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O Iambo: semanario critico e litterario

por Maria Ione Caser da Costa

Surge no Rio de Janeiro, a 5 de julho de 1865, um periódico com o título O Iambo. Um periódico do campo literário, como o próprio subtítulo sugere e- seu editorial afirma:


“Deixariamos de escrever este pequeno artigo se não reconhecessemos a necessidade de dar uma introdução a este nosso pequeno jornal. [...] Sem essa vil roupagem de lisonja, que degrada o homem, nós apresentamo-nos taes quaes somos – humildes e sinceros – e em nossa rude, mas honesta linguagem, nós criticaremos tudo que de critica for digno. Como deixamos dito, ocupar-se-ha tambem o nosso humilde jornal de litteratura, […] esperamos os jovens talentosos aos quaes offerecemos as columnas d’este semanario.”


Tendo como proprietários Boaventura de Souza Pacheco e Antonio Ferreira Monteiro, com periodicidade semanal, saindo aos domingos, tem seus primeiros exemplares impressos na Typ. do Portuguez, à rua do Cano, 167. Os números onze e doze são impressos na Typ. do Iambo, à rua da Ajuda, 89. Com número avulso vendido a 160 réis, apresenta valores diferenciados para assinatura, com um preço para a Corte e Niterói e outro para a Província, que poderiam ser feitas por um ano, três ou seis meses.


O Iambo  publica artigos, crônicas, charadas e poemas, em sua maioria sem a identificação de autoria ou assinadas por pseudônimos. Publica também  folhetim que, nos primeiros números é intitulado “As duas primas”, traduzido do francês por José Joaquim Ribeiro Lima. Em quase todos os artigos nota-se uma inflexão que pretende um diálogo com o leitor.


A Biblioteca Nacional possui os números 1, 2, 9, 11 e 12 do ano 1. Destacamos, a seguir, um poema intitulado “Ao teu tormento” de autoria de J. B. G. L. Pitta, publicado no exemplar de número 12, datado de 27 de setembro de 1863:





Ao teu tormento

Perdeste a infancia e com ella a crença
Só a descrença sentes tu nest’alma
Junto a meu peito acharás as flôres
Às tuas dores eu darei-te calma.

As tristes magoas que teu peito encerra
Não tens na terra quem te imite? Oh! flor
Perdestes a gloria sem achar a palma
Ao peito calma no viver de horror.

Ao soffrimento, que teu peito sente
Sempre virente acharás as flores
Mais busca um peito que t’adore, anjo
Terás, archanjo, lenitivo às dores.

Sentes perdida a união querida
Sem ter na vida quem te dê perdão,
Busca a meu lado, acharás conforto,
Ameno porto sem te dar traição.

O propio Deos não perdôa, fada?
Quem póde, amada, o perdão negar?
Negro futuro amarguradas vezes
Não póde às vezes o infeliz salvar?

Quando estenderes a mirrada mão
Pedindo um pão, na pobreza esteja,
Ah! é preciso que o soffrer fatal
Nos tenha igual ou eu morto seja.

Rôxa grinalda offertarei na lousa
onde repousa de meu sonho a flor
As minhas preces no lamentar sentido
É o gemido do meu triste amor.

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