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America Latina: revista de arte e pensamento

por Maria Ione Caser da Costa

América Latina: revista de arte e pensamento foi lançada na cidade do Rio de Janeiro em agosto de 1919 e circulou até fevereiro de 1920. A redação e administração funcionava no segundo andar da rua Gonçalves Dias, 56. Foram seis números publicados em cinco fascículos. O terceiro corresponde a dois meses – outubro e novembro de 1919, e recebeu numeração dupla:  números 3 e 4.  A Biblioteca Nacional possui toda a coleção.


Concebida por Tasso da Silveira (1895-1968) e Andrade Muricy (1895-1984), jovens paranaenses de formação católica, como eles mesmos fazem questão de registrar. No seu trabalho de editores, trouxeram o ideário simbolista para a literatura publicada em América Latina.  Publicaram juntos uma série de outros títulos de periódicos, sempre contando com a participação de personalidades do meio literário brasileiro da época. Era um grupo de colaboradores que se dedica à divulgação das artes em geral, inclusive da arte literária, em sua maioria integrantes do Cenáculo.


Após a publicação de América Latina, Tasso da Silveira em parceria com Rocha de Andrade lançam, em agosto de 1922, Árvore nova: revista do Movimento Cultural do Brasil. A seguir, em companhia do intelectual português Álvaro Pinto (1889-1957) e também com a colaboração de Andrade Muricy, Tasso da Silveira publica Terra de sol: revista de arte e pensamento, que circulou de janeiro a junho de 1925. Posteriormente retornando a parceria com Andrade Muricy, lança a revista Festa: mensário de pensamento e arte, que se tornaria famosa. A maioria desses títulos pode ser consultada  neste dossiê.


O nono exemplar da revista Festa, lançado quase dez anos depois de América Latina, em 15 de junho de 1928, traz um texto de Tasso da Silveira, Cateretê nº 5 para sanfona e violão, em que o ideário da revista é lembrado:


“América Latina” foi uma campanha viva por uma expressão brasileira na arte e na vida. Lá vem, naquelles poucos numeros saídos, a palavra doutrinaria de Andrade Murucy e do rabiscador destas linhas em prol de um esforço neste sentido. Já açi se invoca ardentemente Whitman, que os graçaranhistas haviam de descobrir três ou quatro annos mais tarde. Já ali se fala de Tagore. De ambos, como portadores de um verbo novo, de um grande verbo de estimulo...


O editorial que apresenta a revista América Latina, assinado por “A direcção” explica a escolha do título e aponta os ideais nacionalista e espiritualista que culminaram com o surgimento da publicação:


Os povos têm, como os individuos, o seu particular temperamento. E um temperamento é um destino. Como nenhum individuo, povo algum chegará a realizar o maximo de suas possibilidades se falsear o seu temperamento proprio, se “torcer a sua vocação”, se não souber defender o seu espirito.


Nós somos, em maioria no continente americano, um aggregado de povos cujas arterias corre o mesmo sangue latino rejuvenescido. Temos, por isto, pelo menos grandes semelhanças de temperamento, isto é, temos um destino commum, uma missão muito nossa a desempenhar. Mas só o faremos integralmente se podermos comprehender as leis de nossa vida e manter intacta nossa alma. [...]


“America Latina” vem para isto, para este apostolado de confraternização espiritual e cordial. Nos limites da patria brasileira, será uma publicação integralmente nacionalista. No circulo mais vasto das nações, será o orgão de defeza do espirito latino-americano.


Nota-se a tentativa  de seus editores em fortalecer o intercambio cultural entre o Brasil e os países da América Latina. Um intercâmbio que se dá principalmente através da repercussão e comentários sobre a revista argentina Nuestra America. A revista,  publicada em Buenos Aires com textos de intelectuais hispano-americanos, trazia conhecimento e informação da literatura daqueles países para o povo brasileiro de um modo geral.


Entre os muitos colaboradores da revista brasileira América Latina estão Alexandre Beltrão, Andrade Bezerra, Andrade Muricy, Jackson de Figueiredo, José Augusto, Lima Barreto (1881-1922), M. Nogueira da Silva, Mario de Alencar (1872-1925), Maximino Maciel, Nestor Victor, Pontes de Miranda, Ribeiro Couto, Rocha Pombo, Silvio Sheleder, Thenudo Lessa , Xavier Marques e Zeno Silva. Especialmente no que se refere a publicação de poesia, estão poetas de todas as estirpes e não apenas simbolistas, entre os quais Alberto de Oliveira (1857-1937), Emiliano Pernetta (1866-1921), Felix Pacheco Gilka C. M. Machado (1893-1980), Gomes Leite, Hermes-Fontes (1888-1930), Honorio Armond, Laura da Fonseca e Silva, Murilo Araujo, Silveira Neto (1872-1942), Tasso da Silveira (1895-1968), dentre vários outros colaboraram com seus poemas.


 

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