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A Chrysalis

por Maria Ione Caser da Costa
A Chrysalis veio a lume no dia 10 de fevereiro de 1900 no Rio de Janeiro. Sua redação funcionava na rua dos Andradas, 15 e o redator era A. C. Setubal.

Abaixo do título lê-se “publicação semanal”, informação que, entretanto, é contradita por outra do expediente que informa ser a publicação quinzenal, como de fato terá acontecido a se considerar os quatro exemplares encontrados na Biblioteca Nacional. Além do mencionado acima, o acervo guarda os fascículos de números 6, 10 e 13, publicados em 7 de maio, 18 de julho e 15 de outubro de 1900, respectivamente.

O texto de apresentação, ‘Programma’ tem ficção idealista, tanto para a missão e propósitos da publicação, quanto para o perfil dos seus, expressando suas expectativas ao lançamento da publicação:

Dizem que neste mundo há lugar para todos; por isso ousamos apparecer.
Nos esforçaremos para, juntando o util ao agradavel, satisfazer o favor publico, tanto mais que só exigimos d’elle grande somma de benevolência e boa vontade para ler-nos.
Os assignantes d’ “A Chrysalis” seão sempre os mesmos, pois não se exige reforma de assignatura. Além da parte litteraria que escolheremos á capricho, damos aos nossosleitores uma secção de annuncios, que lhes será mais proveitaveldp que a verve que envenena a actualidade.
A “Chrysalis” poderá ser lida pelos olhos mais puros e sua leitura ouvida pelos ouvidos mais castos. Faremos o possível para agradar ao publico sem nunca nos atolarmos no lodaçal da política. Estando ao alcance de todas as bolsas, este jornalzinho conta ter innumeros leitores.
Appareceremos duas vezes por mez e nos será satisfação sabermos que nos tornamos desejados. Isso nos dará forças para continuação da nossa tarefa.
A “Chrysalis agradece desde já, o favor com que pensa será distinguido.


Nos dois últimos exemplares A. Solraco foi o responsável pela redação. Também as letras que grafam o título foram totalmente modificadas. Nos dois últimos exemplares elas se apresentam rebuscadas e floridas, como que se as folhas estivessem enraizadas entre as letras, formando um arranjo de folhagens.

O Grande Hotel Familiar do Globo é apresentado em todos os exemplares com notícias, propagandas de página inteira e relação de hóspedes, além de pequenos anúncios entremeando as matérias. O endereço do hotel é o mesmo do periódico. Seria A Chrysalis uma publicação do hotel voltada para os hóspedes?

No número dez temos duas informações na “Seção livre”: A primeira é:

Setubal & C. havendo comprado o estabelecimento denominado Grande Hotel Familiar do Globo sito a Rua dos Andradas ns. 15, 17 e 19, com todo o seu activo, convida as pessôas que têm mallas ou quasquer outros objectos n’esse estabelecimento a virem retirar os ditos até 31 do corrente epocha em que serão vendidos para pagamento das respectivas dividas.


E a segunda...

Antonio Candido Pereira, proprietario do estabelecimento denominado “Grande Hotel Familiar do Globo” á rua dos Andradas n. 15, declara ter vendido o mesmo, livre e desembaraçado de qualquer ônus e com todo o seu activo, composto de todos os moveis e utensílios existentes nos prédios ns. 15, 17, 19 e 16 da rua da Conceição aos Srs. Setubal & C., para os quaes pede aos seus amigos e freguezes a protecção, pois encontrarão nos novos proprietários a mesma boa vontade e dedicação.


Os colaboradores encontrados em A Chrysalis são considerados expoentes da literatura. Podemos pensar então que o Grande Hotel Familiar do Globo seria um reduto de letrados à época. São eles Dr Alfredo Gomes, Anastacio de Bomsuccesso [sic.], Arthur de Azevedo, Borges de Soveral (1860- ), Cezario Verde (1855-1886), J. Dias, Joaquim Norberto de Souza e Silva (1820-1891), Sérgio Cardoso, Silva Ferraz e Vital Fontenelle.

De Borges de Soveral, que era cirurgião dentista, transcrevemos o poema publicado no primeiro exemplar.

Soneto

O que pensar do corpo que animado
De vida e de prazer, moveu-se em dia
E que entregne depois á campa fria.
Dos humanos apenas foi lembrado?

Julgas, acaso, tu, que transformado
Em nada foi, ou cousa sem valia.
E que um átomo, só, dos que trazia,
Das leis da creação foi retirado?

Não, não penses assim; Si para os vivos
Não tem as mesmas formas corporaes,
Já não conserva os mesmos attractivos,

Transformado em productos, designaes
Nos prova, com certíssimos motivos
Que as obras do Senhor são immortaes!

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