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Séculos XIX e XX

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Séculos XIX e XX

Em 1751, Belém se tornou a sede político-administrativa do Estado do Grão-Pará e Maranhão, devido à sua posição geográfica estratégica e importância econômica na região. As relações políticas eram essencialmente com Portugal, e isso provocou um distanciamento em relação à outra porção do território colonial, o chamado Estado do Brasil.


No século XIX, porém, o progresso, a urbanização e algumas missões científicas iriam subtrair a Amazônia de seu isolamento. Com a independência, a elite local, estreitamente ligada a Portugal, se viu deixada de lado, e houve um movimento de resistência. A emancipação só seria reconhecida após ameaça de invasão por d. Pedro I, em 15 de agosto de 1823. A adesão à independência é considerada o marco da identidade brasileira no Pará.


Para os mais pobres e os escravos, a expectativa de que a independência provocasse mudanças foi frustrada. Esse descontentamento gerou a revolta conhecida como Cabanagem, que tomou Belém e se espalhou por toda a Amazônia, envolvendo índios e quilombolas. Um governo popular foi instalado e se manteve até 1838, quando a capital foi conquistada novamente pelas forças legalistas. Os conflitos duraram até 1840.


Belém se destacava por sua importância comercial. Para ela convergiam os artigos destinados à exportação, sobretudo goma elástica e drogas do sertão, assim como derivados da pecuária de Marajó. Apenas uma parte – açúcar, cachaça, melado, fumo e borracha – era cultivada nos arredores da capital. E, como escoadouro da produção do interior amazônico, o porto de Belém recebia inúmeras embarcações fluviais.


Dos produtos oriundos da selva, um deles iria marcar profundamente desde meados do século XIX a economia da região: a borracha. Entre as condições que propiciariam o desenvolvimento da atividade gomífera na região estavam a implantação de um sistema de transporte a vapor, que faria a interligação do interior com Belém e com a Europa, a implantação de firmas exportadoras e a construção de um porto para o escoamento do produto.



A partir da segunda metade do século XIX, Belém experimentou notável crescimento econômico. Os altos preços conseguidos pela borracha no mercado internacional impulsionaram a economia local e a modernização da cidade, expandindo seus limites, inovando sua arquitetura. Toda a produção da Amazônia, praticamente, era escoada para o restante do Brasil pelo porto de Belém.


Com o aumento da exportação, o antigo trapiche de madeira, característico dos portos amazônicos, se tornou obsoleto. Em 1906, a companhia Port of Pará recebeu a concessão para modernizá-lo. O engenheiro norte-americano Percival Farquhar (1864-1953) esteve à frente do empreendimento, que foi inaugurado três anos depois, em 1909.



Uma nova elite belenense havia se constituído nas primeiras décadas do século XX como efeito da rendosa exploração da borracha. Houve intensa circulação de objetos importados e mudanças na arquitetura, bem como a tentativa, por parte das camadas mais abastadas, de assimilar práticas culturais da Europa.


A remodelação da cidade, em decorrência da movimentação do porto, promoveu a valorização do bairro comercial, contribuindo para a transferência das residências das famílias mais ricas para bairros como Nazaré, Umarizal e Batista Campos. As reformas incluíram a arborização da cidade e o serviço de viação urbana por bondes elétricos, além de alargamento das ruas, construção de longas avenidas e de praças suntuosas.


Um dos lugares mais famosos de Belém, contudo, permaneceu quase inalterado durante mais de trezentos anos. Criado no antigo porto do Piri, o emblemático mercado de Belém tem a alcunha de Ver-o-Peso, devido a sua função: era o lugar de pesos e medidas, onde se “via o peso” e se taxavam os gêneros para venda.