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Jardim litterario: semanario variado, poético e recreativo

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico Jardim litterario: semanário variado, político e recreativo foi publicado no Rio de Janeiro pela Typographia Economica, que estava situada na rua dos Latoeiros número 34. A partir de 1865 a rua dos Latoeiros recebeu o nome de rua Gonçalves Dias, que permanece até hoje.

Na Biblioteca Nacional só existe um exemplar desta publicação, o número 19, publicado no dia 21 de agosto de 1864 em quatro páginas. Medindo 31 cm x 22 cm, encontra-se na Coordenadoria de Publicações Seriadas e pode ser consultado a partir de seu formato digital. Não foram encontrados outros exemplares nas pesquisas efetuadas até o momento.

O cabeçalho informa que Jardim litterario é “propriedade de uma associação” e sua publicação acontece aos domingos. São informados também os valores para assinatura e os locais onde as mesmas poderiam ser efetuadas: “para a côrte 2$500 por trimestre; para as provincias 6$000 por trimestre. Assigna-se nas ruas do Regente n. 17 e Conde n. 22, armarinho, onde deve ser endereçada toda e qualquer correspondencia”.

A ausência dos primeiros números da coleção nos impede de formatar aqui a ideia central de seu programa, bem como os caminhos que os editores pretendiam traçar. Entretanto, ao ler o editorial deste exemplar, nota-se que é uma resposta a um periódico homônimo, editado em Portugal.

Estavamos no firme propósito de não dar importancia aos zoilos que nos agridem de emboscada.
Contra nossa vontade quebramos o silencio, em attenção aos nossos assignantes e ao publico.
O Portuguez, quando encetou sua publicação, desenrolou o seu programa no qual se lia – defensor e pugnador dos direitos dos portuguezes – hoje, porém, isto é, desde que alguns analphabetos se quizerão elevar á altura de Reis, o órgão de nossos compatriotas, tornou-se um pelourinho, aonde qualquer homem, mesmo, sem ser Major, pode impunemente agredir seus adversarios!! [...].
Terminamos com os seguintes versos imitação de Novaes:
Periodico, que tudo publica, /Ainda mesmo sem graça/ Que em suas collumnas critica, / De papelucho não passa. / Que aos superiores censura, / Não dura!
Mancebo, que o tempo gasta, / P’ra padre, leis estudando / Suppondo-se inteligência vasta, / Em tudo elle ousando, / Metter a sua foice, / Dá coice!
Litterato que começa, / Tudo a esmo criticando, / Sem que suas forças meça, / Em prosa tudo fallando / Talvez sabendo pouco, / É louco!


Em suas páginas, diagramadas em três colunas, são encontrados poemas, romances, excertos de peças teatrais e charadas. Algumas linhas e vinhetas separam os assuntos.
Colaboram em Jardim litterario: Antonio José da Fonseca Moreira, M. Ribeiro Valente e L. B. C. Freitas de quem destacamos o poema “Eu parto”.

Eu parto

Venho, donzella, de ti me apartar,
Em rude canto um adeus te dizer,
Venho, donzella, chorando pedir-te,
Perdão das offensas que te fiz soffrer!

Venho pedir-te, já que eu parto,
Mais uma prova de teu amor,
Ah! da-me uma lembrança tua,
Para que eu viva sem sentir dor.

Assim, donzella, partindo contente,
De ti, levarei terna saudade.
Parto mas talvez que algum dia,
Farei comtigo [cic] minha felicidade.

Parto vou para longe daqui,
Carpir penas que me pungem a alma,
Vou no meu destino recordar o amor,
Que em meu peito não encontra calma!

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