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Periódicos Religiosos na Hemeroteca Digital Brasileira

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Palco de Conflitos

por Rodrigo Basile
O século XIX viu florescer intensas discussões entre ciência e religião. Pesquisas acerca da evolução das espécies, como as do naturalista Charles Darwin, colocaram em xeque as afirmações tradicionais da religião. Esse embate foi fermentado também dentro do campo da fé, onde espiritismo e catolicismo, sobretudo, se confrontaram.



Livro sobre as viagens do naturalista Charles Darwin, a bordo do navio Beagle, intitulado Narrative of the surveying voyages of His Majesty's ships Adventure and Beagle, between the years 1826 and 1836, describing their examination of the southern shores of South America, and the Beagle's circumnavigation of the globe: v. III. London [Londres, Inglaterra] : Henry Colburn, 1839.

A imprensa se mostrou, assim, uma espécie de “campo de marte” para os conflitos de ideias e credos que se estabeleceram entre esses dois principais oponentes. A hegemonia religiosa (e, por assim dizer, de visão de mundo) era um objetivo a ser alcançado em uma época de contestação de valores tradicionais e o surgimento de novas ideias.



Manchete do jornal A Ordem enaltecendo o fracasso de uma suposta tentativa de golpe comunista liderada pela frente de esquerda Aliança Nacional Libertadora (ANL) que houvera ocupado suas redações, paralisando as impressões de suas tiragens. Periódico A Ordem (RN). Edição 0107. 01/12/1935.

O espiritismo fora rotulado pela Igreja Católica como heresia e prática de bruxarias, assim como demais tidas como execráveis. Através dos periódicos católicos, sistemáticos ataques foram feitos à fé rival que, claro, se utilizou do mesmo palco para se defender e rebater. À época da fundação dos primeiros grupos espíritas do brasil – em meados do século XIX – foi fundado o primeiro periódico sobre o tema no país, o Écho d'Alêm-Tumulo. Como uma mola propulsora, o jornal foi sucedido por uma série de outras publicações, que foram vistas com muito entusiasmo para a expansão da doutrina e uma ferramenta de combate e defesa contra as investidas católicas.



Periódico espírita Écho d'Alêm-Tumulo. Edição 01, julho de 1869.

A importância da imprensa religiosa cresceu a ponto de haver mais investimentos nela do que na edificação de novos templos, desenhando assim dois novos conceitos: o de Boa Imprensa e o de Má Imprensa. Cada um deles foi utilizado de uma forma por cada um dos lados. Enquanto o primeiro encarnava a fé que se defendia, o outro, por extensão, materializava a fé oposta. Através de seus editoriais de imprensa, catolicismo e espiritismo buscaram espraiar e legitimar sua fé, tentando autenticar os fenômenos que apresentavam: milagres, santidades, mediunidades e, acima de tudo, comportamentos sociais.

Dentro desse contexto do comportamento social, uma discussão se tornou recorrente: o contraste entre ostentação e humildade. Espíritas, numa forma de reagir às acusações de que suas ideias eram insanas, acusaram os católicos de serem corrompidos ao luxo e não praticar a caridade de Deus como deveriam. Na visão deles, a Igreja Católica se afastava de Deus cada vez que transformava suas ações em balcões de comércio. Desqualificar visões de mundo diferentes tornava-se um dos modi operandi desse tipo de imprensa.

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