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Heraclito: jornal sisudo e semanal

por Maria Ione Caser da Costa

Heraclito, periódico que trazia como subtítulo, ‘jornal sisudo e semanal’, foi lançado no Rio de Janeiro, a 8 de setembro de 1867, e findado presumivelmente em 26 de dezembro do mesmo ano. Era editado pela Typographia Perseverança, localizada à rua do Hospício, 91.


A coleção existente na Biblioteca Nacional parece estar completa, sendo composta por 16 fascículos. Os exemplares receberam a designação numérica de ano 1, sendo que os fascículos aparecem numerados em romanos. Outra curiosidade sobre a publicação diz respeito às informações sobre o ano que a publicação foi lançada: somente no número IX, de 3 de novembro,  aparece o ano de publicação, 1867, reaparecendo nos exemplares XIV, XV e XVI. A partir do número XIII, de 30 de novembro, o periódico passou exibir com uma ilustração na última capa, apresentando um cenário e o diálogo dos personagens envolvidos.


No primeiro editorial, os editores apresentam seu periódico da seguinte forma: “Exma. Sra. D. Opinião Publica – No vapor Publicidade segue para ahi o Sr. Heraclito, que tomo a liberdade de lhe apresentar. Espero que o admitta  á sua convívencia, e não se ha de arrepender porque a sua conversação é muito interessante e agradável”.


E no “Programma”, informam suas intenções, num víeis esclarecedor da perspectiva satírica que adota no diálogo com seus leitores:


Heraclito depois de alguns annos de viagens pelo outro mundo volta a este e seguindo o exemplo geral fez-se litterato. Em tempos que já lá vão o seu forte era chorar, agora vai rir. E ha tanto de que neste valle de..... risos. [...] Heraclito não chamará os seus assignantes de intelligentes leitores ou amaveis leitoras: não por desconsiderar a intelligentes leitoras e os amáveis leitores, mas por estar a tal amabilidade já muito sediça.


Tratará, além de muitas outras cousas, de diversos assunptos, dos mais palpitantes de interesse e actualidade, e nunca mentirá exceptuando quando faltar á verdade.


A última matéria publicada no PE da página 4 do fascículo V, de 5 de outubro,  informa que as assinaturas eram recebidas na loja dos livreiros franceses, “casa de Fauchon & Dupont, rua de Gonçalves Dias, n. 75, onde também se vende avulso”.


A diagramação de texto foi feita em duas colunas separadas por um fio simples vertical, demarcando  as colunas, conferindo uma boa mancha de texto. Logo abaixo do título leem-se os nomes dos “redactores principais – Nós Tres”.  A partir do número III, de 21 de setembro, em editorial com o título “Attenção”, encontra-se a informação: “A propriedade deste jornal, desde o dia 16 do corrente, fica pertencendo á firma Nós Três Comp., que toma a si o activo e o passivo da extincta firma Nós Tres". Logo abaixo dos nomes dos redatores, entre dois fios negritos que funcionam como olhos  encontram-se as “condições da assignatura: trimestre 3$000”. E as informações: “paga-se adiantado por causa dos calotes” e “distribui-se depois de impresso. Gratis, aos assignantes”. Tudo dentro de uma concepção nada séria, imersa completamente no mundo da troça e da brincadeira.


Em suas quatro páginas por edição, além de poesias, Heraclito publicou folhetins e artigos com textos jocosos sobre as peças teatrais em cartaz, e sobre as notícias da época. Sua periodicidade era semanal, distribuindo-se aos domingos. A partir do número XIX, publicado em 12 de dezembro, a distribuição passa a ser às quintas-feiras. As seções fixas eram: Theatralhoada, Talitres e Telegramas do Heraclito. Os colaboradores não utilizavam o nome próprio ao assinar seus textos, optavam pelo pseudônimo como: Solange, Guttemberg, Rothshildoff & C., G. F. e P. S. foram alguns deles.


A seguir o soneto Já sabiam?..., publicado no número X de 10, de novembro de 1867,  assinado por O. A grafia original foi mantida.



Já sabiam?...


Da casa d’um livreiro que se sobra
Todos nos conhecemos, - Cruz Coutinho,
Sai brevemente á luz um folhetinho
A cujos funeraes a Fama dobra.

Romano é o seu author, romana a obra;
Assim fora o juízo do póbrinho
Que, pequeno, acanhado e mui tezinho,
Na primeira investida cae, sossobra.

A chamada Influencia é uma farça:
O sec’lo dezenove não é mula
P’ra retoiçar assim em qualquer sarça.

Dizem que a coisa em si é chocha e nulla,
E que o ratão pretende, mas disfarça,
Ganhar as indulgencias e uma bulla.
Ano 1, n.X, 10 nov 1867.

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