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Giovanni Battista Piranesi

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Giovanni Battista Piranesi


Nascido em Veneza em 1720, filho de um construtor, Piranesi recebeu formação em cenografia e perspectiva com o gravador Carlo Zucchi. Arquiteto e amante da arqueologia, dedicou-se à gravação dos grandes monumentos da Antiguidade romana, realizando um trabalho de grande magnitude e força expressiva num estilo livre, cenográfico e impetuoso. Suas gravuras são modeladas pela luz, em perspectiva manipulada, que trasborda por vezes a quadratura das mesmas. As figuras humanas são atemporais, apenas esboços, ao estilo de Callot e de Della Bella.

Piranesi produz suas primeiras vedute de Roma em pequeno formato para guias de turistas, e em 1743, publica as suas primeiras 12 águas-fortes, Prima parte di architettura e prospettive. Inicia uma carreira de cerca de quarenta anos, durante a qual produziu mais de mil pranchas publicadas em 19 obras pela sua própria casa impressora. Seu estilo é inconfundível e sua arte aponta para a estética do sublime, deixando transparecer a tensão entre razão e sensibilidade. Faleceu em Roma em 1778.

A magnífica série Le carcere d’invenzione é um exemplo fascinante da inquietação e da genialidade do artista. Nela, propõe estruturas espaciais fantásticas num espaço experimental labiríntico, no qual não existe um ponto de vista fixo e central, nem uma perspectiva linear a ser seguida. Com as emoções à flor da pele, nosso olhar, ao contemplar essa série à água-forte, flutua sem descanso, observando os arranjos espaciais na proliferação de perspectivas, nos desdobramentos espaciais, no vaivém de escadas, pontes e passagens. Observamos, inquietos, a luz provocar e produzir escuridão, e as paredes absorverem-na sem refleti-la, assim como notamos os raios de luz que deixam seu percurso natural para se curvarem sobre os objetos. Nessas gravuras, a noções de proximidade e de distância são abolidas, e o tempo e o espaço se fundem. Passado, presente e futuro parecem não existir. Piranesi fala de um outro lugar e de um outro tempo, levando-nos a uma interioridade pouco confortável, em que nos deparamos com nossos mais sutis temores, que não sabemos nominar.

O termo veduta se aplica a pintura, desenho ou gravura que representa uma cidade, um monumento ou um lugar com concepção acentuadamente topográfica. As vedute têm sua origem nas peregrinações a Roma no século xviii, no tempo de redescoberta da Antiguidade: Herculano, em 1719, e Pompeia, em 1748.

Seus maiores inovadores foram Canaletto, Guardi e Piranesi, que transformou a vista gravada para souvenir de turistas intelectuais e aristocratas num sofisticado meio de comunicação erudita de grande carga expressiva. Assim, pratica a veduta direta, ou de reconstituição fidedigna, segundo fontes documentais, e a veduta ideata, em que a ruína serve de matéria para sua vertente apaixonada e trágica.
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