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Archivo litterario: jornal familiar, variado, critico e recreativo

por Maria Ione Caser da Costa

O Archivo litterario foi um semanário que veio a lume no Rio de Janeiro circulando entre os meses de agosto e dezembro de 1863. Como o título anotava, seus compromissos eram, especialmente, com os assuntos literários. Sua coleção limitou-se a 17 números, que podem ser encontrados na Biblioteca Nacional, à exceção das edições 15 e 16. Curiosamente, apesar de se colocar como um periódico literário recebeu o longo subtítulo de jornal familiar, variado, critico e recreativo que nos aponta para a exploração dos mais diversos temas e mais, que assuntos literários eram importantes entre os assuntos tratados em família.


A Typographia do Escorpião foi o estabelecimento tipográfico responsável pela impressão do Archivo litterario, estando localizada na rua do Regente, 20, um dos endereços que recebia pedidos de assinaturas. Os outros eram a rua Nova Ouvidor, 7 e a rua da Lapa, 46. Também para estes endereços podiam ser endereçadas as contribuições para o periódico, como informava o cabeçalho, abaixo do título: “Recebe todo e qualquer artigo litterario para ser publicado uma vez aprovado pela redação”. A partir do número 4, de 13 de setembro de 1893 ele seria impresso pela Typographia Econômica, sendo dela a responsabilidade de publicação até o número 11, de 1 de novembro de 1863. A partir desta data, o periódico seria responsabilidade da Typographia Popular de Azeredo Leite.


Os valores das assinaturas variavam da Corte para as Províncias. Para estas ultimas os valores eram de 9$000 para a assinatura anual, de 5$000 a semestral e de 3$000 a trimestral; para a Corte, os valores eram menores: 8$000 a assinatura anual, 4$000 para a semestral e 2$500 para a trimestral. A publicação não apresenta valor para a venda avulsa.


Archivo litterario saia aos domingos, em edições semanais. Suas reportagens e matérias tinham como objetivo idealizado contribuir para que o país conseguisse se equiparar ao resto do mundo, produzindo uma literatura digna de uma nação civilizada. Essa ideia que ligava desenvolvimento de nação e desenvolvimento das letras era uma das bases do texto de Ferdinand Denis, sobre a influência da natureza nos trópicos sobre a poesia, de 1824. Texto que repercutiria no escrito considerado fundacional do romantismo no Brasil, de Gonçalves de Magalhães, publicado na revista Nitheroy: revista braziliense, em 1836. O conceito de literatura do século XIX ainda não tinha o sentido que conhecemos hoje, estava em construção, tendo o jornalismo um papel muito importante nisso.


Os proprietários do periódico eram Antonio Arnaldo Nogueira Molarinho e Francisco José Alves Guimarães. O editorial de apresentação, assinado por “A Redação”, assim se inicia:


Entregamos hoje nas mãos do publico o primeiro numero deste mesquinho periódico conhecemos a insuficiente intelligencia que possuímos para redigirmos um jornal litterario porem também reconhecemos a bondade do povo fluminense, XXXX em suas mãos com uma folha que deseja um fim licito.


Não somos litteratos, nem pretendemos tal fora, unicamente somos ambiciosos por dar-mos publicidade aos nossos fracos pensamentos, e que estes julgados pelo publico e por este censurados, emendaremos os erros que nós não conhecemos.


A decadencia em que as bellas letras jazem magôa-nos sinceramente, e para que haja um pequeno estimulo áquelles que devião erguel-a do nada em que permanecem foi a causa principal da apparição do ARCHIVO LITTERARIO.


Francisco José Alves Guimarães só permaneceu na sociedade do Archivo litterário nos três primeiro números. A partir do número 4, publicado em 13 de setembro, passa a colaborar com o outro proprietário, Molarinho, o Sr. Antonio José Carneiro Guimarães, que permaneceu até o número 12, publicado em 07 de novembro. O número 13 editado no dia 15 de novembro apresenta como novo proprietário Antonio José Carneiro Guimarães. Nesta edição, Manoel Antonio Major desempenhou a função de redator. De um modo geral, estes eram, cada um a seu tempo, responsáveis por muitas colaborações no periódico, assinando seus artigos com os próprios nomes, eventualmente substituindo o nome por sua inicial, ou ainda, utilizando pseudônimos.


Este é o caso de Antonio Arnaldo Nogueira Molarinho que utilizou diferentes modos de assinar seus textos, um deles o pseudônimo Carlos, como fica claro no número 13 de 15 de novembro de 1863. Naquela ocasião, o editorial avisa que o senhor Molarinho abandonou a redação levando consigo a palestra, deixando a redação em dificuldades de finalizar a edição do periódico:


Mais uma innovação vem cooperar nos acontecimentos do nosso jornal; é por certo uma daquellas casualidades, que surgem nas noutes do tempo; isto quer dizer: o Sr. A. Molarinho abandonou a redacção do jornal levando comsigo a palestra com que incomodou assas os assignantes e deixando-nos á sós com os difficeis trabalhos a que temos de fazer frente; [...]


Como alguns exemplares da coluna Palestra traziam a assinatura de Carlos, pode-se concluir se tratar da justamente dele, embora esta afirmação não apareça em nenhum dicionário biobibliográfico.


Como era comum na época, alguns colaboradores, escritores ou intelectuais utilizavam, além do nome próprio, pseudônimos ou iniciais de seu nome. A relação a seguir apresenta mais de uma forma de assinatura para um mesmo nome: Arnaldo Molarinho, Carlos, Antonio Arnaldo Molarinho, G. Junior, Gusmão Junior, Arlindo de Freitas, José Antonio Fernandes da Fonseca, José Ribeiro de Sá, Josephina R. Q. P., Alves Guimarães, J. B. G. Lobo Pitta, Luis de Sousa, J. F. Antunes, J. B. G. Pitta, Josephina R. L. Pitanga, A. M., Carlos de Gusmão, José Correa Peneda, F. Leonardo, Manoel Antonio Major, J. D. C. Mello Guimarães, M. C. de Almeida e J.A.R. de Rezende. Sem contar o número de colaboradores que optavam pelo anonimato.


Variedade, Folhetim, Anedoctas, Enigma, Litteratura, PoesiasPalestra são os nomes de algumas seções que aparecem no Archivo litterario.


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