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Até o desembarque solene da comitiva real em Salvador, às cinco horas da tarde do dia 24 de janeiro, a América portuguesa era em toda a sua extensão uma incomensurável plaga fechada aos estrangeiros. Formada pelo Estado do Grão-Pará e Rio Negro, administrado por um Governador-Geral em Belém, e pelo Estado do Brasil, por um vice-rei no Rio de Janeiro, esse interdito fez com que a gente, a terra, a fauna e a flora dos “Brasis” estivessem envoltas de mistérios.

Ao longo do século XVIII, naturalistas como o prussiano Alexander von Humboldt e o inglês Joseph Banks foram impedidos, sob pena de cárcere, de adentrar o continente vedado. Era todo um mundo à espera de ser descoberto e estudado a partir da abertura dos portos em 1808, de forma que grande parte da iconografia reunida nesta exposição foi produzida a posteriori, uma licença anacrônica necessária para revelar o Brasil que D. João abriu diante de uma ausência quase absoluta de arte profana colonial, o que tornava a América portuguesa historicamente invisível a olhos não portugueses.

O Conde-Príncipe João Maurício de Nassau-Siegen, no período em que governou o Brasil Holandês (1637-1644), foi o responsável pela única janela aberta sobre o Brasil pelos artistas profissionais, naturalistas e cartógrafos que trouxe consigo. Uma expedição que só encontraria paralelo com a vinda da Missão Austríaca de 1817.

Coube ao humanista Caspar Barlaeus publicar esta saga em 1647: História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil e noutras partes sob o governo do ilustríssimo João Maurício Conde de Nassau. Trata- se de uma obra testamento que contou com a colaboração direta, entre outros, do artista holandês Frans Post para as ilustrações, e foi durante 160 anos a principal referência sobre paisagens e costumes brasileiros na Europa.

O livro de Barlaeus seria citado pelo naturalista alemão Maximilian zu Wied-Neuwied, um príncipe renano que chegou ao Rio de Janeiro em 1815 e viajou dois anos pelo interior do Brasil, como sendo ainda a grande fonte sobre a América portuguesa antes de sua viagem.

A repercussão desse livro pode ser compreendida pelo número de vezes com que foi editado e traduzido, inclusive em uma edição italiana de 1698 patrocinada pelo Rei de Portugal e realizada em Roma pelo Frei João José de Noronha, conhecido por Santa Teresa.