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São Paulo artístico: revista artística e literária

por Maria Ione Caser da Costa
São Paulo artístico: revista artística e literária foi lançada na cidade de São Paulo em maio de 1918. Este exemplar, designado ano 1, número 1 é o único que existe na Biblioteca Nacional. Ainda não foi digitalizado, portanto, para consulta é necessário estar presencialmente na Coordenadoria de Publicações Seriadas.

Em pesquisa na web não foram encontrados outros fascículos que pudessem dar uma visão mais abrangente do periódico. Na última pagina deste exemplar consta a seguinte nota: “O nosso segundo numero sera augmentado em suas dimensões e numero de paginas, bem como sahirá aformoseado com muitos clichés e collaborações que não puderam sahir no primeiro”.

Felix Carvalho foi o diretor geral e Aurelio Miranda o diretor gerente. A redação funcionava à rua Veridiana, 65, não apresentando, contudo, nome de editora responsável.

São Paulo artístico mede 23cm x 17cm, é composto com 12 páginas com algumas ilustrações. Sua diagramação foi efetuada justificada em duas colunas. Alguns desenhos ornam as páginas com poemas.
O exemplar avulso foi vendido pelo valor de $300, não sendo encontrado em suas páginas valores para que seus leitores pudessem fazer assinatura.

O editorial, com o título ‘S. Paulo artístico’ indica o que o público pode esperar de seus editores: viver para conseguir os aplausos generosos dos amantes da arte.

Mais uma revista! – exclamará o leitor. É a eterna praga das revistas!
Sim, leitor amigo, é uma revista. Não, leitor amigo, não é mais um meio de “cavação” a acrescentar á vasta classe dos instrumentos de cavar.
A “S. Paulo Artistico” não publica artigos laudatórios aos senhores membros do governo. Não estampa photographias dos exercícios da Força Publica. Não afirma que o Brasil é S. Paulo. Não tem gosto pelo caipirismo ingenuo, nem olhos cubiçosos para o dinheiro do Thesouro.
A “S. Paulo Artistico” é, politicamente e religiosamente, como uma creança pagã. Uma grega nascida séculos antes de Venizelos, num tempo em que a vida decorria na adoração dos deuses formosamente humanos, sob a cúpula de um céu azul é á beira de mares povoados de sonhos.
Num tempo em que bastava á ambição humana, para o corpo, uma azeitona madura, para o espírito-historias de heroes contadas na língua mais perfeita que já existiu.
A “S. Paulo Artistico” é uma pura revista de arte, creando talvez os seus heroes e os seus deuses, mas á maneira que a mitologia helena os creava: pelo, vigoroso impulso do seu amor ao bello.
A “S. Paulo Artistico” pois, só quer viver para os amantes da arte. Só busca o seu applauso generoso. Conseguindo-o terá conseguido, com desvanecimento, o seu modesto programma.


Em suas páginas encontram-se publicadas crônicas, notícias musicais e teatrais não assinadas e composições poéticas de Joviano Varella Homem de Mello e Rodrigues Crespo.
A seguir, o soneto de Joviano V. Homem de Mello publicado na página 7 de São Paulo artístico.

A ironia dos sinos

“Quando nasceste, teus irmãos sorriam...
Mais sensiveis talvez ao funerário,
Porque morrêra alguém, do campanário
Maguados bronzes trêmulos gemiam.

Fiquei nervosa qual se teu fadario
Nas coisas negras, visse, que diziam,,,
E quando em pannos brancos te envolviam,
Julguei que te envolviam num sudario!...”

Assim me disse minha Mãe doente
E, como santa, logo após morreu...
(Celebravam-se bodas nesse dia.)

E aquelles sinos d’uma voz dolente,
Que deram pezames a quem nasceu,
Traziam parabéns a quem morria!...

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