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Revista moderna: magazine semanario illustrado

por Maria Ione Caser da Costa
A Revista moderna foi lançada em Recife, capital do estado de Pernambuco, no dia 9 de julho de 1906. Publicação semanal, era “propriedade de uma associação”. Foi impresso pela Typographia Agencia Jornalistica Pernambucana, sob a responsabilidade de Julio Agostinho Bezerra, situada na rua do Imperador, nºs 31 e 33, onde também funcionava a redação da revista.

O semanário foi criado por jovens estudantes, recém-formados em Direito, dentre eles, Adalberto Marroquim (1888-1940), Cardoso de Oliveira (1865-1962) e [José Maria] Moreira Cardoso (1887-1907[*]).

Todas as capas e as primeiras páginas foram ilustradas com desenhos ou charges a bico-de-pena.  Til, pseudônimo de Osvaldo de Almeida, Job e Joca colaboraram com desenhos que acompanhavam os artigos. Herculano de Albuquerque, pseudônimo de Guapy, e Pierre foram os diretores artísticos.

O número avulso da Revista moderna foi vendido por $200, e os números atrasados eram adquiridos por $400. Para as assinaturas, o pagamento deveria ser feito antecipadamente, e os valores cobrados eram de 3$000 para a assinatura trimestral e 5$000 para a anual. Os responsáveis pela publicação aceitavam contribuições literárias ou artísticas, só não aceitavam ataques pessoais.

No editorial, com o título “Away!”, os editores, afirmam o desejo de trabalhar para engrandecer o estado de Pernambuco se mostrando contrários a “politicagem, baixa, vil, nojenta, - cancro que se infiltrou no organismo social e que talvez seja impossível se extirpar”. A seguir um excerto do editorial:
Na vasta arena da imprensa pernambucana, apparece hoje esta pequena revista, mantida por um grupo de moços amantes do Bello e do Direito, e cujo programma poder-se-ia definir em poucas palavras.

É da pragmatica em taes occasiões desdobrar-se ante os olhos do leitor generoso, um artigo programma, no qual de permeio com as flores de rethorica e a indignação patriótica distillando chispas são concretizadas todas os desejos, anhelos e aspirações do jornalista e feitas innumeras promessas, semelhantes as que são enunciadas em plataformas, por conhecidos políticos, e que jamais foram safisfeitas.

Somos reflactarios a exhibições e deslealdades, e, modestos, despretensiosos, porém sinceros, diremos unicamente, que desejamos trabalhar pelo engrandecimento de Pernambuco e concorrer com o nosso fraco contingente para a prosperidade da Patria. [...]

A Revista Moderna, recolherá em seu seio todas as idéias nobres, fecundas e generosas, e sem fazer questão de crenças religiosas e idéaes políticos, ella acceitará a defesa de tudo quanto fôr justo e alevantado.

Na Hemeroteca Digital podem ser consultados os 12 exemplares da coleção. Cada fascículo foi formado com 18 páginas e cada página dividida em duas colunas. O último exemplar foi o número 12, publicado em 24 de setembro de 1906.

Em todos os exemplares, cinco ou seis páginas, foram destinadas a anúncios, dentre eles: Alfaiataria Costa, A Florida Miudezas e Perfumarias, Livraria Francesa de J. W. de Medeiros, Loja da Noiva de Octavio Bandeira, A Indiana, Galeria Elegante, Chapelaria Seve, Photographia Victoria, Clínica do Dr. José Barros Filho.

As matérias publicadas nas páginas da revista estão divididas pelas seções: "Chronica", por Felix Bertholdo; "Perfil Academico", por Epaminondas; “Folhetim", por Cardoso de Oliveira; "Maximas e Reflexoes"; "Fagulhas"; "O que eles fazem". Publicou também comentários variados, notícias, poesias, crônicas e textos em prosa, além de organizar concursos. Para o sorteio, todos os exemplares eram numerados e “o leitor que tiver o exemplar cuja numeração corresponda ás tres finaes da loteria federal que se extrahir na quinta-feira próxima, receberá na Agencia Jornalistica Pernambucana, a quantia de 5$000.”

Colaboraram com a Revista moderna Araujo Filho, Alcino Maia, Adalberto Marroquim, Moreira Cardoso, que também utilizou o pseudônimo de Domingos de Paschoa, Adelmar Tavares, Pelopidas, Severino Leite, Treloso, Miranda d’Azevedo, Antonio Carneiro Leão (1887-1966), Joao Fioravante, Nolasco e Fabricio Teles.  Dos vários poemas publicados na revista, copiamos a seguir o soneto “Candida”, de Antonio Carneiro Leão.

 

Candida

Quizera reclinar o cérebro cançado

No doce collo teu de immaculada alvura

Ouvir no palpitar do coração amado,

Um poema de amor, de luz e de ternura.

 

Quizera para a dôr atroz que me tortura

Receber no teu seio o balsamo sagrado,

E comtigo esquecer a minha desventura,

Dobrando folha á folha o livro do passado.

 

Ai não rias de mim, ampara-me os desejos,

Sacia-me de amor, suffoca-me de beijos

E mata-me de luz; que eu morra apaixonado,

 

Sorvendo no teu labio o mel de um’outra vida,

Aonde hei de cantar o nosso amor, querida,

Murmurando baixinho um nome abençoado.

 

[*] Conferir nome, datas de nascimento e morte http://memoria.bn.br/DocReader/066559/2536

 

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