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O Espiritismo: orgão dedicado ao estudo da verdade

por Maria Ione Caser da Costa
O Espiritismo: órgão dedicado ao estudo da verdade foi uma publicação periódica que veio a lume no dia 26 de outubro de 1881. Sua redação e tipografia localizava-se à Rua do Hospicio 127, no Rio de Janeiro.

O número avulso foi vendido ao preço de 40 rs informa o expediente. Não há informações sobre o valor para assinaturas.

A coleção da Biblioteca Nacional é formada pelos três números, em sequencia e não foram encontrados vestígios de continuidade. A publicação circulou duas vezes por semana.
Medindo 25 cm x 18 cm, com quatro páginas, ela foi diagramada em duas colunas separadas por um fio simples.

Os textos divulgavam o espiritismo, ensinando sobre a doutrina e a verdade daquela religião. Nenhum dos textos apresenta autoria. O editorial do exemplar de lançamento conclamava ao respeito entre as diversas crenças:

Todas as crenças são boas!
Eis o dístico que deviao ter os estandartes dos três poderosos exércitos que começão a ferir a renhida luta no campo de Marte: Espiritismo, Materialismo e Positivismo.
Se esse dístico transparecesse nos estandartes tremulantes dos fenômenos que se vão manifestar, ou por outra, já começarão a manifestar-se aos olhos da humanidade errante,
Se esse dístico refletisse nas vistas de todo o combatente, a luta seria intelectual e todos caminharião com mais afan para verdade, porque todos tratarião de chegar ao fim da viagem encetada, isto é, ao campo da verdade.
Se todos tivessem esse dístico gravado no coração a luta seria de amor, humildade e caridade.


O texto é uma grande defesa da paz entre as pessoas de fé, idealizando um mundo melhor, caso todas as pessoas tentassem contribuir para o bem-estar recíproco. Faz um epítome sobre o sentido da crença: “Toda crença é o estudo da filosofia; a filosofia é a sciencia, a sciencia é a investigação da verdade, a verdade é luz, a luz irradia-se, a irradiação vem do Creador, que é, para o Spiritista: Deos. Para o Materialista: Natureza. E para o Positivista: Acaso”.

No terceiro exemplar, em artigo intitulado A imprensa e o nosso periódico, o autor informa sobre a receptividade de seu periódico para o público em geral e, especialmente, apresenta um pedido de desculpas por não haver cumprido um dos rituais mais importantes no meio da imprensa: divulgar e agradecer aos pares, eventuais comentários de reconhecimento.

Sendo o redactor, proprietário, compositor, único escritor e revisor desta folha, um só homem, faltou a um dever dos mais importantes, para quem estuda a verdade: a cortesia para com seus semelhantes na imprensa, aos quaes pede desculpa e roga, dado o caso que queirão possuir o Espiritismo, poderão mandal-o buscar á nossa redação, emquanto não se esgotar pois lhe será dado. Poderão tambem estudal-o detidamente e mandar-nos as suas luzes, assim como já o fez essa folha.


Percebe-se, no texto, que a revista O Espiritismo deveria ter sido produzida e escrita por uma única pessoa, situação comum ao tipo de publicação efêmera, editada artesanalmente. Um tipo de produção que, apesar disso, fez parte importante da constituição da imprensa brasileira e, no caso específico, é uma marca da presença da doutrina espírita na cultura brasileira. Não se pode esquecer que, anos depois em 1904, João do Rio, publicaria As religiões do Rio, mostrando a proliferação de crenças na cidade e na região em torno da capital federal.

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