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Voz do Christão na Terra da Santa Cruz: jornal religioso

por Maria Ione Caser da Costa
Periódico religioso, como afirma seu subtítulo. Foi publicado no Rio de Janeiro pela Typographia Brasileira, que estava localizada no segundo andar da rua de São Pedro, n. 100. A rua de São Pedro hoje não existe mais, em 1943 na construção da avenida Presidente Vargas transformou-se na pista lateral direita, no lado par.

A Voz do christão na terra da Santa Cruz: jornal religioso é o título deste periódico e os exemplares existentes na Biblioteca Nacional pertencem a “Collecção Benedicto Ottoni”. Para saber mais sobre a Collecção Bemedicto Ottoni consultar https://www.bn.gov.br/explore/colecoes/benedicto-ottoni.

Apresentou algumas pequenas divergências na numeração. O primeiro exemplar que se tem notícia foi publicado em 25 de dezembro de 1864, dia que se comemora o Natal, e recebeu a designação numérica de ano 1, número 1. O número dois foi publicado no mês seguinte, em 20 de janeiro de 1865. Após pausa de três anos o periódico reaparece, em uma nova fase, retomando, entretanto, a numeração inicial, ano 1, número 1, com um diferencial, não indica dia e mês de publicação dos exemplares, apenas o ano, 1868.

Nessa nova fase são publicados 14 exemplares. A numeração de suas páginas é sequencial, isto é, não inicia a numeração a cada novo exemplar. E passou a ser editado pela Typographia do Diario do Rio de Janeiro, que estava localidada na rua do Ouvidor, nº. 97.

Na diagramação do cabeçalho do periódico, as quatro primeiras palavras do título “A Voz do christão”, aparecem grafadas em destaque na parte superior na capa. Logo abaixo, dividindo ao meio as palavras sequenciais do título, “na terra da santa Cruz”, está o desenho de uma cruz cercada de arabescos e traços que a tornam majestosa.

Na nova fase da publicação, iniciada em 1868, o desenho da cruz localizado na capa é substituído pelo desenho de um homem de roupas longas, com o indicador direito apontando para o céu, e com uma auréola circundando sua cabeça. Atrás um pequeno morro encimado por uma cruz. O desenho representa Jesus Cristo nos apontando o caminho traçado por Ele a partir de sua morte em cruz.

Em todos os fascículos lemos a seguinte epígrafe, localizada logo abaixo do título e dividida entre os lados direito e esquerdo do desenho da cruz: “Eu lhes communiquei // A vossa palavra:// A vossa palavra// É a verdade. S. João, cap. 17, v.1, eg.”. A informação de que o periódico foi escrito pelo Dr. Mello Moraes também aparece em todos os fascículos.
Medindo 24 cm x 15 cm, A Voz do christão foi diagramado em uma única coluna, tal qual um livro. Os tipos de letras variam entre os títulos. Foi utilizado com frequência linhas para separação dos assuntos.

O texto inicial salienta a importância da religião e do preparo do homem ao passar por esta vida:

Em um tempo, em que o interesse é o elemento primordial da sociedade humana; em que o sceptismo parece invadir tudo; e que a Religião é mais um sentimento de ostentação, que de fervorosa piedade; uma Vox se deve ouvir no meio do povo, que lhe lembre a necessidade que tem de consagrar algum tempo ao Culto de Deos; porque, sendo a vida material puramente transitória, e a espiritual infinita e eterna, tem o homem na passagem terrestre, de se preparar, para ser bem recebido na presença de Jesus Christo, que o tem de julgar!


Os colaboradores encontrados nas páginas da publicação, além do Redator Mello Moraes são o padre Antonio Vieira (1608-1697), Costa e Silva e Macedo Med.

Destacamos, a seguir, um poema do Visconde da Pedra Branca (1780-1855) que saiu publicado no primeiro exemplar. Visconde da Pedra Branca era o pseudônimo de Domingos Borges de Barros. Foi Conselheiro do Imperador Pedro I, oficial-mor da casa real, servindo como veador (camarista) da Imperatriz D. Amélia de Leuchtemberg, sua segunda esposa, sendo também membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro desde sua fundação.
A morte é refrigerio da desgraça,
É para o justo a noite de um bom dia,
A morte espanta só quando pensada,
A morte é nada; a eternidade é tudo.
Cercado estou de túmulos... abri-vos
Reino da morte, abrigo do infortúnio!
De chimeras caducas, desengano.
Erguei-vos mestas, pavorosas lousas!
Ossos myrrados, lívidos despegão,
Fetidas carnes, podres ligamentos,
Que impuros vermes em silencio passem
Ascosos, restos de formosas fórmas.
Eis os profundos admirados sábios,
Os reis altivos, grandes e temidos!
Nem teus visos belleza aqui se estremão.

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