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Introdução a Historica Cartographica Brasilis

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Introdução a Historica Cartographica Brasilis

A Exposição Historica Cartographica Brasilis in Biblioteca Nacional propõe ao visitante, em síntese ordenada, um panorama do processo histórico da cartografia no Brasil.

Para alcançar esse propósito, decidiu-se mostrar, em linhas gerais, a evolução da cartografia do Ocidente. Por isso, a exposição principia com a Antiguidade Clássica, a Geografia de Estrabão, geógrafo e historiador grego. Estende-se pela Idade Média, com o Mapa T-O, cujo exemplo aqui integra às Etimologias de Santo Isidoro de Sevilha, o tipo mais comum e chega ao Renascimento, período em que a ciência cartográfica experimenta um grande impulso, decorrente da invenção da imprensa, das descobertas ultramarinas e da redescoberta da Geografia de Ptolomeu (manual de elaboração de mapas com as coordenadas geográficas). Nesse contexto, destacam-se os planisférios da Geografia de Ptolomeu e da Crônica de Nuremberg, publicados pouco antes da chegada dos europeus ao Brasil.

A partir do século XVI, inicia-se, então, a cartografia histórica do Brasil com as primeiras representações que fazem parte dos planisférios ou mapas das Américas nas edições da Geografia de Ptolomeu e obras de viajantes. Essas representações do Brasil possuem ilustrações de cenas indígenas, fauna e vegetação, informações obtidas, a princípio, através de Américo Vespúcio, que acompanhou as primeiras expedições portuguesas ao território brasileiro, e, mais tarde, através de viajantes e navegadores. A cartografia desse período registra, também as primeiras denominações do país: Terra de Santa Cruz, Terra Incógnita, Antropófagos, Terra dos Papagaios e Brasil. São mapas produzidos por cartógrafos como Ruysch, Waldseemüller, Ortelius, Ruscelli, Forlani, Gastaldi e Hulsius. Ainda no século XVI, começa a preocupação com as investidas dos franceses na costa brasileira. Exemplos desses episódios encontram-se nos mapas de Gastaldi, expondo o escambo entre os navegadores franceses e os indígenas brasileiros, e nas obras do religioso e cosmógrafo André Thevet, que acompanhou Nicolas Durand de Villegagnon na época em que esteve no Rio de Janeiro, com a fundação da colônia França Antártica.

Entre 1580 e 1640, Portugal fez parte da União Ibérica, sob a dinastia Filipina. Assim, todas as colônias portuguesas pertenciam também à Coroa espanhola, o que favorecia a presença de franceses, ingleses e holandeses no litoral norte e nordeste brasileiro. Para defender os domínios ibéricos na América, a Coroa filipina possibilitou que os luso-brasileiros ultrapassassem os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas, avançando em direção ao delta do Amazonas. Essas conquistas estão registradas na cartografia portuguesa do século XVII, dos notáveis astrônomos Cochado e Albernaz I, mostrando as fortalezas construídas e as cidades fundadas, além de indicarem as fortificações inglesas e holandesas destruídas.

Referente ainda ao século XVII, exibe-se a cartografia manuscrita portuguesa, com as cartas de Antônio Vicente Cochado, Antônio Sanches, João Teixeira Albernaz I e seu neto João Albernaz II. Todos os mapas detalham topônimos localizados no litoral com riqueza, desde Belém até o rio da Prata. Merece, entretanto, destaque o mapa do Brasil de Albernaz II (1666) por, além de possuir, como os outros, grande quantidade de topônimos na costa brasileira, ressaltar a cidade de São Paulo e, no sul do território, as missões jesuítas.

A exposição não poderia deixar de mostrar a belíssima cartografia holandesa do nordeste do Brasil, entre 1624-1654. Dessa coleção, o mapa escolhido foi Perfect Caerte der Gelegentheyt van Olinda de Pharnambuco Maurits-stadt ende t’Reciffo, confeccionado por Cornelis Golijath, considerado o melhor da produção cartográfica sob o domínio holandês no nordeste Brasileiro.

No século XVIII, apresenta-se um esboço sobre o desbravamento no interior do Brasil pelos luso-brasileiros, que faz parte do conjunto “Cartas Sertanistas” (Cortesão, 1957-1971). Esses rascunhos, existentes na Biblioteca Nacional, indicam missões jesuíticas destruídas por sertanistas e/ou bandeirantes e caminhos em busca de riquezas minerais no interior do Brasil.

Ainda do século XVIII, encontra-se também a cartografia francesa que passa a predominar nesse período com a fundação da Academia Real de Ciências por Colbert e com a construção do observatório astronômico em Paris. Dentre os cartógrafos escolhidos, destacam-se Guillaume de L’Isle e Jean Baptiste Bourguignon d’Anville, autor de uma das melhores cartas setecentistas representando a América do Sul. Já a notoriedade de Guillaume de L’Isle se deve ao fato de ter observado erros dos portugueses nos cálculos das longitudes do Brasil. Membro da Academia Real de Ciências da França, Guillaume de L’Isle, em 1720, notou que os cálculos portugueses ultrapassavam os domínios lusitanos na América do Sul conforme o Tratado de Tordesilhas. Como se sabe, as Coroas ibéricas buscaram uma solução para a questão de fronteiras dos seus domínios na América Meridional. O resultado dessas negociações foi o Tratado de Madri, assinado em janeiro de 1750.

Faz parte da exposição uma das cópias originais do Mapa das Cortes, documento cartográfico que serviu de base para o tratado. Assim, foram formadas comissões mistas de levantamento e demarcação de fronteiras das regiões norte e sul na América Meridional. Portugal e Espanha contrataram especialistas (cosmógrafos, astrônomos, militares e outras categorias) de diversas nações europeias para exercerem tais tarefas. Desses trabalhos, elaborou-se uma quantidade significativa de documentos cartográficos (mapas, vistas, relatórios, diários). A exposição expõe parte desta coleção produzida pelos integrantes dessas comissões mistas do lado português.

O século XIX inicia com duas folhas do atlas manuscrito Guia dos Caminhantes, confeccionado por Anastácio de Santana, em Salvador (1817). A primeira, folha de rosto, contém dados geográficos e uma vista panorâmica da cidade de Salvador. A segunda é o mapa do Brasil com o norte direcionado para a margem direita. Além de didático, esse atlas representa uma das primeiras iniciativas do mapeamento do Brasil. Nesse período, cresce a produção cartográfica. São compostos mapas de províncias e do território nacional, planos topográficos, levantamentos hidrográficos dos rios, das bacias do Amazonas e do Prata e cartas de fronteiras. A exposição mostra esses mapas do Brasil elaborados e/ou dirigidos por engenheiros militares e civis importantes para a história da cartografia.

No século XX, após solucionar diversas questões de fronteiras ao longo de quatro séculos, e já com o território nacional configurado, o roteiro finaliza com a Carta geographica do Brasil, nas escala 1:7.500.000, publicada pelo Clube de Engenharia, em 1922, em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Esse mapa é a redução da carta do Brasil na Carta Internacional do Mundo ao Milionésimo, confeccionada conforme os padrões internacionais estabelecidos no Congresso Internacional de Geografia, em Paris, em 1913.



 

 

Maria Dulce de Faria
Fundação Biblioteca Nacional




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