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Tribuna academica: periódico scientifico e litterario

por Maria Ione Caser da Costa
Tribuna academica: periódico scientifico e litterario foi lançado numa sexta-feira dia 1º de julho de 1864, no Rio de Janeiro. Uma publicação voltada para o mundo estudantil.

Editado pela Typographia de Domingos Luiz dos Santos, que estava localizada no número 20 da rua Nova do Ouvidor, local que também recebia os pedidos de assinatura e “para onde deve ser dirigida toda a correspondência”.

Na Biblioteca Nacional estão os seis primeiros exemplares desse título, que podem ser consultados na Hemeroteca Digital. O de número seis, ultimo da coleção, foi publicado em 20 de setembro daquele ano. Não foi possível definir se o título teve continuidade. Sua periodicidade era quinzenal.

Diagramado em duas colunas divididas por um fio simples, não apresentou ilustrações. O editorial de lançamento, num linguajar explicativo e acadêmico, apresenta o periódico, enumerando as qualidades que seus editores julgavam necessárias para tentar unir as grandes escolas da época: Central, Militar e de Medicina.
Dar aos lidadores novéis guarita útil e franca;

Provocar o concurso das intelligencias pelo meritório incentivo da emulação;

Estreitar em fraternal amplexo as Escholas Central, Militar e Médica;

Procurar com o concurso das tres attingir uma mira grandiosa e útil;

Animar e acoroçoar os esforços d’aquelles que com ardor e interesse se entregam ás lidas intellectuaes;

Entregar a appreciação de todos o resultado dos estudos, filhos das mesmas Escholas;

Espancar o preconceito, que de collo erecto, impera entre nós de que só á sábios é dado expender suas idéias;

Calar nos peitos de todos a verdade – de um soldado bisonho não ha exigir-se manejos de general;

Indagar do critério d’aquilo que nos dizem os provectos nos estudos;

Habituar os principiantes ás investigações scientificas;

Convence-los de que, por pouco que se distinguam no certame, opimos são, não obstante, seus despojos;

Eis as aspirações de nossa Tribuna.

Nada de programmas pomposos, porém falsos;

Nada de comparar os passos vacilantes e incetos dos novatos com o caminhar firme e prenhe de interesse, dos abalisados;

Viver vida modesta porém util é todo o desideratunm do nosso periódico;

Falhas têm sido muitas tentativas semelhantes, mas qual infeliz á borda de um abysmo, não há para nós recuar.

Sabemos aquilatar a difficuldade da tarefa, porem não retrogradamos.

Considerar-nos-hemos onzenados se, em retorno de nossos esforços, obtivermos indulgente e animador acolhimento.

Com oito páginas cada exemplar, publicou crônicas, folhetim, poemas, contos, artigos sobre a história do Brasil, astronomia, além de estudos e exercícios matemáticos, tratados médicos e filosóficos. Uma gama de artigos envolvendo alunos das escolas abarcadas com a publicação. Sabe-se apenas que o periódico envolveu alunos das mais diversas áreas do conhecimento interessados em partilhar informações.

Alguns dos colaboradores encontrados em suas páginas: A. Norbertino, A. F. Duarte, Amédéé  Pichot, Benjamin F. Albuquerque Lima, Bernardo Gomes Braga, Corrêa de Miranda, F. H. Pereira Lima; Filinto Gomes de Araujo, J. Clarindo de Queiroz, J. Duarte Silva, J. G. Kemnitz, J. Ribeiro da Silva Junior, Julio C. Ribeiro de Souza, L. J. da Silva Junior, M. dos Passos e Figueiroa, R. Montenegro.

Dentre as várias poesias encontradas nas páginas de Tribuna acadêmica, selecionamos o poema “Á ella”, de A. Norbertino.

 

Á ella

Se é doce nos prados ouvir-se o murmúrio

Das águas, que leves serpêam cristaes;

Se é doce o gorgeio sonóro das aves,

D’abelha o zumbido nos seus laranjáes;

 

Se é doce uma nota da terna saudade

Vibrada na clave de dores transida;

Se é doce o sibilo da brisa nos bosques,

Nas grutas sombrias, na selva florída;

 

Mais doce, sublime, tem mais melodia

Um canto que entões ao leve teclado,

Qual anjo tangendo na Lyra divina

Um hymno celeste de amor inspirado.

 

Teus olhos são astros gentis luminosos,

Que ateam nas almas centelhas de amor;

Teus lábios são puros rubins preciosos

São folhas de rosa purpurea na cor;

 

Teus negros cabellos, folguedo innocente

Do loiro e travesso menino vendado,

Do arco tecenram-lhe a corda, que a séta

Despede-se a ferir-me no peito abrasado.

 

Teu seio?!... não posso, não devo cantar

Um santo thesoiro de excelsa candura!!

A lyra se quebra buscando uma nota

Mais alta que os astros, que os anjos mais pura!

 

Perdoa, mimosa, se os meus devaneios

Em loucos transportes te ousáram cantar;

Se crime commetto, só Deus é culpado;

Quem pode te vendo, deixar de te amar?!!

 

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