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A Cruzada: diario político-religioso, litterario, commercial e noticioso

24 jul 2014

Artigo arquivado em Hemeroteca

“A idea catholica será a nota dominante do nosso jornal; a heresia e a immoralidade não encontrarão guarida nestas colunnas; porem a par dos principios santos, que adoptamos como nosso melhor brazão, estudaremos a maior franqueza os problemas politicos, que estam convulsionando a sociedade contemporanea, nem tão pouco olvidaremos a lavoura, o commercio, a industria, as lettras e as artes, em uma palavra, tudo quanto possa concorrer para o florescimento desta parte da União brazileira.

A ‘Cruzada’ conta como favor publico, porque tem a felicidade de começar a sua jornada amparada por escriptores conhecidos e experimentados nas luctas fecundas da intelligencia, e acredita que terá a sympathia e o auxilio das almas generosas e dos corações patriotas, porque vai collocar-se ao lado dos opprimidos”.

Católico, moralizador, preocupado com os problemas que estavam “convulsionando a sociedade contemporânea” e “ao lado dos opprimidos” – este o perfil desejado pelo maranhense A Cruzada, tal como se apresentou ("O nosso Programa"), na primeira edição, de 11 de outubro de 1890. Durante um período trazia sempre duas epígrafes. À esquerda, um versículo, de valor um tanto polêmico, de S. Mateus: “Quem não é comigo, é contra mim”; à direita, o dístico “Deus, pátria e liberdade”. Também em sua primeira edição o jornal fazia duras críticas ao governo do marechal Deodoro da Fonseca (o primeiro da República), chamando-o de ditadura.

O jornal também criticou o elitismo do projeto da primeira Constituição da República: “Infelizmente, o projecto já em parte sanccionado pela Dictadura e cuja integra tem de ser apresentada a approvação do congresso, está muito aquem do ideal de uma constituição digna d’este nome (...). Entre estes destaca-se á primeira vista o que priva do direito do voto dos cidadãos que não sabem ler, ou, por outra, a massa quase total do nosso povo”. A Constituição, que entraria em vigor em 1891, tornava o Estado laico e institucionalizava o casamento civil, minimizando o poder da Igreja Católica.

Com tiragem inicial de dois mil exemplares e circulação de segunda-feira a sábado, essa publicação reservou, por um bom tempo, a primeira página para anúncios e informações de utilidade pública. A seção “Indicações permanentes” informava diariamente os nomes e endereços dos párocos, médicos, advogados, cartórios e dos órgãos e serviços públicos e boticas da capital maranhense. Nas páginas internas, predominavam anúncios, notas diversas, obituários, resultados das loterias. Havia também a coluna “Folhetim”, onde se publicavam textos literários. A coluna Prosas e Glosas, na página 2, era a voz do jornal.

A partir da edição 334, de 25 de novembro de 1891, desapareceu do subtítulo o termo “religioso”, passando A Cruzada a ser um “Diário Politico, Litterario, Commercial e Noticioso”. Em algum dia do ano de 1892, o jornal viveria uma “2ª phase”, tal como aparece na edição 111 de uma nova numeração, e que vem a ser a primeira desse ano existente no acervo da Biblioteca Nacional. O jornal certamente mudou de dono, de orientação (tornou-se republicano) e de endereço, mudando da rua da Paz para a rua da Palma. Mais tarde a redação voltaria para o antigo endereço.

A coleção da Biblioteca Nacional abrange os números 1 a 35 (este último de 21 nov.1890); 68 (2 jan. 1891) a 439 (2 abr. 1892) e 111 (1º set. 1892) a 212 (31 dez. 1892). Há lacunas, portanto, dos números 36 ao 67 e também entre o primeiro número da nova fase do jornal, quando ele se torna “órgão federalista” (iniciada em meados de 1892), e o número 110 (provavelmente do último dia útil de agosto). O último número da coleção da BN é o 212, de 31 de dezembro de 1892, não havendo informação sobre a continuidade da publicação. Nesse ano as assinaturas anuais custavam 12$000 para a capital, 13$000 para o interior, as semestrais 6$000 e 7$000 e as trimestrais 3$000 e 3$500 respectivamente. Não há informação do preço do exemplar avulso. Sua tiragem era de 2.000 exemplares.