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Revista litteraria e recreativa

por Maria Ione Caser da Costa
Esta é mais uma revista literária publicada na Corte do Rio de Janeiro pela Typographia de Francisco de Paula Brito. Paula Brito, como era popularmente conhecido, foi muito importante para o movimento editorial brasileiro. De origem modesta, negro, foi tipógrafo e livreiro, além de poeta, sendo considerado o percursor da imprensa literária brasileira.

O primeiro exemplar da Revista litteraria e recreativa foi publicado em 03 de dezembro de 1857 e, como a maioria dos periódicos desta época, os editores tinham a preocupação com o caráter moralizador e formador da cultura brasileira. Intelectuais que propagavam seu conhecimento.

O editorial de apresentação da publicação intitulado ‘Introdução’, é assinado por ‘Os redatores’, e assim inicia:

Esta nova publicação periódica, que apparece, não precisa de outro preâmbulo, que o simples seu titulo: Ella é tão sòmente feita para quem a quizer lêr e entreter-se com Ella por alguns momentos, occupando a sua atenção com materias litterarias e divertidas, e principalmente com o quadro, analyse e censura das necedades [sic], tolices e loucuras dos litteratos e poetas de meia tigella, cheios de orgulho e de basofia desmedida, e sobre tudo dos críticos indiscretos, que censuram nos outros defeitos menores, ou iguaes aos seus próprios.


Na Biblioteca Nacional encontram-se quatro exemplares da Revisa litteraria e recreativa. Os três primeiros estão disponíveis na Hemeroteca Digital: além do número 1, mencionado acima, o segundo foi publicado em 24 de dezembro de 1857, e o terceiro em 28 de janeiro de 1858. Todos os fascículos originais estão armazenados na Coordenadoria de Publicações Seriadas da BN.
O exemplar de número 4, publicado em 08 de março de 1858, ainda não está digitalizado.

Encontra-se encadernado com outros títulos num volume denominado ‘miscelânea”, prática comum na BN que encaderna vários títulos em um único volume. Geralmente fascículos formados por um número pequeno de páginas. Este método prioriza a preservação dos fascículos e diminui o espaço utilizado com o armazenamento.

Uma particularidade observada naquele volume é o fato da encadernação ser produzida na oficina tipográfica que funcionou na BN no início do século XX. Foi utilizado um artifício para aumentar o tamanho da lombada dos periódicos, facilitando a encadernação: ao final do último fascículo, foram inseridas várias folhas em branco. Este é um processo encontrado em alguns volumes existentes no acervo.

O primeiro exemplar da Revista litteraria e recreativa é composto por 12 páginas, divididas em duas sequencias numéricas: a primeira tem início com a página 1 indo até a impressão do número 8 em numeração sequencial, onde aparecem as seções e matérias da publicação. A segunda sequência numérica retoma ao número 1 indo até o número 4. Estas páginas funcionam como um encarte e trazem impressos os versos do poema intitulado “Oscar d’Alva poema de Lord Byron traduzido do original inglez, verso por verso, e offerecido ao Illm. Snr. Dr. Antonio Felix Martins pelo seu amigo João Cardoso de Menezes e Souza”. Os segundo e terceiro exemplares possuem 8 páginas cada. O quarto número está com 10 páginas, entretanto a décima aparentemente não terá sido a última, pois continuação do texto.

Ao título, segue-se a seguinte frase “Publica-se, indeterminadamente, na praça da Constituição n.64”. Suas páginas foram diagramadas em duas colunas, sem nenhuma ilustração. As colunas e os artigos são separados por um fio simples. Não são encontrados os nomes de seus redatores.
Alguns dos colaboradores fazem parte do corpo editor da publicação: Homem de Mello (1837-1918), José Rodrigues Coelho e Gonçalves de Magalhães (1811-1882). De um modo geral os textos e poemas trazem o sentimento nacionalista que marcou o início do romantismo no Brasil.
A Revista litteraria e recreativa publicou trabalhos e discursos de Martim Francisco Ribeiro de Andrada, sobrinho de José Bonifácio de Andrada e Silva e irmão de José Bonifácio, o Moço; poemas de Antonio Gonçalves Teixeira e Sousa, outro dos precursores do romantismo no Brasil; o poema Napoleão em Waterloo de Domingos José Gonçalves de Magalhães. Com este poema Gonçalves de Magalhães inaugurava duas décadas antes do lançamento da Revista litteraria e recreativa o movimento que pertenceria à primeira geração do romantismo brasileiro.

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