BNDigital

Vinhetas de Abertura

< Voltar para Exposições virtuais

Vinhetas de Abertura


Monteiro Lobato — As primeiras leituras e as primeiras imagens

Meu pai teve sempre o hábito de comprar livros para os filhos, apesar de todas as suas dificuldades econômicas em manter a família. Eu me lembro de ler Lobato após a leitura de meus irmãos — eu era o caçula e os livros chegavam em minhas mãos após certo tempo.

Meu pai sempre escrevia no frontispício: “Este livro pertence aos irmãos Oliveira”. Sendo assim, Monteiro Lobato fez parte do imaginário de nossa infância, assim como as ilustrações de seus livros ficaram eternizadas em minha memória. E, pela primeira vez, confesso: eu tinha um ingênuo e impossível afeto pela Narizinho. Eu a achava bonita com sua franjinha e seu cabelo chanel.

A minha geração leu Lobato com os traços do grande ilustrador paulista Belmonte (1896-1947). Além das Ilustrações dos livros de Lobato, dois outros livros despertaram o meu interesse pela imagem narrativa, e pelo sonho de um menino do subúrbio do Rio de tornar-se um dia desenhista. Foram as obras Cazuza, de Viriato Correia, ilustrado por Renato Silva (1904-1981), e as belíssimas ilustrações em bico de pena do extraordinário Álvaro Marins (Seth) (1891-1949), em seu monumental álbum O Brasil pela imagem que me alçaram a tal sonho. Na minha mais longínqua memória, me vejo sempre com o lápis e o papel na mão desenhando. Até hoje esta paixão permanece e se renova a cada dia.

Quanto ao meu trabalho como diretor de arte na novela “Sítio do Picapau Amarelo”, para um recém-formado e recém-chegado ao país, foi um grande desafio e uma importante experiência profissional que me abriu portas futuras ao meu trabalho. Quando fui chamado para participar do projeto, em 1976, eu tinha, na verdade, uma pequena experiência em videografismo. Havia feito, na própria TV Globo, as aberturas das novelas “Pluft, o Fantasminha”, “Helena” e “A Moreninha”.

A minha formação adveio do design, da ilustração e do cinema de animação. Essas três linguagens plásticas foram a base inicial para realizar todo o meu trabalho na novela. Sempre achei, e continuo pensando desta forma, que o desenho é um fundamento para o criador de imagens que contam histórias.

Aproveito a oportunidade para agradecer esta iniciativa da Biblioteca Nacional, em expor algumas artes que se fixaram no imaginário de gerações que assistiram à novela baseada na obra de Lobato. Talvez essa seja a grande função de um artista que desenha para crianças e adolescentes: criar a futura memória feliz das pessoas.


SOBRE RUI DE OLIVEIRA

Estudou pintura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, artes gráficas na Escola de Belas Artes da UFRJ e, durante seis anos, design e ilustração na Moholy-Nagy University of Art and Design, em Budapeste. Estudou cinema de animação por dois anos no estúdio húngaro Pannónia Filmstudio, também em Budapeste.

Em 1975, ano de seu regresso ao Brasil, foi contratado pela TV Globo como diretor de arte. Na TVE, atual TV Brasil, reformulou o videografismo da TV e criou dezenas de vinhetas e aberturas de programas da emissora.

A partir de 1983, passou a se dedicar unicamente ao cinema de animação, design e ilustração de livros. Já ilustrou mais de 140 livros e projetou dezenas de capas para as principais editoras de literatura infantil e juvenil brasileira.

Realizou três desenhos animados, além de ter fundado e dirigido o ANIMAGEM - Oficina de Cinema de Animação da UERJ, onde trabalhou durante sete anos. Já recebeu diversos prêmios como cineasta de animação e ilustrador de livros. Entre eles, quatro vezes o prêmio Jabuti de ilustração. Participou com seus trabalhos de inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Em 2006 e 2008, foi indicado pela FNLIJ — Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil — ao prêmio Hans Christian Andersen, conhecido como o “Nobel da ilustração”, patrocinado pelo International Board on Books for Young People - IBBY.

É professor aposentado da Escola de Belas Artes – UFRJ, onde lecionou por trinta anos no Curso de Comunicação Visual e Design. Fez o mestrado e doutorado na Escola de Comunicações e Arte da USP.

Maiores informações sobre seu trabalho:

www.ruideoliveira.com.br

www.facebook.com/rui.deoliveira.9

www.ruideoliveira.blogspot.com