, que se irá desenvolvendo – adaptada a novos moldes, modernizada. [...]

Já se encontram entre nós profissionais da pena que tiram todos os meios de subsistência do seu nobre mister, sem que, como outrora, na sociedade se mantenham em posição inferior. [...]

Contudo com o generoso acolhimento do publico, não pouparemos canceiras para dar a “Revista do Mez” cada numero mais desenvolvida e interessante, procurando corresponder assim ás necessidades da imprensa em um paiz culto.

Como colaboradores da Revista do mez temos Alberto Otto, Americo Leal, Antonio Braga, Arnaldo de Azambuja, Ascanio Magno, Carlos de Magalhães, Castro Lima, Condessa de Marajó, C. T. C., Fabricio Velho, Heitor Lima, Henrique de Magalhães, Jorge de Mendonça (1879-1933), Luiz Edmundo, Mario Ferreira, Olegario Mariano (1889-1958), Pedro Luciano e Xavier Pinheiro.

É de Pedro Luciano o poema que transcrevemos a seguir, publicado no primeiro exemplar, com o título de “Versos a Maria”.

 

Versos a Maria

Maria, estou fascinado,

Faz-me mal o teu olhar:

É mais negro que o pecado,

É mais profundo que o mar...

 

Os teus cabelos, Maria,

Laçaram-me o coração,

Quando, assustado, fugia,

Palpitante, à tentação...

 

Pedi aos santos socorro,

Chamei por Nossa Senhora:

Accudam! Virgem, eu morro!

Salvem-me já, sem demora!

 

Pensava escapar ileso,

Já dava graças a Deus...

Sem esperar, fiquei preso,

No visgo dos lábios teus!

 

Não sei, Maria, este nosso,

Amor já dá pra falar:

Quero fugir-te - não posso,

E temo tanto ficar!

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