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Ditadura

Passados dois anos do golpe militar de 1964, Caio Prado Júnior publica sua mais pujante obra, A revolução brasileira, que lhe renderia prêmios, críticas, adesões e detrações advindas das mais variadas partes do espectro ideológico.

Uma das grandes contribuições desta obra está na revisão crítica que faz da estratégia de seu partido, o PCB, e seus equívocos em termos de apoio político. Segundo Caio Prado, o pragmatismo político-aliancista do partido baseava-se numa leitura histórica distorcida do desenvolvimento do Brasil.

O Brasil era visto pelo PCB como uma nação ainda com resquícios feudais, e o partido acreditava na necessidade de uma transição para a próxima “etapa” nacional-burguesa rumo ao comunismo, uma leitura da teoria marxista que Caio Prado considerava dogmática. Discordando da tese do Brasil feudal, entendia que a revolução é, antes de tudo, um processo trabalhado segundo as especificidades de cada sociedade. Conhecer estas especificidades seria a chave para aqueles que se propusessem transformá-la.


Prêmio Juca Prato

Devido à repercussão da publicação de A revolução brasileira, Caio Prado Junior foi eleito o intelectual do ano de 1966, recebendo o prêmio literário Juca Pato, concedido anualmente pela Folha de S. Paulo e pela União Brasileira de Escritores.

Em seu discurso de agradecimento ao Prêmio Juca Pato, observam-se as críticas dirigidas não somente aos militares no governo, mas também a muitos economistas e sociólogos que, encerrados em seus gabinetes, desconhecem e deturpam a realidade brasileira ao defender a ideia eufêmica de que o Brasil é um país “em desenvolvimento”.

Posto em evidência pelo prêmio e pelas discussões em torno de sua obra, Caio Prado foi perseguido pelo regime militar.


Prisão e Julgamento

Embora tivessem o mesmo sobrenome, Caio Prado Junior e Antônio P. Prado Júnior não eram aparentados, como sugere erroneamente a primeira notícia. Antônio nunca trabalhou na Editora Brasiliense, mas numa publicação estudantil do curso de Filosofia da USP, Revisão, na qual Caio Prado Junior fora entrevistado em 1967. Na ocasião, ao ser indagado a respeito da luta armada, defende a ideia de forma particular – embora nunca tivesse sido um defensor ferrenho da via revolucionária, ele admite que, se porventura o proletariado enfrentasse o regime e o imperialismo por este caminho, caberia à esquerda organizada a função de fornecer os meios, ou seja, o armamento.

Por causa dessa entrevista, Caio Prado é processado por crime contra a Lei de Segurança Nacional. Condenado em março de 1970, permanece na prisão por um ano e meio, quando, finalmente, é absolvido por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal.