Acervo da BN | Novo Diário da Bahia: pela “República Bahiense”
por Bruno Brasil
05 dez 2020
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e marcado com as tags Bahia, Brasil Regencial, Republicanismo, Revoltas Brasileiras, Sabinada, Sabino Vieira, Secult
Ao longo da história da imprensa brasileira, muitos jornais, pasquins e panfletos foram lançados em defesa de governos, tanto locais quanto nacionais, tanto no Império quanto na República. No entanto, não só do status quo se nutriam tais órgãos: muitos foram criados e mantidos para dar base a correntes de oposição. Dentre estes, havia uma classe específica: aqueles que, radicalizando sua resistência à situação estabelecida, serviam de porta-vozes de verdadeiras insurreições, sobretudo durante a Regência, período em que muitas revoltas varreram o Brasil. Eram mais do que simples folhas de oposição: visavam mudanças estruturais no sistema político, não apenas a troca de uma oligarquia por outra. Assim, houve o periódico da Confederação do Equador. Houve o jornal da Revolução Farroupilha. Houve o diário da Revolução Praieira. E houve também o da Sabinada: nosso assunto de hoje. Conheçamos, portanto, o Novo Diário da Bahia.
Lançado em Salvador (BA) em julho de 1837, no apagar de luzes da Regência Una do padre Diogo Antônio Feijó, o Novo Diário da Bahia foi um dos periódicos da revolta separatista conhecida como Sabinada, uma tentativa de se proclamar a autônoma “República Bahiense” ao menos enquanto durasse a menoridade de D. Pedro II, liderada pelo médico e jornalista Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira Barroso e pelo advogado João Carneiro da Silva Rêgo, ambos liberais. Tal insurreição tomou conta da administração da Bahia entre 7 de novembro de 1837 e 16 de março de 1838, tendo o próprio Silva Rêgo como governador, extraoficialmente. Tal processo foi abordado, almejado e defendido pelo Novo Diário da Bahia, redigido por ninguém menos que o próprio Francisco Sabino, que, a partir de 21 de novembro de 1837, também editou O Sete de Novembro, lançado especialmente para a ocasião, na mesma clave do outro periódico. De qualquer maneira, ambas as folhas de Sabino tiveram vida curta, sendo extintas com o abafamento do movimento revoltoso e a retomada da legalidade, no início de 1838 – a última edição do Novo Diário da Bahia consultada nesta pesquisa foi a de nº 149, datada de 16 de janeiro de 1838, ao passo que o outro jornal provavelmente não passou de sua 25ª edição, de 22 de dezembro de 1837, tendo sequência no também efêmero O Novo Sete de Novembro. O nome do Novo Diário da Bahia, cabe destacar, aparentemente se inspirava na folha oficial da província, o Diário da Bahia, que circulava desde 1833, publicando atos oficiais tanto da administração oficial, deposta pela Sabinada, quanto da revoltosa, com Silva Rêgo como presidente provincial. Cabe ainda ressaltar que a todas essas folhas, contrastava-se a posição moderada de O Censor.
O Novo Diário da Bahia vinha em edições de quatro páginas distribuídas gratuitamente até meados de dezembro de 1837, quando passou a custar 20 réis o exemplar, preço aumentado para 40 réis em janeiro de 1838. Sua impressão se dava na mesma tipografia que lançava o Diário da Bahia, localizada na casa nº 6 da “quina opposta à do Aljube”, tendo F. T. d’Aquino como impressor. Assim como a compra de seus exemplares avulsos, suas subscrições podiam ser feitas na própria tipografia, ou “na loja do Sr. Santos, à rua direita da Misericórdia; e na Cidade Baixa, na casa do livreiro o Sr. Cabussú, à Fonte dos Padres”.
Nelson Werneck Sodré, no livro de referência “História da imprensa no Brasil”, reserva algumas palavras a Francisco Sabino, a seus periódicos e ao contexto político do Brasil de então, que passava pelas turbulências do Período Regencial. Referindo-se aos liberais “exaltados” da Sabinada como parte do que seria uma “esquerda liberal” da época, o historiador destaca o seguinte com relação ao momento baiano:
Por fim, cabe ressaltar que a existência do Novo Diário da Bahia, assim como a do supracitado Diário da Bahia, nada teve a ver com outro jornal, homônimo ao último e também liberal, porém lançado em 1º de janeiro de 1856, por Demétrio Ciríaco Tourinho e Manuel Jesuíno Ferreira. Mas isso é história para outro dia.

Capa padrão do Novo Diário da Bahia nos anos de 1830.
Lançado em Salvador (BA) em julho de 1837, no apagar de luzes da Regência Una do padre Diogo Antônio Feijó, o Novo Diário da Bahia foi um dos periódicos da revolta separatista conhecida como Sabinada, uma tentativa de se proclamar a autônoma “República Bahiense” ao menos enquanto durasse a menoridade de D. Pedro II, liderada pelo médico e jornalista Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira Barroso e pelo advogado João Carneiro da Silva Rêgo, ambos liberais. Tal insurreição tomou conta da administração da Bahia entre 7 de novembro de 1837 e 16 de março de 1838, tendo o próprio Silva Rêgo como governador, extraoficialmente. Tal processo foi abordado, almejado e defendido pelo Novo Diário da Bahia, redigido por ninguém menos que o próprio Francisco Sabino, que, a partir de 21 de novembro de 1837, também editou O Sete de Novembro, lançado especialmente para a ocasião, na mesma clave do outro periódico. De qualquer maneira, ambas as folhas de Sabino tiveram vida curta, sendo extintas com o abafamento do movimento revoltoso e a retomada da legalidade, no início de 1838 – a última edição do Novo Diário da Bahia consultada nesta pesquisa foi a de nº 149, datada de 16 de janeiro de 1838, ao passo que o outro jornal provavelmente não passou de sua 25ª edição, de 22 de dezembro de 1837, tendo sequência no também efêmero O Novo Sete de Novembro. O nome do Novo Diário da Bahia, cabe destacar, aparentemente se inspirava na folha oficial da província, o Diário da Bahia, que circulava desde 1833, publicando atos oficiais tanto da administração oficial, deposta pela Sabinada, quanto da revoltosa, com Silva Rêgo como presidente provincial. Cabe ainda ressaltar que a todas essas folhas, contrastava-se a posição moderada de O Censor.
O Novo Diário da Bahia vinha em edições de quatro páginas distribuídas gratuitamente até meados de dezembro de 1837, quando passou a custar 20 réis o exemplar, preço aumentado para 40 réis em janeiro de 1838. Sua impressão se dava na mesma tipografia que lançava o Diário da Bahia, localizada na casa nº 6 da “quina opposta à do Aljube”, tendo F. T. d’Aquino como impressor. Assim como a compra de seus exemplares avulsos, suas subscrições podiam ser feitas na própria tipografia, ou “na loja do Sr. Santos, à rua direita da Misericórdia; e na Cidade Baixa, na casa do livreiro o Sr. Cabussú, à Fonte dos Padres”.
Nelson Werneck Sodré, no livro de referência “História da imprensa no Brasil”, reserva algumas palavras a Francisco Sabino, a seus periódicos e ao contexto político do Brasil de então, que passava pelas turbulências do Período Regencial. Referindo-se aos liberais “exaltados” da Sabinada como parte do que seria uma “esquerda liberal” da época, o historiador destaca o seguinte com relação ao momento baiano:
Em 1832 e 1833, a esquerda liberal estava, na província, quase totalmente batida: refugiara-se na maçonaria e na imprensa. O governo de Feijó levara os seus adeptos ao desespero. Em julho de 1837, Sabino Vieira, um dos mais exaltados, lançava o Novo Diário da Bahia, que viria a ser instrumento básico da rebelião que tomaria o seu nome, empregando a linguagem desabusada do tempo. A Luz Baiana, de João Carneiro Filho, viria fazer eco ao jornal de Sabino. A 7 de novembro, irrompia a insurreição que, ilhada na capital da província, publicou um jornal, o Novo Sete de Novembro, distribuído gratuitamente à população sitiada. Esmagada no braseiro da cidade a que as tropas imperiais atearam fogo, fuzilados os responsáveis ainda no calor da luta, instalou-se, em junho de 1838, o “júri de sangue”. Sabino Vieira, exilado em Goiás, redigiu ali um jornal de que tirava apenas doze exemplares, O Zumbi, tal o rigor da repressão. Mandaram-no, então, para o forte Príncipe da Beira, cento e noventa léguas distante da cidade mais próxima, em 1844. No trajeto, na vila de Mato Grosso, colheu-o contraordem, mas preferiu ali permanecer e redigiu outro jornal, O Bororó, vindo a finar-se pelo Natal de 1846. (p. 133)
Por fim, cabe ressaltar que a existência do Novo Diário da Bahia, assim como a do supracitado Diário da Bahia, nada teve a ver com outro jornal, homônimo ao último e também liberal, porém lançado em 1º de janeiro de 1856, por Demétrio Ciríaco Tourinho e Manuel Jesuíno Ferreira. Mas isso é história para outro dia.

Capa padrão do Novo Diário da Bahia nos anos de 1830.