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Planalto: orgam dedicado aos interesses de Santa Luzia, do Planalto e de Goyaz

por Maria Ione Caser da Costa
Planalto, revista que veio a lume na cidade de Santa Luzia, no estado de Goiás em 1º de janeiro de 1937, teve como objetivo principal de sua criação, preservar e divulgar o patrimônio cultural e literário do planalto central do Brasil. Em suas páginas vemos a defesa, com galhardia, dos interesses do município goiano, inclusive com a publicação mensal de palavras do vocabulário da língua tupi. Cinco anos depois, a cidade de Santa Luzia passa a denominar-se Luziânia, e é um dos municípios mais populosos do estado, localizando-se próximo ao Distrito Federal.

Gelmires Reis (1893-1983), historiador goiano e membro da Academia Goiana de Letras, foi o diretor de Planalto. O escritor e intelectual Joaquim Gilberto (1905-1985) e o professor e poeta Balthazar dos Reis (1901-1976), foram os redatores. Austregesilo Reis desempenhou a responsabilidade da gerência do periódico. A redação e administração localizava-se à rua do Santissimo, número 14.

Os fascículos ainda não estão digitalizados. Os originais encontram-se na Coordenadoria de Publicações Seriadas e não se encontram em bom estado de conservação.
Em um extenso parágrafo, os editores apresentam a nova revista:

PLANALTO se apresenta. É uma publicação matuta. Revista de gente sertaneja, como se vê pela rusticidade de sua feição. Seu advento é a consequencia logica do imperioso desejo de fazer qualquer coisa pelo recesso deste Brasil bonito e ignorado. Na pobreza de sua indumentária, Ella vem vindo, assim, meio desconfiada, sem geito, como gente humilde em festa de rico. Publicação sertaneja apresenta, sem duvida, defeitos e faltas que cahem, de golpe, á vista do leitor. Entretanto, a intransigencia de nossa vontade não quiz ver essa vexatória condição e por isso sahe com o primeiro numero de PLANALTO. O impenitente amor ao sertão e á gleba nativa anima a feitura de suas paginas, votadas aos interesses da terra que encontramos talhada em ossaturas de grupiáras vazias. Depois de colher das boccas escancaradas das lavras despojadas de seu ouro, as ingratas licções da precariedade de uma economia destructiva do tempo das bandeiras, queremos com esse angustioso aprendizado estimular o espírito de trabalho constructivo, com bases racionaes na lavoura intensiva, na pecuaria e nas industrias adequadas ao setão. Propugnar, assim, pelas colunas méstras em que deve se assentar nossa actividade econômica e conseqüente bem estar social.


A seguir informam que Planalto se manterá “inteiramente afastada de qualquer partidarismo politico, como tambem abster-se-á de quaesquer insinuações de caracter personalíssimo.” E despedem-se “desejando a todos fartas mésses de venturas neste 1º de janeiro de 1937”.

Como mencionado no editorial, é possível notar que a publicação foi confeccionada em papel de baixa qualidade. As capas possuem a mesma diagramatura das páginas, apenas com uma coloração diferente. Cada fascículo foi grampeado na lateral, dificultando e colocando em risco a integridade do papel. Foi impresso em duas colunas. Uma particularidade do primeiro exemplar: na direção vertical, separando a primeira coluna da segunda, em cada página, aparece o nome da revista, o número, a página e a data da edição. Exemplo da página 2: “PLANALTO, numero 1, pagina 2, em 1º de janeiro de 1937”. A partir do terceiro exemplar (a BN não possui o segundo), estas informações foram colocadas no cabeçalho e rodapé de cada página.
No verso da capa as informações pertinentes ao título: “publicação mensal” e “estritamente dedicada aos interesses de Santa Luzia, do Planalto e de Goyaz”; o valor das assinaturas: anual valia 20$000, semestral, 11$000. O número avulso era vendido por 2$000. Em seguida a seguinte nota:

Aceitam-se quaesquer collaborações reveladoras das riquezas de Goyaz. Não se devolvem autographos, nem se toleram pseudonymos. Como incentivo á juventude estudiosa, ficam abertas paginas especialisadas para as usas produções. Usa-se a ortographia mixta.


O verso da última capa tinha uma coluna intitulada Página escolar, e o local era destinado as “collaborações dos alumnos de nossas escolas”.

Notícias, contos, poemas, efemérides goianas, são alguns dos itens encontrados nas páginas de Planalto, bem como o demonstrativo mensal da receita e despesas da Prefeitura Municipal de Santa Luzia, costume utilizado pelos órgãos públicos de então.

Os colaboradores Abner Mattos, Antonio Caldas (P), Austregesilo Reis, Baltazar dos Reis, Camara Filho, Carlos Machado, Coelho Netto, Dercilio Campos, Gelmires Reis, Guiomar de Grammont Machado, Joaquim Gilberto, Jorge Salomão de alguma forma enriqueceram as páginas da revista.

Os exemplares deste título encontram-se na Coordenadoria de Publicações Seriadas da Biblioteca Nacional, e ainda não foram digitalizados. Lá podem ser encontrados, microfilmados, os fascículos de outra coleção com o mesmo título, no formato de jornal. Planalto, também publicado na cidade de Santa Luzia, deve ter iniciado em 1911. A coleção da BN inicia em 1913 com o ano 3, indo até o ano 7, em 1916. Herculano C. Meirelles, Evangelino Meirelles (1882-1922) e Trajano Meirelles foram os responsáveis por este jornal, que circulou por mais de cinco anos, indo até novembro de 1915.

Uma curiosidade: no exemplar número 7, publicado em 1º de julho de 1937, encontra-se o seguinte pedido: “Façamos o tumulo de Evangelino Meirelles, o maior dos luzianos de todos os tempos”. Uma menção a um dos fundadores de Planalto, o periódico que anteriormente circulara com o mesmo título deste em questão.

Finalizamos com o poema intitulado Saudade, de Antonio Caldas, publicada na página 18, no exemplar número 18 de 01 de junho de 1938. Cabe registrar que nenhuma informação foi encontrada na web sobre este autor, mas nas páginas de Planalto são publicados vários poemas de sua autoria.

Saudade

Saudade, ah! a saudade, meu amor,
É a nossa alma varanda pela dor!
São as casinhas brancas do villarejo,
O nosso derradeiro e ultimo beijo!
Depois! Repica o sino da estação,
Como se nelle pulsasse um coração!

Um apito do chefe!! e... a
Locomotiva parte, vomitando fogo;
grita! escandaliza! e põe em jogo
meu pobre coração ajoelhado
no cadáver de meu sonho roubado!

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