ACLAMAR
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ACLAMAR
Foi em 5 de novembro de 1817 que se deu o primeiro grande acontecimento após a criação do Reino Unido: o desembarque da Arquiduquesa Leopoldina de Habsburgo, filha do Imperador da Áustria, no Rio de Janeiro. Ao contrário da chegada da Corte portuguesa, o evento pôde ser pintado por Jean-Baptiste Debret, o artista mais célebre da chamada Missão Francesa, e posteriormente gravado por Simon Pradier em Paris para sua divulgação na Europa. Deu-se com ela a confirmação do reconhecimento da Corte portuguesa nos trópicos pelas potências europeias.
Parodiando mais uma vez A Tempestade de Shakespeare, a futura Imperatriz do Brasil, como uma angelical e prestativa “Ariel”, tornar-se-ia a nora dileta de D. João VI, que desde 1816 era o Rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil e Algarves. Mesmo constrangida ao assistir ao “beija-mão” no Paço, a culta e loura princesa mostrou-se de grande valia para o monarca e a legitimação do reino que adotara.
O apogeu do Reino Unido dar-se-ia com um atraso de dois anos, seja pela Revolução Pernambucana, seja pela tão esperada vinda de Dona Leopoldina. Ao ser aclamado – os monarcas portugueses não eram coroados – Rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil e Algarves, Dom João teve, vestido à maneira dos reis do Antigo Regime, a ilusão de consolidar seu império a partir do Rio de Janeiro. Ao registrar o acontecimento, no interior do Paço da Cidade, Debret mostra, porém, uma cena sombria, quase macabra, de um rei afogado em seu trono no outono de seu reino. O francês também lembra, com certa ironia, que caciques botocudos vieram do sertão com seus paramentos de pele de tamanduá, mas que tiveram de cobrir a nudez com calças de algodão azul.
Teria sido apenas uma construção de aparências, como o júbilo popular diante da varanda da aclamação montada na fachada colonial do Convento do Carmo, que passara a valer. A grande arquitetura que deveria acontecer na oficialmente recém-criada capital americana do Império português “onde o Sol nunca põe” -- de onde pretendia-se governar territórios espalhados pelos cinco continentes -- seria, com raríssimas exceções, efêmera, arcos de triunfo de “papier-maché”. A aclamação significaria um Brasil que estava sendo “construído”, ou “inventado”, no início do século XIX, quando na verdade estava sendo reconstruído e reinventado apenas no imaginário e na visão de mundo das elites de então.
Parodiando mais uma vez A Tempestade de Shakespeare, a futura Imperatriz do Brasil, como uma angelical e prestativa “Ariel”, tornar-se-ia a nora dileta de D. João VI, que desde 1816 era o Rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil e Algarves. Mesmo constrangida ao assistir ao “beija-mão” no Paço, a culta e loura princesa mostrou-se de grande valia para o monarca e a legitimação do reino que adotara.
O apogeu do Reino Unido dar-se-ia com um atraso de dois anos, seja pela Revolução Pernambucana, seja pela tão esperada vinda de Dona Leopoldina. Ao ser aclamado – os monarcas portugueses não eram coroados – Rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil e Algarves, Dom João teve, vestido à maneira dos reis do Antigo Regime, a ilusão de consolidar seu império a partir do Rio de Janeiro. Ao registrar o acontecimento, no interior do Paço da Cidade, Debret mostra, porém, uma cena sombria, quase macabra, de um rei afogado em seu trono no outono de seu reino. O francês também lembra, com certa ironia, que caciques botocudos vieram do sertão com seus paramentos de pele de tamanduá, mas que tiveram de cobrir a nudez com calças de algodão azul.
Teria sido apenas uma construção de aparências, como o júbilo popular diante da varanda da aclamação montada na fachada colonial do Convento do Carmo, que passara a valer. A grande arquitetura que deveria acontecer na oficialmente recém-criada capital americana do Império português “onde o Sol nunca põe” -- de onde pretendia-se governar territórios espalhados pelos cinco continentes -- seria, com raríssimas exceções, efêmera, arcos de triunfo de “papier-maché”. A aclamação significaria um Brasil que estava sendo “construído”, ou “inventado”, no início do século XIX, quando na verdade estava sendo reconstruído e reinventado apenas no imaginário e na visão de mundo das elites de então.