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Brazil-moderno: revista mensal de artes e lettras

por Maria Ione Caser da Costa
Brazil-moderno: revista mensal de artes e lettras teve seu primeiro número editado em maio de 1906 na então Capital Federal, o Rio de Janeiro. Seu lançamento foi sob a direção de Levi Autran e João Vigier Filho. Na função de diretor secretário estava J. d’Alvear e como gerente Ildefonso Costa. No segundo exemplar Levi Autran e J. d’Alvear foram substituídos por Hermes-Fontes (1888-1930). Os exemplares apresentam a informação: “Propriedade de uma empreza”.

A exceção do primeiro exemplar, as dez páginas iniciais dos demais fascículos são destinadas as propagandas. Ocupando página inteira ou meia página, elas são apresentadas com cercaduras simples ou duplas, e alguns arabescos, proporcionando um bonito visual. Podem ser encontrados anúncios de tônicos fortalecedores e musculares, seguradoras, construtoras, oficinas de gravura, casacaria e também de vinhos.

Com uma média de 54 páginas cada exemplar, o número avulso era vendido por $500. A assinatura anual valia 5$000 para a capital e 6$000 para os estados, e a semestral custava 2$500 na capital e 3$000 nos estados.

Nos primeiros exemplares a redação da revista funcionava na rua do Hospício, 97. Do número 7 ao número 11 o escritório da redação mudou-se para a Avenida Central, 90. O exemplar seguinte, que recebeu numeração dupla 12/13, a redação estava em outro endereço: rua do Rosário 43. Nos números 14 e 15, o endereço da redação passa a ser na rua Uruguaiana 89 e no número 14, muda para a rua Sete de Setembro, 145.

Uma coleção relativamente grande para os moldes da época. Publicou seis números em 1906 e dez números em 1908. No ano de 1907 não publicou nenhum exemplar, entretanto não existe qualquer notificação sobre a ausência da revista em qualquer parte da publicação. No ano de 1909 foram publicados cinco exemplares. Nos três anos seguintes foram publicados somente seis ou sete exemplares, a coleção da Biblioteca Nacional apresenta alguns hiatos.

Publicação com características simbolistas, constam em suas páginas crônicas, poemas e notícias das mais variadas áreas do conhecimento. Em cada exemplar é homenageado uma personalidade do mundo literário ou político, ou ainda uma instituição de um estado do Brasil. Seus editores, na busca de “um jornalismo pátrio”, tentaram contribuir para o desenvolvimento da vida intelectual de seus leitores.

O estado de Minas Gerais e suas personagens principais são apresentadas de forma frequente e regular em Brazil-moderno. Como exemplo, o texto de Olavo Bilac intitulado Minas, que aparece publicado no exemplar número 7, de janeiro de 1908.

A capa, que se repete em todos os exemplares, apresenta um desenho a nanquim de K. Listo (1877-1957), datada de 1906. Uma mulher sentada, vestida com um traje longo e os cabelos enfeitados por um adorno de folhas de louro. A mão direita em riste, segura uma pena que sugere escrever em um grande livro que a mão esquerda segura. Aos pés, na lateral esquerda o esboço de uma prensa.

Cada um dos exemplares traz em suas capas e páginas de rosto seu sumário. Brazil-moderno teve a colaboração de pessoas engajadas e que muito fizerem pela literatura no nosso país: Affonso Celso, Cruz e Souza, Emiliano Pernetta, Francisca Serra, João do Rio, Joaquim Nabuco, Mucio Teixeira, Olegario Mariano, Raymundo Corrêa, Rocha Pombo, Silveira Netto, Thobias Barreto, são alguns destes nomes. Entretanto pouco ou quase nada foi encontrado sobre a revista Brazil-moderno em nossas pesquisas na web. Presume-se ser essa publicação uma fonte inesgotável para possíveis futuras pesquisas.

A seguir o poema de Guimarães Passos (1867-1909) com o título de Soneto.

Soneto

Amo, e conheço a esquiva criatura,
Que, há tantos annos! É o meu só tormento.
Não se aparta de mim, um só momento,
E nunca um sómento me procura.

Vejo-a, e não sei se a vejo, ou se a figura
Della, é que vejo só, no pensamento,
Tantas conversas eu com ella invento,
Que, ás vezes, creio ser verdade pura.

Julgo-me amado, quando um olhar lhe alcanço,
Porem seus olhos a paixão escondem,
E eu vejo o acaso nelles me illudindo.

Sigo-a por toda a parte, a todo o instante,
Seus passos aos meus passos não respondem,
Vão com ella fugindo, e me fugindo...

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